Estádio do Galo virou um verdadeiro caldeirão na partida diante do River Plate, pelas semifinais da Copa Libertadores  -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Estádio do Galo virou um verdadeiro caldeirão na partida diante do River Plate, pelas semifinais da Copa Libertadores

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

O novo Maracanã matou a torcida do Flamengo. O Allianz Parque matou a torcida do Palmeiras. A Arena Fonte Nova matou a torcida do Bahia. A Arena do Grêmio matou a torcida do Grêmio. O Itaquerão matou a torcida do Corinthians. Eu pensei que o raio gourmetizador fosse matar também a torcida do Galo, mas a torcida do Galo é igual o poema do Drummond: você não morre, você é duro, José!

O negócio, me parece, é que não se trata exatamente de uma torcida de futebol. A torcida do Galo é alguma coisa entre a Mangueira na avenida e o Círio de Nazaré, a peregrinação à Meca e a pipoca em Salvador, a sessão de descarrego e a roda punk. A igreja e o manicômio, o carnaval e o hardcore. Mataram a gente. Mas, de repente, tamo lá de novo, perturbando a paz, exigindo o troco.

Há um problema na acústica da Arena. Que se faça então do recebimento ao time o maior espetáculo visual do mundo. Não tem Boca, não tem Borussia – “Galo é Galo”, a gente cantava nos anos 70, “o resto é bosta”. Expulsaram o pobre? Pois ele voltou. Sabe-se lá em que bet anda apostando o leite das crianças – em todo caso, que continue assim, afinal amigo nunca fiz bebendo leite, e o que se leva pro caixão senão um 3 a 0 no River Plate?

Já que ninguém se escuta no projeto da Arena, que se instale a bagunça geral! Cada um que cante o que lhe der na telha, Osho, ô Osho, eu pixo muro, eu fumo bagulho, ou mesmo um Antonio Cicero pra Marina Lima, o que importa é que todo mundo exerça sua função de Pavarotti nesse show dos Sex Pistols. Dessa sinfonia de desafinados nasceu a balbúrdia atual, como os supostos mil galos no alvorecer de Curvelo, a provar que um galo sozinho não tece uma manhã. O regente é o Deyvinho, com seus braços abertos, mistura de Didi Mocó, João Carlos Martins e Lionel Messi.

Fez-se, no momento crucial, o conluio entre time e torcida. Meus amigos, fodeu. A formação de quadrilha vai tomar de assalto as duas copas, você sabe como isso funciona. E agora, ainda que todo mundo junto segurando a corda do nosso círio, é cada um por si com seu Engov, cada qual na penhora secreta das joias da família em troca de um lugar no voo pra Buenos Aires. Ou agarrado ao trem de pouso, esse equipamento cujo nome é mesmo a prova definitiva de que o mineiro é o inventor do avião.

Hei, pera lá! Estava a viajar na finalíssima, mas a vida em seus métodos diz calma. Um Galo escaldado sabe dos riscos que corre, toc-toc-toc, se fosse o contrário a gente virava essa bagaça, alguém duvida? Ainda bem que temos o Deyverson, o comandante da orcrim, o regente da orquestra.

Se tivesse a marra de um Neymar, seria tratado como um Messi. Você viu a calma com que driblou o goleiro, a manha pra bater na bola no único cantinho possível? Falar que o Deyvinho tem estrela é diminuir sua antes insuspeitada capacidade técnica, agora flagrante e óbvia. É um baita de um jogador! Um Dario melhorado, mas muito melhorado. E foi Dadá que matou o Botafogo em 1971. Eu já escuto os teus sinais.

Antes da sonhada finalíssima, antes de nos agarrarmos ao trem de pouso, ou mesmo um Uber com destino a Buenos Aires, tem as finais contra o Cramulhão, o Flamengaço classificadaço na bacia das almas diante do pior Corinthians desde o rebaixamento de 2007. Achei que tinha uma bolinha escrito Flamengo e outra Mengão – mas eis que o sorteado com o mando de campo decisivo foi o Galo, rapaz, alguém perdeu o emprego na CBF, aquilo virou uma zona desde a saída de José Roberto Wright!

O vice do Flamengo, aquele Braz, tava sem focinheira, um perigo. Motivo pelo qual recomendei ao Victor que usasse ali na região da virilha um daqueles protetores utilizados pelo pessoal da esgrima. Ainda bem que o cachorro tava manso, senão imagina a tragédia – o Flamengo jamais perdeu sequer um cara e coroa pra ver quem sai a bola, pode pesquisar, agora tem que lidar com a finalíssima no Terreirão do Galo.

O Terreirão enfim inaugurado, o Alçapão do Galo, o Caldeirão da Massa, o Cirque du Soleil da Favela, a Verdadeira Sapucaí. Que se instale a bagunça geral, porque nós vamo ganhar é tudo! Deus que nos proteja e guarde de tanta cachaça, e nos perdoe pelo leite das crianças. Gaaaaaaalooo!!!