Falei duas semanas atrás sobre Arquitetura com A maiúsculo que, em meu entendimento, identifica a Arquitetura que tem propósito, intenção, volumetria, harmonia; é aquela Arquitetura que é desafiadora, propositiva e memorável.

Porque, assim como nem todo filme é cinema, nem toda escrita é literatura e nem todo desenho é arte, nem tudo o que é construído é arquitetura, nem toda reforma, retrofit ou adaptação é arquitetura.

Arquitetura com A maiúsculo é coisa rara, não porque exija algum produto difícil de achar, mas porque exige uma matéria rara: competência, talento, sensibilidade, conhecimentos de engenharia, cultura, engajamento e compromisso com o contratante, com os futuros moradores e com a cidade.
Um conjunto de habilidades e saberes específicos, e raros quando em conjunto. Há arquitetos, e Arquitetos com A maiúsculo.



E, para a coisa não ficar apenas na cabeça de quem escreve (eu) e na de quem lê (vocês), vou fazer diferente e mostrar um pouco do que tentei explicar, recorrendo ao ArqBH, um riquíssimo repositório da arquitetura mineira criado e mantido pelos Arquitetos Flávia Gamallo Gondim Santiago e Marcelo Palhares Santiago.

Começo por um dos meus preferidos, o Condomínio Solar, do Arquiteto Ulpiano Nunes Muniz, de 1955, na Avenida João Pinheiro, elegante, austero e com uma impecável escolha de materiais, cores e diferentes níveis de transparência:

Condomínio Solar, na avenida Álvares Cabral, em BH

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E sigo com o Edifício Pilar, do Arquiteto Geraldo Ferreira Lima, em 1961, na Avenida Afonso Pena, majestoso mas discreto, colorido mas elegante, marcando a esquina:

Condomínio Pilar, na Avenida Afonso Pena, no Centro de BH

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Na mesma Avenida Afonso Pena, mas na Praça Sete, o Edifício Clemente Faria (Banco da Lavoura), pelo Arquiteto Álvaro Vital Brasil, em 1946:

Edifício Clemente Faria, do extinto Banco da Lavoura, na Praça Sete, em BH

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Nessa minha “galeria” de inspiração, jamais poderia faltar o Conjunto JK, do Arquiteto Oscar Niemeyer, de 1951, na Praça Raul Soares:

Montagem com o Edifício JK, na Praça Raul Soares, em BH, em dois ângulos diferentes

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E o edifício mais bonito do planeta terra (até o momento), reunindo todos os atributos necessários, e ao mesmo tempo a coisa mais inusitada e disruptiva, atualmente um clássico. Esse é o Edifício Niemeyer, pela prancheta do próprio, de 1954, na Praça da Liberdade:

Edifício Niemeyer, um dos ícones mundiais da Arquitetura, localizado na Praça da Liberdade, em BH

ARQBH
 

Um dos mais interessantes e inusitados, com uma implantação perfeita, é o Edifício Montezuma , do Arquiteto: Nelson Marques Lisboa, de 1960, na Avenida Afonso Pena:

Edifício Nelson Marques Lisboa, no Funcionários, em BH

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O Edificio Lourival Gonçalvez de Oliveira, do Arquiteto Carlos Alberto Viotti, vem em 1981, tem soluções engenhosas e muita qualidade plástica:

Edifício Carlos Alberto Viotti, em BH

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A minha lista é maior, claro, com mais alguns prédios das décadas de 1990 e anos 2000 a 2023 mas, por incrível que pareça (e, talvez, contrariando o senso comum), quanto mais recente, mais árido e menos Arquitetura com A maiúsculo.

Observe que, nessa minha lista parcial, a tônica nunca é o luxo e a opulência, atributos e métricas de quem não tem cultura, ou gosto. De quem não lê, não pesquisa e não se informa.

A Arquitetura com A maiúsculo não está relacionada - nem aqui e nem no mundo civilizado, com a exuberância - com o brilho, a opulência ou materiais exagerados.

Exagero na arquitetura, só se for de bom gosto, harmonia, emoção e boa engenharia, ingredientes para que um projeto original e bem pensado se torne, num primeiro momento, uma - boa - surpresa.

E, mais adiante, uma referência para, com o passar das décadas, um clássico.

The real deal, como diriam as pessoas inteligentes.

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