Domingo, quando amanheci de uma esbórnia proposital para esquecer a mais nova vergonha desportiva proporcionada por esse arremedo de Cruzeiro, contra o Coritiba, me deparei com o pronunciamento do CEO da SAF. No lugar de um pedido de desculpas a nós, torcedores, escutei uma pergunta, feita por ele, em tom ríspido e que beirou o ataque: “Vocês são ameaçados no emprego de vocês?”

“Mas por quê?”, fiquei a pensar. Fui entender que, ao contrário de finalmente assumir a incompetência de gestão desportiva, optaram por desviar o foco para a invasão criminosa do gramado por ambas as torcidas, ocorrida quando a derrota para o vice-lanterna já era fato consumado. Aí, ficou martelando: “Vocês são ameaçados no emprego de vocês?”



Demorei algumas horas para assimilar essa nova demonstração de prepotência. Estava próximo de “deixar para lá”, quando recebi uma mensagem da minha querida amiga Lilian Cruz: “Gustavo do céu, será que vamos escapar da degola? Que coisa...”

Lilian é filha de Evaldo, o gênio da Academia Celeste de 1966. Com certeza, nenhum dos corintianos, vascaínos, jogadores de tênis, amantes de likes/lives/games e bebedores de vinho, que compõem o Closet de Sapatênis em que se transformou essa SAF Cruzeiro, devem ter noção do tamanho de Evaldo para a história do Palestra/Cruzeiro. Tampouco conseguem imaginar o que é uma torcedora apaixonada como a Lilian tendo de passar por tantas vergonhas e incertezas. E foi exatamente por respeito aos 10 milhões de Lilians e ao legado de milhares de Evaldos que resolvi responder à ríspida pergunta do CEO de Closet de Sapatênis.

“Vocês são ameaçados no emprego de vocês?” SIM! E graças à soberba de gente como vocês da SAF Cruzeiro e do mundinho do futebol, seja o antigo ou esse dito moderno.

“Vocês são ameaçados no emprego de vocês?” No caso de jornalistas e profissionais da crônica esportiva, a resposta é: SIM! Historicamente, somos ameaçados em restaurantes, salas de imprensa ou pelas redes sociais por dirigentes e cartolas que não aceitam críticas ou questionamentos. Isso quando não recebemos telefonemas de torcedores usados como massa de manobra. Bom lembrar que vivemos em um país onde uma facção miliciana instiga parte da sociedade a nos ameaçar no exercício da nossa profissão.

“Vocês são ameaçados no emprego de vocês?” No caso dos torcedores que têm o Cruzeiro como uma paixão incondicional, a resposta é: SIM! Muitos sacrificam suas economias para adquirir um ingresso, para comprar uma camisa oficial ou para assinar um programa de sócio-torcedor, deixando ameaçado até o mínimo que podem oferecer de alimento, moradia ou saúde para a própria família.

“Vocês são ameaçados no emprego de vocês?” No caso das crianças, que são o futuro e a única possibilidade de continuidade do Cruzeiro como sendo o maior clube brasileiro fora do eixo RJ-SP, a resposta é: SIM! Muitas delas são ameaçadas com o pior crime que se pode cometer contra a infância de alguém: tirar-lhe o direito à magia do sonhar.

“Vocês são ameaçados no emprego de vocês?” O que impressiona mais nessa pergunta é o fato de que, mesmo com esse desastre desportivo que se avizinha, ninguém – para além do treinador – dentro da diretoria da SAF Cruzeiro está com o seu emprego ameaçado.

O que D’Alessandro, Paulo André, Autuori e os departamentos de futebol, comunicação/marketing e gestão/planejamento entregaram? Existe algum demonstrativo de desempenho mirabolante escondido, com excelentes resultados dessa patota? Porque a única planilha que o torcedor cruzeirense (o verdadeiro ameaçado nessa história) tem acesso é a chamada "tabela do campeonato". E, por ela, essa gente já deveria estar assinando a papelada no RH há muito tempo.

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