Começo pelo mais óbvio: porque já está lá, e porque já tem implantada a melhor infraestrutura urbana, fruto da soma dos investimentos e melhorias por mais de um século.
E sigo: porque tem o maior volume de metros quadrados construídos por quarteirão (ou por qualquer outra medida que se queira). Parte dessa metragem construída está em salas e andares comerciais, é verdade, e aí está a primeira grande oportunidade, a alteração de uso e a regeneração de edifícios, convertendo unidades comerciais em moradias.
Não tem vaga de garagem, por certo, mas quem mora no Centro pouco precisa de carro; faz a vida a pé, transporte público, bicicleta e táxi. Sai do prédio e logo ali há padarias, restaurantes, lojas, cartórios, bancos, repartições públicas e qualquer outra necessidade num raio de 15, 20 minutos a pé.
Tem também muito, mas muito emprego mesmo, num raio que dificilmente superará meia hora pelo transporte público.
Entre 5 minutos a pé ou meia hora pelo transporte público estarão, também, museus, centros culturais, teatros e cinemas, shopping centers (argh), parques, praças e a maior parte das atividades culturais e de lazer que uma cidade pode oferecer.
A pergunta, agora, talvez seja: porque o Centro ainda "não aconteceu"?
As respostas são, basicamente, duas, e a primeira passa pelo culpado de sempre, a prefeitura, que até outro dia não tinha se dado conta do grau de deterioração e da oportunidade desperdiçada.
Excelente que tenha despertado e esteja se movimentando nessa direção, certamente influenciada (ou alertada) por Rio de Janeiro e São Paulo, que têm levado à frente planos realmente amplos e ambiciosos, certamente acelerados demais e audaciosos demais para a índole belorizontina, mais lenta, observadora e de pouca coragem que os pares paulistanos e cariocas.
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Mas a crítica não vai para o poder público apenas, claro, porque a mesma falta de coragem, audácia e empreendedorismo que diferencia os belorizontinos dos paulistanos e cariocas fala alto e grosso dentre os nossos incorporadores imobiliários, nosso empresariado, todos excessivamente "prudentes" e "tradicionais".
Não há problema em ser o segundo, o terceiro ou o décimo-nono; não há problema em seguir o líder de cabeça baixa, ali na fila, aguardando para ver se uma boa ideia pode dar certo ou render um bom lucro. Não há problema algum em ser mais precavido, medroso até. Afinal, as carroças, o walkman e o telefone fixo sempre funcionaram muito bem. Para que mudar logo agora, puxar a fila das oportunidades, pensar fora da caixa?
Porque pensar fora da caixa é bom, arriscar-se é bom, beber água limpa é bom, e porque o Centro está aí, prontinho, só precisando de uma arrumação.