"O metrô não é adequado para Belo Horizonte por conta de sua topografia acidentada". "Metrô só funciona em cidade plana". "Quando as estações são muito profundas, o metrô não tem viabilidade". "Não dá viabilidade". "A conta não fecha".
É o que dizem. Há décadas.
Já ouvi prefeito dizer isso; já ouvi secretário municipal, secretário de Estado, vereador, engenheiro, executivo da BHTrans, jornalista, dono de empresa de ônibus, influencer, comediante, palhaço de circo e Zé, a cacatua do vizinho.
Mas deve ter alguma coisa errada neste consenso, consenso certamente muito técnico e bem embasado - como tudo no Brasil da atualidade - por esse monte de especialista, porque as estações da Linha 6 - Laranja, de São Paulo, desmentem essa enorme sabedoria. São 45, 54, 59, 61 e 68 metros, além da estação Higienópolis – Mackenzie que, quando pronta, merecerá o título de estação mais profunda da América Latina, com 69 metros de profundidade.
Continuando a demolição da certeza de nossos luminares, temos a pequena rede de metrô da capital da Coreia do Norte que, dizem, foi construída a 110 metros de profundidade, mas vindo da Coreia do Norte, a chance de ser apenas propaganda barata é enorme. Por outro lado, a estação Arsenalna, em Kiev, Ucrânia, tem 105 metros de profundidade confirmados, e a entrada da estação encontra-se no alto de um vale íngreme ao lado do rio de Dnieper, talvez, como em nossos morros, morrinhos, morretes e montanhas.
A estação Admiralteyskaya do metrô de São Petersburgo, na Rússia, está a 86 metros de profundidade, e conta com escadas rolantes que totalizam 130 metros de comprimento. Há, também, a estação Park Pobedy (Parque da Vitória), a 84 metros de profundidade, a rede mais profunda do país, com trilhos a uma profundidade máxima de 97 metros.
Para não ficar parecendo que profundidade é algum tipo de obsessão oriental, temos a estação Washington Park em Portland, Oregon, 79 metros abaixo da superfície, Hampstead, na rede de metrô de Londres, a 58 metros abaixo do nível do solo, e Námstí Míru, em Praga, República Tcheca, a 53 metros de profundidade. Profundidades entre 35 e 60 metros são não apenas comuns, quanto muitas, e em todos os continentes.
Mas para Belo Horizonte não dá; parece que fica - ao mesmo tempo - caro e tecnicamente inviável porque, claro, ainda não aprendemos a cavar buracos com 30 metros de diâmetro e a conter o solo ao mesmo tempo, tampouco a executar contenções adequadas; afinal, ainda estamos engatinhando na matemática, na física, no cálculo estrutural, na engenharia de solos.
Mas eu entendo (não concordo e nem respeito, mas entendo): políticos não gostam de iniciar e se comprometer com aquilo que não poderão inaugurar. Projetos, quanto menores e mais rápidos, mais apelo político tem.
- Muito pouco ou quase nada a ser feito
- Quem precisa de mais um parque, quando temos tão pouco asfalto?
E se puderem começar com um grande evento de lançamento de pedra fundamental, aí ninguém segura.
Mas aí é que está, e essa é a minha sugestão para os nossos candidatos, de onde sairá o nosso próximo prefeito (ou prefeita): iniciem as 2 linhas do metrô e trabalhem muito bem para ficar na cadeira por 8 anos, e voltar para mais 8 anos depois de 4 fora, porque se começamos agora, é certo (ou razoavelmente certo, dado o histórico de Belo Horizonte), que em 2040 tenhamos 3 linhas em operação (e com várias estações a 60 metros de profundidade).
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O Caminho de Compostela é um trajeto de 800 km, e leva em média entre 30 e 40 dias. Naturalmente, há trechos menores e gente que começa, mas não termina.
Não termina porque se cansa, se machuca ou porque o tempo vira mas, se em vez dos 30 ou 40 dias, tivesse 60, 70 dias, terminaria. O negócio é, sempre, começar a caminhada.