Rodrigo Battaglia comemora o gol marcado contra o San Lorenzo-ARG, na Arena MRV, que colocou o Atlético nas quartas de final da Libertadores -  (crédito: DOUGLAS MAGNO / AFP)

Rodrigo Battaglia comemora o gol marcado contra o San Lorenzo-ARG, na Arena MRV, que colocou o Atlético nas quartas de final da Libertadores

crédito: DOUGLAS MAGNO / AFP

Devo confessar, na mais desavergonhada cumplicidade com o raro leitor, minha atual condição de corno. A bem da verdade, um projeto de corno, já que a dor, por enquanto, advém mais do cotovelo do que da carcaça craniana. Ainda assim, já posso sentir a galhada se pronunciando, como aquele que sente o braço inteiro onde está tão somente o coto. O cotovelo não – esse dói como se fosse infarto, subindo da dita articulação até o pobre coração carcomido deste atleticano sofredor.


Não vou entrar nos pormenores, pois me envergonha a fofoca e também à minha (ex)consorte (veja a esperança se imiscuindo perigosamente naqueles parênteses, em lugar do hífen definitivo). Consorte cuja sorte, sem dúvida, foi ter posto fim ao azar que lhe acometia.


Vou logo ao paliativo mais poderoso para a dor em questão. O resolvedor de todos os problemas, o supositório da alma, a minancora do coração – o imprescritível RIVOTRIL LITRÃO, produzido exclusivamente nos laboratórios do Clube Atlético Mineiro.

 


Na terça passada, a essa altura já um ser humano transformado em réptil, rastejante, foi Battaglia quem catou os caquinhos do alquebrado colunista, cuja coluna envergara ao ponto do segundo subsolo. Tadinho dele, com certeza disse a minha mãe. Como um Brilhante Ustra, foi o Battaglia quem produziu a sessão de afogamento, num ofurô de Rivotril Litrão. Não tive saída a não ser confessar: eu te amo, meu Galo querido.


Devia ter apostado tudo nas bets, visto que “sorte no jogo, azar no amor”. Mas fui desencorajado pela coragem da amiga Milly Lacombe, que expôs as mazelas do pai, viciado em apostas. Ademais, o atleticano, esse azarado em estado de arte, está sempre sujeito ao “azar no amor, azar no jogo, sorte no azar”.


Dia seguinte, assistindo àquele outro esporte praticado por Palmeiras e Botafogo, dei-me conta da sorte que temos por estarmos nas quartas de final. Há algo de estranho no ar, e não são os meus chifres. Ainda. O Botafogo entregará a paçoca, normal. Anormal é sermos campeões sem merecimento algum, como a Itália de Paolo Rossi, o Flamengo de Wright e Aragão, o Fluminense de 2012.


Chegou a nossa vez! A minha parte estou fazendo, ao oferecer o infortúnio nesse campo do amor. Que ela não me leia, mas a Vitória pela vitória na Libertadores me parece uma troca mais do que justa, vão-se os dedos, ficam as taças, por mim tudo bem. Temo apenas pelo pequeno Davi, sujeito a transformar-se em gremista por aquelas plagas do Sul. Nunca saberá do verdadeiro amor, tadinho, e ainda sem acesso ao Rivotril Litrão, tarja preta e branca, o resolvedor de todos os problemas. No lugar de Reinaldo, Renato Gaúcho. Que tragédia.


No caminho da glória sem nenhum merecimento, eterna do mesmo jeito, o sósia de Karl Marx achou de colocar o Fluminense. É algo reconfortante para quem só gosta de ganhar merecendo. Sim, porque enquanto esse trapaceiro não voltar lá atrás e pagar a série B que ainda deve, todo castigo será merecido, toda derrota um acerto de contas.


A disputa começa hoje, na preliminar do Brasileirão, em pleno Mineirão. Fico a torcer pelo conto da literatura fantástica, um Murilo Rubião em que a grama se recusa a nascer. Técnicos são chamados a averiguar o problema, os melhores jardineiros são convocados mundo afora, xamãs são trazidos das florestas. A grama artificial, enfim a solução, é engolida toda noite pela bocarra da terra revolta. Começa a brotar do solo velhas nascentes, árvores se erguem do dia para a noite, incríveis revoadas de capacetinhos aparecem como nuvens de gafanhoto. O Galo para sempre terá de jogar no Mineirão.


Pois bem, quarta-feira tem mais. Mais uma dose, é claro que eu tô afim, a noite nunca tem fim, por que a gente é assim? O Hulk de volta. Quando tá valendo, tá valendo! Essa semana mesmo, trocando ideia com o querido Rodolfo Gropen, me peguei chorando, eita homem chorão. Falávamos dela, essa tristeza danada, mas o que rolou mesmo foram as lembranças da Copa do Brasil de 2014, aquela virada no Corinthians, eu em São Paulo, da janela, a vociferar contra a corintianada toda. E depois a virada de todas viradas no Flamengaço Classificadaço, eu no Mineirão, quase velho, e o filme da infância a passar pela cabeça, 1980, 1981.


Se mereço não sei, mas que venha a Vitória outra vez.