Na disputa entre Atlético, de Bernard, e Fluminense, de Marcelo, melhor para o time carioca, que fez 1 a 0 no jogo de ida das quartas da Libertadores, no Maracanã -  (crédito: Daniel RAMALHO / AFP)

Na disputa entre Atlético, de Bernard, e Fluminense, de Marcelo, melhor para o time carioca, que fez 1 a 0 no jogo de ida das quartas da Libertadores, no Maracanã

crédito: Daniel RAMALHO / AFP

O leitor que há mais de 13 anos, não tendo nada melhor a fazer, acompanha estes escritos sabáticos sabe da minha condição de atleticano exilado. Primeiro em São Paulo, depois na Bahia, agora de volta ao antigo Tucanistão. Por esse motivo, e por estar na companhia de Belchior, Niemeyer e Dominguinhos em nosso medo de avião, aceito a pecha de “torcedor de sofá”.

 

Muito embora não falte em meu currículo o traseiro na arquibancada, aqui e alhures, de Araras a Marrakesh, do Maracanã à Arena do Grêmio, de Varginha a Niterói, urge prestar homenagem a este sofá que tantas emoções já acolheu, além da minha bunda.

 

 

Não é um sofá qualquer. Há 20 anos, saído de uma das muitas redações em que trabalhei, a empresa ofereceu a este trabalhador precarizado um acordo que incluía roupas da Daslu e um sofá da Forma, ambos anunciantes da revista. Era pegar ou largar. Peguei, né.

 

Como o sujeito que não tem onde cair morto, mas cai em sua mão um Rolls-Royce, meu sofá da Forma foi ficando irremediavelmente puído, calotas de Chevette e tal, já que sua reforma vale uma córnea. Em todo caso, ele, o sofá, tirou a sorte grande. Ao invés de relegado à solidão das salas em mansões do Pacaembu, é a nossa arquibancada, nosso portão de número 13 nesses anos de glória.

 

 

Aboletado sobre ele, vi Riascos ir pra bola, e Víctor de bico isolar. Motivo pelo qual peguei imediatamente minha mochila, abortei uma viagem com a família sob o argumento de que “tchau, gente, nós vamo ganhar essa merda”, e me mandei imediatamente pra BH – de onde só voltei campeão, não sem antes voar para o Paraguai (onde eu estava com a cabeça pra entrar naquele míssil envolto em gasolina, com todo mundo pulando lá dentro na decolagem ao ritmo dos tambores da Galoucura??? Meu Deus...).

 

Quando cheguei de volta a SP, mais de um mês depois, era um trapo de gente, estava vestido de Atlético até as cuecas e ainda exalava as Itaipavas da Praça Sete. Apenas o sofá da Forma me acolheu com seu abraço macio, sem perguntar por quais avenidas aquele corpinho esquálido havia desfilado.

 

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No pufe da Forma, filhote que veio com o sofá, armávamos, eu e o Francisco, nossos altares do Galo. Juntávamos nele toda a tralha de faixas, galos de gesso, bandeiras de porta de estádio, velhos ingressos, mandingas, santinhos, cachecóis, o galo de Barcelos, um azeite Gallo, as minhas 90 camisas do Atlético, tudo que pudesse contribuir para a conquista dos três pontos.

 

No sofá da Forma, o Francisco chorou pela primeira vez pelo Atlético, aos 6 ou 7 anos, quando o Víctor pegou um pênalti no último minuto de um jogo contra o Cruzeiro, que tínhamos acabado de empatar. Eu, ele e a Fabi – assustadíssima com o avanço inesperado daquela patologia transmitida por mim, e que tão cedo o fazia vítima da CID 013.

 

 

De pé sobre ele, como se na capota do Rolls-Royce, celebramos o gol do Ed Carlos na virada contra o Corinthians, o 4 a 1 sinistro na Copa do Brasil de 2014. Ainda encarapitados em nossa arquibancada de assinatura, projetamos as cabeças e os troncos para fora da janela, de modo a ofender mais adequadamente os corintianos da Vila Mariana.

 

Desafio todo e qualquer torcedor de sofá do Brasil a apresentar assento mais vitorioso do que o meu sofá da Forma. Em todas as derrotas doídas da última década, minha bunda havia prescindido de seu aconchego. Melhor teria sido o carreto até o Marrocos ou a Porto Alegre, naquela final da Copa do Brasil. Jamais, em nenhum dos infortúnios diante do Palmeiras, eu me encontrava acomodado em meu trono da sorte.

 

Pois quarta-feira lá estarei, o altarzinho em seu pufe sagrado, o traseiro em seu devido lugar. Apesar do elenco desequilibrado e fajuto, a despeito da militância em viés de baixa, não obstante o caldeirão desalmado, haverá de se ouvir dos céus, das ruas e favelas, o povão e seu mantra – Eu acredito! Eu acredito! E embora não sejamos uma Samarco, a energia que emana do povo haverá de mover montanhas.

 

Melhor teria sido o revés por 2 a 0, nossa senha pra falar com Deus. Mas a derrota no finalzinho (Palacios, joia colombiana, você não passa de uma bijuteria!), essa tratou de encher da mais perigosa soberba o tricolor carioca, conheço alguns e sei disso. Marcelo, aquele nojento. A vingança de 2012 é um tropeiro que se come frio.

 

 

Jogai por nós, cantai por mim. Por vocês, estarei aboletado no sofá da Forma, eu e Francisco em nosso Rolls-Royce da sorte, nossa bet que só ganha. Vamo, Galo, pelo amor de Deus!!!