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Fred Melo Paiva
Fred Melo Paiva
DA ARQUIBANCADA

Fred Melo Paiva: Nada é inacreditável nesse fundo de poço

Inacreditável é que tanta gente tenha passado tanto tempo batendo palma pra bilionário dançar

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Tenho aqui, diante de mim, uma tabela. As três primeiras colunas reúnem possíveis resultados de Athletico Paranaense, Fluminense e Bragantino na última rodada do Brasileirão. Uma quarta coluna informa quem cai à série B diante das possíveis combinações. E lá estamos nós, em uma das possibilidades. Só não é possível dizer que a situação atual é inacreditável.

Há poucas semanas, o Galo era finalista da Copa do Brasil e da Libertadores. Caso perdesse ambas as finais, ainda mantinha alguma chance de classificação para a Libertadores 2025. Agora, pode ser rebaixado. Ainda assim, não há nada de inacreditável nesse fundo de poço onde estamos.

Inacreditável é que tanta gente tenha passado tanto tempo batendo palma pra bilionário dançar. No caso, sambar na nossa cara. “Mecenas” que de repente se tornaram credores. Credores que de repente se tornaram cartolas. Cartolas que de repente se tornaram ao mesmo tempo vendedores e compradores do clube, proprietários de todo o seu patrimônio, incluindo o estádio recém-inaugurado para o qual haviam “doado” o terreno.

Nesse processo, aparelharam o Conselho Deliberativo, preenchendo suas vagas com amigos e parentes, e acabando com qualquer possibilidade de oposição. Contrariados com a gestão de Kalil na Prefeitura de BH, que não privilegiou empreiteiras como a MRV no plano diretor da cidade, passaram a tratá-lo como inimigo a ser destruído, em especial na sua reputação. Para todo malfeito que produziam no Galo, a culpa era a “herança maldita” de Alexandre Kalil.

Sucatearam e compraram na baixa, um clássico. E o fizeram com o melhor dos golpes, sendo campeões em 21 com um time financeiramente insustentável para os cofres do clube. Ganharam capital político e um abatimento na compra, maior ainda porque eles mesmos são os vendedores. Fizeram sumir o shopping que durante décadas permitia, por si só, a quitação quase total das dívidas. Elevaram essas dívidas à casa do bilhão. Mas como tem bobo pra tudo, de certa forma ainda prevalece a narrativa de que “salvaram o Atlético”.

Bem, de onde menos se espera é que não vem nada mesmo. Esperava-se, pois, que tivessem algum tino para o negócio. Não têm. Capacidade de gestão. Zero. Metas, estratégias, essas coisas para as quais os empresários são mais preparados do que os cartolas. Nada. Tristemente, 2024 escancara a real capacidade das pessoas que comandam o Galo: nenhuma. Fora o modus operandi: criticou? Pede a cabeça do repórter. Falou e não gostei? Apaga a cabeça do muro.

No comando do futebol, deixaram sair a preço de banana jogadores como Savarino, Keno, Jair e Savinho. Venderam bem apenas o Allan, para o arquirrival. Montaram elenco de um time só, e olhe lá. Deram o azar de ver o Galo avançar nas copas, o que acabou por expor a péssima qualidade das peças de reposição e queimar quem vinha da base, lançado aos apuros. Assim fomos obrigados a abandonar o Brasileiro, tomamos goleadas históricas e, por fim, brigamos para não cair.

Perdemos ambas as copas, com o time fisicamente estourado em razão do banco inexistente, e mentalmente destruído pela enorme sequência sem vitórias. Milito, embora tenha se mostrado mais juvenil do que gostaríamos, é o menos culpado de todos. Tampouco os atletas têm culpa. Jogaram exauridos, sem qualquer apoio daqueles que, acostumados aos camarotes, jamais pisaram num vestiário.

O pior de tudo, a meu ver, é algo menos tangível do que o histórico da safada da SAF ou a constatação óbvia do tanto que essa turma não entende nada de futebol. O pior é terem roubado a nossa alma. Não mais se entra funcionário e se sai torcedor. À exceção do Hulk, algum dos jogadores do nosso elenco, 2021 pra cá, torcem para o Atlético? Tem uma entrevista do Reinaldo antes de um jogo qualquer, no filme Lutar, Lutar, Lutar, em que ele diz ser “mais um torcedor em campo”. E era mesmo. Isso acabou. Tanta coisa que nos fez atleticano acabou e segue acabando. Até quando vamos permitir?

No sábado, no Monumental de Núñez, o grito de 'Eu Acredito' se repetiu como farsa. Não havia a crença inabalável no milagre, naquilo que nos moveu durante o longo período das vacas magras. No intervalo do jogo, a nossa situação era melhor do que no intervalo da final contra o Olimpia, em 2013. Precisávamos dos mesmos dois gols, e ainda jogávamos com um a mais. Mas, por algum motivo, já estávamos derrotados.

Uma derrota que vem de cima e nos mata aqui embaixo, aos pouquinhos. Esses caras fizeram um pacto com o diabo, não é possível. Levaram o Galo, mas entregaram a nossa alma. Ontem, trocando mensagens com um amigo querido, ele me disse: “Podem ter levado tudo, mas ainda temos o grito de Galo”. Então, que a gente meta a boca nesse povo e exija, ainda que no grito, o nosso Galo de volta.
***
Esta é a última coluna do ano. Retomamos em janeiro. Se Deus (ou o diabo) quiser, na primeira divisão.

 

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