Guilherme Arana vibra pela vitória do Atlético na Copa do Brasil -  (crédito: Foto: Pedro Souza / Atlético)

Guilherme Arana vibra pela vitória do Atlético na Copa do Brasil

crédito: Foto: Pedro Souza / Atlético

Apesar dos mais de 13 anos em que labuto neste ofício de “colunista do Galo”, entendo cada vez menos sobre a tática do futebol, essa física quântica para mim tão insondável quanto a arte de se tocar um violão. Ou uma gaita, que eu também tentei – assassinando logo de cara o solo de “Blowin’ in the Wind”, transformado em guinchos de um animal ferido. A resposta soprada pelo vento não deixou margem a novas aventuras (eu também já havia espancado antes uma bateria): limite-se a tocar apenas o interfone.

 

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Desconfio que as notas musicais se alojam na mesma porção do meu cérebro onde se encontram os esquemas táticos do futebol, além das línguas estrangeiras que falo de forma macarrônica e bem longe de um Barilla, muito mais uma Vilma ou Renata – justamente a porção onde ficam os miolos moles, aquela parte extraviada de algum asno e que veio a aproximar o homem e a minhoca.

 

Convidado a escrever neste espaço, era como se estivessem a contratar para crítico musical um surdo absoluto. Aceitei, fiando-me exclusivamente na minha capacidade como ordenhador de pedras, e de fato nisso eu sou bom, assim como sei encher uma linguiça de forma bastante aceitável.
Sem poder me alongar sobre o futebol numa coluna de futebol, decidi focar nas pessoas – mais especialmente no atleticano patológico, grupo de risco do qual faço parte, tendo há muito desistido das sessões do AA, os Atleticanos Anônimos, pois a doença, como se sabe, não tem cura. E se tivesse, ninguém ia querer se curar. Tinha a vantagem de a patologia ser pandêmica, ou seja, já não havia atleticano imune em parte alguma do mundo. Estavam à disposição do meu laboratório milhões de doentes, além da minha própria pessoa, irremediavelmente lesada por esse vírus galináceo.

Pois bem, um atleticano merece destaque no momento em que nos encontramos em duas semifinais, da Copa do Brasil e da Libertadores, com as sabidas consequências sobre o agravamento do quadro clínico da nossa doença. Motivo pelo qual fica expedido desde já o seguinte decreto: até que se findem as disputas, é proibido morrer. A partir desta data, o atleticano tem o direito inalienável de ver o Galo campeão. Cumpra-se.

 

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O atleticano em questão, como eu ia dizendo, é Gabriel Milito. Os que acompanham este ordenhador de pedras sabem de sua admiração por Milito, exposta num crescendo durante aquela invencibilidade de 12 partidas, quando de sua chegada.

Tornei-me a tal ponto “militante”, que até sua compleição física cheguei a elogiar, uma mistura de Javier Bardem e Ricardo Darín. Nas entrevistas à imprensa, não parecia um técnico de futebol, mas o prefeito de uma cidade ideal e imaginária, um generoso professor de Harvard. Seu esquema tático... Bem, deixa essa parte pra lá. Só sei que jogamos como nunca e ganhamos como sempre.

Na ocasião, Milito falou sobre algo que, a princípio, me soou estranho: “Para ganhar, é preciso jogar com paixão”. A paixão é um estado de abobalhamento, um flanar a um metro do chão, eu mesmo me encontro neste estado lamentável no presente momento. Não conseguia imaginar jogadores apaixonados, senão numa peleja gentil e amorosa em que o atacante recusaria o penal, o zagueiro jamais o faria, e na hora do gol correriam todos, adversários inclusos, para o abraço feliz.

 

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Diante de Fluminense e Vasco, quartas de Libertadores e Copa do Brasil, o Galo foi raçudo e determinado. Não tinha bola perdida – e se tivesse, lá estava um dos nossos a morder os calcanhares, todo mundo o Leandro Donizete, o Pierre, tudo pitbull a proteger a casinha. Com a bola no pé, parecia o Galo contra o Flamengaço Classificadaço, aquele amasso, todo mundo, time e torcida, virado no Luanzinho.

Eu chamei isso de raça. O Milito chamou de paixão. É um poeta, e a poesia é o que nos salva das trevas. A resposta, meu amigo, está soprando no vento: seremos campeões.