É muito difícil falar da tragédia que assola o Rio Grande do Sul porque, muito antes de ser uma tragédia de um estado e suas cidades, é a tragédia de cada pessoa afetada, de cada família, cada grupo, cada negócio grande ou pequeno, cada escola, cada hospital. É a tragédia de todos, mas é, sobretudo, a tragédia de cada um.

 

O futuro será difícil, mas o impossível se manifesta a cada hora, e a sobrevivência é testada a cada dia.

 

As águas já começam a baixar e seguirão baixando até o nível anterior; a cidade será lavada, e as construções, recuperadas, mas é certo que a vida jamais será a mesma para quem vivenciou essa catástrofe.

 

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Como retornar? Como dormir tranquilo novamente, sabendo que a conjunção dos fatores que provocaram este evento pode se repetir a cada ano ou mais de uma vez por ano?

 

Como saber o que a natureza nos reserva? Como confiar em que os equipamentos de proteção estejam com a manutenção em dia e em perfeito funcionamento?

 

Como acreditar que o poder público, que falhou fragorosa e miseravelmente na manutenção dos equipamentos de segurança por décadas, que subestimou as previsões, engavetou os planos e foi pega de calças curtas, possa responder melhor numa próxima vez?

 

 

Eu voltaria, mas não votaria, porque a incompetência, no Brasil, não é privativa de um partido nem de orientação política. É a praxe. É a regra geral.

 



 

O desinteresse pela manutenção da infraestrutura existente nas cidades é do mesmo tamanho que o desinteresse pelo saneamento básico, porque ambos padecem do mesmo "defeito": pouca visibilidade e não geram dividendos políticos; são pouco expressivas para festas, propaganda, fotografias e lançamento de pedras fundamentais.

 

 

Afinal, que político quer tirar foto ou fazer festa ao lado de uma comporta recuperada, ou de uma casa de bombas atualizada? Que candidato quer ser fotografado ao lado de uma estação de tratamento de esgoto?

 

A cidade vai voltar, não há dúvidas.

 

Eu voltaria, mas não votaria.

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