Restaurante Origem, em Salvador -  (crédito: Arquivo Pessoal)

Restaurante Origem, em Salvador, dos chefs Fabrício Lemos e Lisiane Arouca

crédito: Arquivo Pessoal

Eu sei! Para muitos, é estranha a sensação de sair de casa para almoçar ou jantar e não poder escolher os pratos. Também é diferente, para quem não vive imerso no universo da gastronomia, a ideia de um jantar com pratos pequenos.

 

E foi pensando nisso que hoje decidi abordar o assunto do Menu Degustação, comumente chamado de Menu Confiança, já que muitas vezes o cliente sai de casa sem sequer saber qual a sequência será oferecida no local. Ele precisa confiar no Chef e aguardar o que ele tem a oferecer.

 

Esse conceito começou na França, nos anos 50, para servir aos desejos da realeza francesa, que não queria deixar de experimentar vários sabores durante um jantar.

 

 

Porém, nos anos 70, ele ganhou relevância com o movimento Nouvelle Cuisine, considerado uma grande revolução na gastronomia, por ter como base o destaque ao sabor natural dos alimentos, a valorização de todos os aspectos sensoriais da comida e a autonomia criativa dos Chefs, que conquistaram mais liberdade no momento de preparar receitas.

 

Essa liberdade, inclusive, surgiu a partir de um encontro de tradições, já que aquele era um momento de muito intercâmbio cultural entre países.

 

E o interessante é que até os dias de hoje, os restaurantes que se propõem a trabalhar com esse conceito preservam as mesmas características:

  • valorização da cultura alimentar;
  • uso de ingredientes locais e sazonais;
  • história e conceito fortes;
  • equilíbrio entre sabores;
  • harmonização de toda a experiência;
  • apresentação como um ponto chave.

 

No Chile, por exemplo, o Boragó, que pela 9ª vez consecutiva ocupa um lugar entre os 100 melhores da América Latina, e atualmente está no 29º lugar na lista dos melhores restaurantes do mundo, é uma experiência completa nesse sentido.


O restaurante, comandado pelo Chef Rodolfo Boragó, conta a história do Chile por meio de pratos executados com precisão e sabores inusitados para o paladar dos clientes. As apresentações, verdadeiras obras de arte, buscam proporcionar uma experiência única: servir ingredientes como se estivessem em seu habitat natural.

 


Cada etapa do menu destaca um aspecto importante da cultura chilena, e os garçons, bem preparados, contribuem para a imersão na história por trás de cada processo criativo, tornando a experiência emocionante e envolvente.



Mas experiências como essa estão espalhadas por todo o Brasil, revelando a criatividade e a riqueza da nossa gastronomia e do trabalho dos nossos Chefs.

 

No Rio de Janeiro, o Lasai é um grande marco. Estive no restaurante em 2021 e até hoje sempre cito o local entre as melhores experiências já vivenciadas.

 

Não é à toa que a casa possui duas estrelas Michelin, está no 14º lugar entre os melhore restaurantes da América Latina, em 58° lugar entre os melhores restaurantes do mundo, e atualmente ocupa o 1° lugar na lista de 100 melhores do Brasil pelo Ranking da Revista Exame.

 

Comandado pelo Chef Rafael Costa e Silva, o restaurante proporciona aos visitantes uma vivência ímpar com produtos diversos vindos de hortas, feiras orgânicas, mar e terra.

 

Os pratos com vegetais roubam a cena e provam o valor de uma comida de verdade, com uma execução impecável, que preserva sabores, cores e texturas.

 

Para além disso, são pouquíssimas mesas, é preciso bater na porta e aguardar o portão se abrir. A sensação de entrar em casa, para algo íntimo, acolhedor e completamente sensorial.

 

Em São Paulo, com uma proposta diferente temos o restaurante A Casa do Porco Bar. Na minha visão, esse local, completamente alternativo, criativo e no coração do Centro da Cidade, tem um valor ímpar: mostrar que um menu degustação também pode homenagear apenas um ingrediente e ser igualmente surpreendente.

 

Mas vai além. Ele também prova que é possível servir um menu degustação com um ambiente leve, casual, descomplicado e com um “que” de jovialidade.

 

Com uma proposta de valor bem definida, uma causa explorada e valorizada em todos os pontos de contato, a Casa do Porco Bar é uma ode ao porco. É um convite a uma, duas, três ou mais visitas - no meu caso, já perdi as contas!

 

E claro: por tudo isso, ele ocupa o 12º lugar na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo e o 4º lugar na lista dos melhores da América Latina. E sim: já acumula muitos anos seguidos de aparições nessas listas.

 

Em Salvador, a atenção e os olhares estão com o Origem, dos chefs Fabrício Lemos e Lisiane Arouca, que atualmente ocupa o 76º lugar na lista dos melhores restaurantes do mundo e o 2º lugar na lista de melhores restaurantes do Brasil, de acordo com o ranking da Revista Exame.

 

O restaurante está focado no Menu Herança, apresenta uma viagem pela gastronomia indígena, africana e pelos cinco biomas da Bahia.

 

Um jantar por lá é realmente uma redescoberta dos sabores que marcam a culinária baiana, mostrando que é possível inovar e preservar as tradições.

 

Ao longo de uma sequência com vários tempos, harmonizada com muitos vinhos de vinícolas também da Bahia, sabores como milho, vieira, carne de sol e outros são apresentados com apresentações diferenciadas e uma criatividade ímpar.

 

Como os Chefs vão manter o conceito Herança, sem deixar de lado a sazonalidade e as criações momentâneas, o menu pode variar em pratos, motivo pelo qual eles não antecipam o que você vai viver, mas te presenteiam, ao final, com o cardápio impresso, que conta os detalhes de cada etapa.

 

A casa está em destaque atualmente e o que chama atenção, para além da imersão gastronômica, é o atendimento e a alegria da equipe, que sim, representa muito bem a alma do povo nordestino: sorriso largo, conversa boa e muito borogodó.

 

E em Belo Horizonte, os nossos restaurantes com Menu Degustação também surpreendem e validam o nosso título de Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco.

 

As casas e os Chefs estão inovando na criação de Menus e experiências completamente diferenciadas, que nos levam ao encontro de muitas memórias e muitas conexões afetivas.

 

O Pacato, do Chef Caio Soter, por exemplo, reinventa a forma de servir ingredientes simples que contam histórias do nosso povo e dos nossos quintais.

 

Milho, quiabo, jabuticaba, ovo, queijo, frango, porco caipira e muitos outros sabores que nos lembram família e casa de vó aparecem no menu com uma apresentação diferente, com combinações inéditas e com uma ousadia que prova que Chefs são artistas.

 

Imagine uma Ostra de Frango e um Jiló que passa por um processo de transformação com o mofo do queijo, para depois ser cozido e tostado. Pois é! Esses são apenas alguns dos pratos que compõem o Menu “Queijo: Vida e Tempo”, e te mostram que sim: vale a pena se abrir ao novo.

 

Outra casa que não cansa de surpreender com a criação de menus degustação é o Per Lui, do Chef Yves Saliba, que atualmente apresenta um menu de 8 tempos, com uma proposta inusitada: nada de conceito único, mas sim um amplo espaço de liberdade criativa, em torno de referências diversas e técnicas ousadas que respondem a um único questionamento do Chef: por que não?

 

Per Lui, em Belo Horizonte, do Chef Yves Saliba, atualmente apresenta um menu de 8 tempos, com uma proposta inusitada

Per Lui, em Belo Horizonte, do Chef Yves Saliba, atualmente apresenta um menu de 8 tempos, com uma proposta inusitada

Arquivo Pessoal
 

 

Ou seja: por que não dar voz a essa ideia e testar esse prato que está na minha mente e pode funcionar? Com essa liberdade - e também ousadia - o menu envolve camarão, ostra, chuchu, barriga de porco, pirão, pão de queijo, tucupi e muito mais.

 

Tudo isso acompanhado de uma curadoria impecável de vinhos, que quando apresentada, conquista um espaço único na experiência do jantar, dada tamanha leveza e, ao mesmo tempo, riqueza de detalhes.

 

O que quero te dizer, antes de encerrar essa conversa é uma coisa só: quando você, como cliente, se abre ao novo, um universo de descobertas vai aparecer!

 

E você vai entender o seguinte: todos os lugares que você frequenta, rotineiramente ou não, servem mais que pratos, porque comida é cultura, os modos de fazer são arte, e as histórias de quem cria, de quem prepara e de quem serve, possuem um valor inigualável.

 

Porque no fim, os Chefs artistas só conseguem inovar porque possuem, como fonte de inspiração, o nosso dia a dia.

 

E isso é lindo! De ver, de pensar e de vivenciar…

 

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