Leon Myssior
Leon Myssior
Leon Myssior é Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR, fundador do INSTITUTO CALÇADA e acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou.
GELEIA URBANA

Sobre Bismarck e o Instituto Calçada

Think Tanks independentes de urbanismo e cidade são o antídoto contra visões de cidades lastreadas na partidarização, na doutrinação, na contradição da lógica

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Bismarck, ou Otto Eduard Leopold von Bismarck-Schönhausen, Príncipe de Bismarck, Conde de Bismarck-Schönhausen, Duque de Luxemburgo, foi o principal articulador e líder da unificação alemã, no final do século XIX.

 

Segundo Simon Sebag Montefiore, em “O mundo: Uma história através das famílias”, Bismarck diz que “É por isso que os líderes mais bem-sucedidos são visionários, estrategistas transcendentes, mas também improvisadores, oportunistas, criaturas de confusão e de sorte. Até mesmo o mais astuto dos astutos caminha no escuro como uma criança.” E Montefiore complementa: “A história é feita da interação de ideias, instituições e geopolíticas. Quando elas se reúnem numa conjunção feliz, grandes mudanças acontecem. Mas, mesmo então, são as personalidades que lançam os dados…”.

 

Não bastam, portanto, legislação adequada e consensos técnicos ou políticos. Não bastam grandes assessorias, técnicos capacitados, participação ampla e processos democráticos bem estruturados, quando aquele diminuto grupo de pessoas se reúne para tomar decisões, e… tomam decisões ruins. As decisões podem ser ruins por conta de ignorância e preconceito, ideologia, doutrinação e vínculos indesejáveis, mas também por influência externa, história de família, traumas, experiências pregressas, humor, sentimento, autoritarismo ou seu oposto, a frouxidão e a falta de personalidade.

 

 

Me lembrei dessa fala porque, se for prestar atenção, nossas cidades são, hoje, a mais completa expressão da ausência da lógica, de opiniões sem qualquer fundamentação ou embasamento factual. Não fosse assim, como explicar que a maior parte da legislação urbanística empurra as cidades para o espraiamento, para redução da densidade, para uma demanda cada vez maior de asfalto e de infraestrutura, por uma franca opção pelo automóvel, não em detrimento do pedestre, mas contrário ao próprio ser humano.

 

 

Dizer que a cidade "se desenvolve” não reflete a realidade: a cidade simplesmente cresce, no ritmo de uma orquestra de bumbos barulhentos e descoordenados, mas conduzido por surdos. É uma cacofonia insuportavelmente atrasada e perigosa, que tem drenado os orçamentos municipais. Sendo repetitivo (mas pretendendo ser didático), o espalhamento da cidade é, sozinho, o único fator de encarecimento na construção e manutenção de uma infraestrutura desnecessariamente espalhada, e de um sistema de transporte público ruim, atrasado, igualmente extenso e sempre insuficiente.

 

Os fatos (e um extenso histórico mundial) apontam que a vitalidade e o sucesso das cidades está, inexoravelmente, ligada à densidade, redução das distâncias, caminhabilidade e áreas de lazer entremeadas. Esse conjunto de atributos (ou, melhor dizendo, a visão da cidade compacta e densa), são os pressupostos para uma infraestrutura que não sobrecarrega o orçamento municipal, e para um sistema de transporte público abrangente e de boa qualidade (e sobre trilhos). Mais do que isso, são as bases para a vitalidade dos setores comercial e de serviços, segurança pública e fortalecimento de um senso de comunidade.

 

 

A essa lógica, soma-se o bom senso e centenas de casos bem documentados, sequer exigindo uma “nova” boa ideia, ou qualquer originalidade: basta seguir o que funciona bem, e se inteirar sobre os incrementos que as cidades bem sucedidas andam implementando.

 

E, se Bismarck e Montefiore tem razão (as nossas cidades parecem indicar que sim, tem toda razão), por onde passa a esperança de melhoria?

 


Passa pela sociedade civil organizada, mas não por aqueles tipos de “sociedade civil organizada"; os sindicatos e os grupos de poder. Passa por think tanks de urbanismo e cidades, compostos por, predominante, arquitetos e urbanistas, estatísticos, economistas e outras profissões mais afeitas à produção e resultados.

 

Falo de entidades como o Instituto Cidades Responsivas, de Porto Alegre, ou o Instituto Calçada, atualmente em formação, aqui mesmo em Belo Horizonte. Falo de entidades que atuem, muitas vezes, fornecendo conhecimento consagrado e dando suporte técnico a decisões bem embasadas. A lógica e o bom senso ainda têm seu valor na civilização humana e na história futura das cidades.

 

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Se as rodas continuam redondas, não por um consenso acadêmico ou decisão política, mas por um histórico inquestionável de bom funcionamento e design insuperável, por que as cidades insistem em modelos que mais se parecem com rodas quadradas?

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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