Roberto Loeb é um daqueles Arquitetos com "A" maiúsculo que são discretos e competentes na mesma medida. Pode ser que a discrição venha de sua grande área de atuação, as indústrias, seus prédios e edifícios administrativos, normalmente muito grandes, horizontais, muitas vezes modulares, ou pré-fabricados.
A arquitetura industrial tende a ser, de forma geral, essencial e minimalista, onde a resposta mais comum e mais fácil costuma ser a monotonia ou a falta de graça.
"É apenas um galpão", diriam os apressados e de mente pequena, mas os projetos de Roberto Loeb mostram outra coisa. Mostram proporção, mostram materiais e acabamentos muito bem escolhidos, bem aplicados e com detalhes e cores sempre interessantes, a "cereja do bolo", conferindo personalidade, identidade e elegância onde, habitualmente, só se encontra eficiência.
Seu outro traço, a competência, está evidente nos projetos. Não sei se todos concordam, mas em minha opinião, a competência na Arquitetura vem da soma de dois componentes: a competência inata (o gosto, o bom gosto, o senso de proporção, a visão espacial, a visão matricial, a curiosidade, uma certa rebeldia e uma pitada de alma revolucionária, típica de quem vive com vontade de mudar - para melhor - o estado das coisas), e a dedicação (a preparação, o esforço, a insistência, e a persistência).
Para falar de apenas dois, os meus "roberto loeb" preferidos são a fábrica da Natura, de 1996-2001, em Cajamar - SP, e a ponte Friedrich Bayer.
A Natura é um projeto de tirar o fôlego, um campus administrativo e industrial, todo em concreto aparente, ora com escala monumental, ora com a escala humana. Magnífico, atemporal, forte. A ponte Friedrich Bayer, também chamada de "Ponte Vitória-Régia" no Rio Pinheiros, em SP, é outra coisa, singela, elegante, natureza domada.
O apelido vem de seu desenho peculiar, como fosse uma passarela apoiada sobre duas plantas aquáticas gigantes (as vitórias-régias), e com uma dinâmica de abertura que encanta. Não por acaso, o projeto é premiado tanto no Brasil quanto no exterior.
E foi pensando na Ponte Vitória-Régia que Carlinhos, Arquiteto da maior competência e amigo fraterno de quase 4 décadas, pensou numa forma de resgatar a relevância da nossa Pampulha, tão estragada, tão abandonada, e tão suja.
Outrora o principal cartão postal de Belo Horizonte e referência mundial para a arquitetura e o paisagismo, hoje, a Pampulha está - ao mesmo tempo - assoreada numas partes e afogada em esgoto em outras.
- Veja: a musa sequestrada
Se o charme e o interesse pelo local se foram nas décadas de 1970 e 1980, a insegurança, o abandono e as restrições de uso vieram para ficar, e nunca mais nos deixaram.
De constante na Pampulha, desde a década de 1970, somente o esgoto sendo despejado in natura, o contrato anual de dragagem por uma certa empreiteira e a reclamação dos vizinhos a cada jogo no Gigante da Pampulha, o Mineirão.
Constante, também, o abandono dos prédios que encantaram o mundo e projetaram Belo Horizonte como uma cidade moderna e voltada para o futuro. A Casa do Baile passa mais tempo fechada que aberta, e o mais belo dos edifícios, o Museu de Arte (antigo Cassino), sequer abre para o público, exceto para raríssimos eventos "chapa-branca".
E foi então que, voltando outro dia do aeroporto, ao passar pela represa, Carlinhos olha para a Lagoa e, inspirado pela semana em São Paulo e - ao mesmo tempo - enojado pelo cheiro de esgoto, me solta um "e se, além de despoluir a lagoa, a gente construísse uma ponte tipo a vitória-régia ligando a Casa do Baile ao Museu, para a lagoa e a região se tornarem interessantes novamente?".
A ideia é genial, claro: uma intervenção pequena, de pouca monta para o potencial turístico e imobiliário que poderá ser liberado; uma ponte baixa, talvez móvel para preservar a passagem dos barcos a vela (porque, com a lagoa despoluída, o esportes aquáticos e o lazer voltarão à fazer parte da vida), e a Pampulha renasceria do dia para a noite.
Melhor, a Casa do Baile e o Museu voltariam à vida e para uso público, seja como Museu de fato, seja como qualquer outra coisa ligada ao turismo, à história, ou celebrando a nossa cidade (tendo motivos para celebrar, o que é ainda melhor).
A Pampulha merece reviver, mas precisa de elementos novos, modernos, que proporcionem integração e caminhos alternativos que incentivem seu uso, e seu cuidado.
Nem precisa dizer que, sem interceptar e tratar 100% do esgoto que vai para a lagoa, qualquer plano perde o sentido, mas o potencial está ali, se estragando mais a cada dia, esperando uma boa ideia.
Se o que nos faltava era uma boa ideia, Carlinhos fez melhor: teve uma ideia genial.