Felipe Machado plantou as sementes. Zé Ivaldo e João Pedro colheram o milho, mas após outra sequência de barbaridades cometidas pelo Atlético de Lourdes e por sua Turma do Sapatênis, troquemos a pipoca e as piadas por uma conclusão revoltante: a verdadeira pamonha dessa história é a sociedade mineira como um todo, porque, mais uma vez, caminha para ver as instituições e pessoas ligadas à elite econômica, social e política de Belo Horizonte serem tratadas com os privilégios de costume.
Se a tal arena não fosse o Mundo Encantando dos Bilionários do Brasil Miséria e pertencesse a um movimento social, a uma associação de trabalhadores ou a um clube da periferia sem tentáculos nas entranhas podres do poder público, a Federação Mineira de Futebol, a Justiça Desportiva, o Ministério Público e a parte da imprensa denominada “aldeia” estariam, até agora, em silêncio ou “fingindo cara de paisagem” em relação a tudo que aconteceu no último sábado? Listemos!
Homofobia
Desde o final da década de 1970, quando espalhava faixas em Belo Horizonte saudando os generais torturadores da ditadura cívico-militar, a Turma do Sapatênis tomou para si a prática de usar a homofobia para rivalizar com a Nação Azul. “Empurra as bichas”, era o argumento dos atleticanos para extravasar o ódio (Freud explica...) pelos seguidos títulos e alegrias dos cruzeirenses.
No século XXI, outro termo homofóbico, o “Maria”, saiu das pichações em muros e dos gritos de guerra nas arquibancadas para se tornar “ensinamento” de pai para filho entre os atleticanos. Tal termo chegou a ser institucionalizado impunemente nas páginas da imprensa por um covarde e inconsequente cronista da Turma do Sapatênis.
“Biiicchhhaaa!”, foi o grito entoado sem qualquer constrangimento, na peleja do último sábado, pelos atleticanos, quando o goleiro cruzeirense Rafael Cabral partia para as cobranças dos tiros de meta.
Invasão de campo
Bastou o garoto João Pedro sacramentar mais uma vitória do Cruzeiro sobre o Clube Atlético Pipoca Mineira para a odiosidade atleticana explodir. Diversos trogloditas pularam das arquibancadas para dentro do campo, numa clara tentativa de agredir quem vissem pela frente.
Esses invasores não pertenciam às torcidas organizadas, que o Ministério Público tanto quer enquadrar como o único problema da violência nos estádios. Eram homens “branquinhos e limpinhos”. Essa conhecida casta que, junto à Justiça e às forças policiais brasileiras, historicamente, recebe tratamento privilegiado graças à cor da pele e ao berço de ouro. “Riquinho que quer fazer graça”, sintetizou o atacante Paulinho.
Agressão contra trabalhadores
Fotografar e filmar os gols do Cruzeiro no último sábado. Bastou isso para que fotógrafos, videomakers e outros profissionais da mídia se tornassem alvo da soberba patológica da Turma do Sapatênis. Esses trabalhadores da comunicação foram agredidos verbalmente e fisicamente. Tiveram equipamentos pessoais danificados. Alguns se sentiram acuados pelos próprios funcionários da segurança.
Objetos arremessados no gramado
Uma chuva de copos com líquidos amarelos e pesadas marmitas. Foram as armas dos bárbaros da torcida única (a atleticana) para tentar impedir a comemoração dos gols do Cruzeiro. As imagens captadas pelas TVs mostram claramente alguns jogadores cruzeirenses sendo atingidos pelos objetos e outros se protegendo para que o pior não acontecesse.
Depois disso tudo, fica uma pergunta: a solução para acabar com a depredação, a violência e os atos criminosos era mesmo ter torcida única? Se a história da conivência do poder público para com a elite brasileira seguir o modus operandi dos últimos 524 anos, certamente, as barbaridades cometidas na Arena do Mundo Encantados dos Bilionários do Brasil miséria ficarão sem qualquer punição e tudo acabará em pizza (de frango).