Aeroporto Carlos Prates, depois do fechamento - um futuro duvidoso o aguarda -  (crédito: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

Aeroporto Carlos Prates, depois do fechamento - um futuro duvidoso o aguarda

crédito: Edésio Ferreira/EM/DA Press

Este é, talvez, o quarto momento em que volto ao Aeroporto Carlos Prates. Não era a intenção, e se não falássemos português, eu estaria escrevendo, agora, sobre o recém lançado Concurso de Arquitetura para um novo parque de Belo Horizonte (como Belém, que fala português, fez com enorme sucesso e um lindo projeto vencedor).


Estaria escrevendo sobre o estágio civilizatório que a municipalidade alcançou ao enxergar a oportunidade de reorganizar a cidade e de produzir uma incrível área de lazer com este verdadeiro presente, uma área de 500 mil metros quadrados numa localização excepcional, que atende a todo o setor leste e nordeste da cidade.


Um Parque de grande porte, um respiro urbano com espaço suficiente para uma estação de metrô ou uma nova rodoviária, e infraestrutura para grandes eventos, numa localização com acesso mais que perfeito.
Mas não acreditem em mim. Acreditem em Gustavo Penna, expoente da Arquitetura das nossas Minas Gerais, em seu artigo do dia 21 de abril, aqui mesmo no Estado de Minas, 'Proposta de um padrão para os novos tempos'.

 

 
Erra a municipalidade ao não abrir o debate, e erra novamente ao impor uma definição populista, com um projeto cuja imagens apresentadas chegam a produzir vergonha alheia pela feiura, pela pobreza, pela falta de criatividade e pelo improviso traduzido no material divulgado.


Erra a municipalidade ao olhar para as eleições de 2024, ao invés de olhar para o futuro da cidade e dos habitantes dos bairros no entorno do Aeroporto Carlos Prates.


Erra a municipalidade ao não casar a oportunidade à ambição do transporte sobre trilhos, da integração municipal, e de resolver a falta de densidade por meio do mercado imobiliário e da iniciativa privada, ali mesmo nos bairros do entorno.

 

 

Imagine Nova York, digamos, na década de 1950, já uma das maiores metrópoles do planeta, tratando o dilema entre preservar intocado seu Central Park ou ceder aos impulsos populistas do prefeito de plantão por um tanto de moradias populares.


Se você já esteve lá, ou já leu sobre a cidade, sabe que Nova York é o que é porque não perde uma oportunidade em preservar o que já tem, e de transformar áreas degradadas em novos parques e infraestrutura urbana de lazer e turismo (carregando consigo muito investimento privado e vitalidade).

 


Linha de trem abandonada? O High Line. Uma beira de rio largada? O Parque do Brooklin. Um cais abandonado? A nova sede do Google e novas áreas de lazer. Escavações do World Trade Center? O Battery Park (e a lista é longa, sempre lembrando que o perímetro do Central Park permanece 95% intocado pelos últimos 100 anos, e quando foi alterada, foi para ganhar um dos mais importantes museus do planeta, o Metropolitan).


A pergunta mais importante talvez seja a seguinte: como é que, diante de tantos e tantos bons exemplos, a nossa municipalidade continua errando tanto, ignorando tanto as boas práticas e o estágio civilizatório, e resolvendo tudo internamente, sem consultas públicas e sem Concursos de Arquitetura?