O mercado imobiliário é como a água.
Explico.
Quanto mais potente e preservada a nascente, maior o fluxo. Quanto menos obstruído o caminho, maior o fluxo, maior a velocidade, maior a distância percorrida e mais longa a área beneficiada.
Em oposição, agressões às nascentes, maior o nível de obstrução e dificuldade no caminho, menor o fluxo, menor a velocidade, menores os benefícios e a área irrigada. Dificuldade provoca retenção e retenção leva ao represamento, baixa velocidade e nenhuma capilaridade.
Crianças aprendem logo cedo sobre a importância da preservação das nascentes e dos cursos dos rios. Aprendem sobre a importância de preservação das margens porque, afinal, água é vida.
A natureza produz nascentes, cursos d’água e matas ciliares e frutos que alimentam os animais, mas é importante sempre lembrar que o governo não é como a natureza e não cria. Não cria, não se regenera, mal se adapta e, definitivamente, não produz moradias.
O governo, como regra geral, também não doa moradias e, quando o faz, faz de forma pontual e em condições específicas, de forma que a quase totalidade da produção imobiliária de moradias vem por obras graça dessa coisa amorfa, chamada Mercado Imobiliário.
E como explicar aos adultos que essa coisa amorfa, formada por milhares de empreendedores, profissionais e investidores, é tão benéfica e necessária para a sociedade como a água?
Não deveria ser difícil, ou sequer necessário, explicar que a riqueza só é produzida pela iniciativa privada, e que a produção de moradias é consequência direta e quase exclusiva de empresas especializadas, que inventam negócios, correm risco, enfrentam burocracias e excesso de regulação. E, por isso mesmo, merecem ser recompensados pela energia despendida e pelo risco assumido.
Uma sociedade que não faz questão de ensinar corretamente a mecânica da riqueza, e que tem na demonização do empresariado um esporte nacional, não pode prosperar.
Quer dizer, até prospera, mas num passo muito menor e com uma potência muito aquém do que poderia prosperar. Por consequência, gera muito menos riqueza quanto poderia gerar e, quando gera, distribui pouco, e mal.
Por mais estranho que possa parecer, pode ser por muito pouco, uma questão de comunicação e percepção, onde o poder público percebe o mercado imobiliário como uma espécie de organismo predatório da cidade. A verdade é o exato oposto, mas uma certa pré-indisposição de parte a parte turva o entendimento de que são, poder público e empreendedores imobiliários, 2 partes de uma equação necessária.
Pode ser que falte clareza, ou que falte compromisso de projetos melhores e mais atenção com a cidade e com o bairro por parte dos empreendedores e seus Arquitetos (isso é tão certo quanto facilmente percebido), mas não será com excesso de regras ou de restrição excessiva que a produção imobiliária será de melhor qualidade, ou mais dirigida aos objetivos comuns.
Apenas o encontro das mentes, a clareza de objetivos e um afrouxamento das amarras que limitam soluções criativas poderão alinhar os interesses e produzir uma cidade melhor, mais acolhedora, segura e acessível a todos os extratos sociais.
A riqueza de uma cidade não vem da segmentação econômica, mas exatamente da ausência de segmentação, casada com uma alta densidade, muita interação, pessoas nas ruas e ampla liberdade projetual e econômica.
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O poder público precisa se abrir mais e escutar, mas apenas escutar não vai bastar. É necessário escutar com ouvidos de entender, e de incorporar visões e ideias diferentes, a visão da sustentabilidade econômica e da geração de negócios, comércio e serviços.
É tempo de aproximar. É tempo de somar.