O vereador Bráulio Lara, juntamente com outros membros da Câmara de Vereadores de BH, conduziu uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), finalizada com a produção de um relatório. Agora, os achados estão com o Ministério Público, que vai decidir se apresenta uma denúncia ou se deixa como está.



O que chama a atenção aqui, para mim, pessoalmente, é a sensação de "dia da marmota” aquele que se repete continuamente no filme de Bill Murray, onde, a cada dia repetido, a cada situação vivida novamente pela milésima vez, o personagem tem a oportunidade de compreender onde errou e de promover pequenas mudanças e gestos de gentileza, educação, humanidade.



E, de pouquinho em pouquinho, de gesto em gesto, de generosidade em generosidade, a "maldição" enfim se quebra e o filme tem seu final feliz.

 



Ao contrário da nossa Pampulha, que permanece no seu eterno "dia da marmota", com esgoto in natura sendo despejado continuamente em suas águas, com um cheiro insuportável, com o seu assoreamento crescente, com a legislação urbanística ainda mais engessada e imutável que a de Brasília (e olhe que, até Brasília, 10 anos mais nova que a Pampulha, está neste exato momento discutindo alguma flexibilização).



A Pampulha, nosso segundo maior cartão postal (o primeiro segue sendo, para mim, a Serra do Curral e o Parque da Mangabeiras) já não tem valor turístico, nem ambiental e nem imobiliário. E não tem a despeito do título de Patrimônio Mundial da Humanidade, outorgado pela Unesco em 2016, após importantíssima -  e eficiente -  campanha levada a cabo pelo poder público mineiro em 2016.

 





Registro dessa relevância, aliás, concretizado no livro "Conjunto Moderno da Pampulha: Paisagem Natural Mundial", com coordenação da Arquiteta Luciana Rocha Féres, que esteve à frente da candidatura da Pampulha à Unesco.



Mas o título concedido pela Unesco, não vinha, claro, "de graça", e trazia a exigência de uma série de contrapartidas, todas óbvias, derivadas da ausência deste próprio poder público.



Pode ter sido diagnóstico errado, inação, prevaricação ou coisa ainda pior, mas o fato é que é de conhecimento público que, enquanto houver despejo de esgoto na lagoa, a lagoa continuará sendo o esgoto que é, colocando em risco, inclusive, o título da Unesco.



Que lógica perversa é essa, onde os problemas e as causas do flagelo da lagoa são de conhecimento público, já por décadas, mas o poder público se movimenta preferencialmente por ações publicitárias que ignoram essas mazelas, e despeja recursos às centenas de milhões de reais não para coletar e tratar o esgoto, mas para dragar ano após ano?



Patrocina - acertadamente - a candidatura do conjunto à UNESCO, mas nada faz de efetivo e definitivo para resolver o problema de uma vez por todas. Vai entender o que possa estar por trás disso…

 



Impossível acreditar, ainda, que as associações de bairro locais, algumas com mais de 50 anos, jamais tenham vindo a público expor essas questões, assim como outras CPIs jamais tenham dado em nada.



Para quem presta atenção, algumas perguntas são inescapáveis:



> será que, dessa vez, o relatório da Câmara de Vereadores de Belo Horizonte e a ação do Ministério Público conseguirão que se alcance, mais do que os responsáveis, uma solução definitiva?

> será que, dessa vez, a Copasa responderá pelo que deveria ter feito - mas não fez - ao longo de décadas?

> será que, a partir de agora, as associações de bairro irão formar um coro em favor da lagoa e pressionar por uma solução definitiva?

> será que, a partir de agora, a população pressionará por flexibilizações na legislação urbanística, para que os bairros lindeiros à lagoa possam despertar a atenção do mercado imobiliário e se desenvolver?



"Por fora, bela viola, por dentro pão bolorento": a nossa Pampulha é o caso do cartão postal que só existe na imaginação de quem nunca vem visitar.

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