Hoje começa uma nova era da “camisa 1” do Palestra/Cruzeiro. A chegada de Cássio é uma nova e ousada tentativa de repor a saída de Fábio, último ídolo da posição. Obviamente, não se sabe se terá sucesso, mas é inquestionável o simbolismo de uma contratação desse quilate. A chegada de um gigante do futebol brasileiro garante, ao menos, a esperança de que a sensação de insegurança em relação aos nossos goleiros chegue ao fim.
Substituir um ídolo nunca é tarefa fácil para nenhum clube, independente do seu poderio econômico ou do tamanho de sua torcida. Algo ainda mais complexo quando se trata de uma posição onde os titulares geralmente permanecem por longos anos e com recordes de jogos disputados, como é o caso dos arqueiros, guarda-metas, goleiros.
Ao longo da história, o Palestra/Cruzeiro viveu poucos momentos de tranquilidade na transição de seus goleiros-ídolos. Um deles foi ainda no período palestrino, na década de 1930, quando o querido Geraldo Cantini (Geraldo I), começou a passar o bastão para Geraldo Domingos (Geraldo II); uma vez que o segundo acabou por se tornar um dos três maiores goleiros da história centenária do clube.
Já a substituição de Geraldo II foi a primeira a se cercar de dificuldades. A idolatria deixada por ele, com cerca de 400 jogos disputados e sete títulos conquistados, era uma sombra muito forte. Ao ponto de ele, mesmo aposentado, voltar a jogar pelo clube na década de 1950, durante uma partida do Campeonato Mineiro.
Raul Plassmann é o segundo goleiro com mais jogos disputados na história do Cruzeiro: 557, de 1966 a 1978. Foi o arqueiro em dois dos mais importantes títulos: a Taça Brasil de 1966 e a Copa Libertadores de 1976. Com sua lendária camisa amarela e sua extrema segurança debaixo das traves, tornou-se ídolo exatamente em um período em que a torcida cruzeirense crescia a ponto de se transformar na maior de Minas Gerais.
A saída de Raul para o Flamengo foi um golpe duro. Não pelos arqueiros que o sucederam, pois Luiz Antônio e Vítor eram queridos pela maioria da torcida. O problema, nesse período, foi a penúria financeira, que impedia o clube de montar times competitivos.
Outra substituição de guarda-metas difícil aconteceu a partir de 1988. Nesse ano, Gomes I, deixou o clube, depois de ter sido eleito “o goleiro do Fantástico” por várias vezes durante a Copa União (1987) e ter revivido a camisa amarela de Raul. O Cruzeiro tentou diversos goleiros, entre eles ídolos de outros clubes, como Sérgio, do Santos, e Zé Carlos, do Flamengo. Sonoros fracassos, que só se resolveram quando Ênio Andrade firmou Paulo César Borges como titular.
Esse, por sinal, foi personagem de uma das mais tranquilas transições. Afinal de contas, para o seu lugar chegou Dida, a jovem revelação do Vitória. O gigante baiano entrou para a história como um dos maiores ídolos da Nação Azul.
A busca por um substituto definitivo para Dida, negociado em 1999 com o Milan, demorou longos três anos e muitas apostas sem sucesso. Dentre elas, Ronaldo, ex-Corinthians, e André, que mesmo sendo campeão da Copa do Brasil de 2000 não caiu nas graças da Nação Azul.
Como repor à altura a saída de um gigante de 1,96m de altura? O técnico Vanderlei Luxemburgo tinha a resposta: encontrando outro gigante. Foi assim que o garoto Gomes II (1,91m) foi pinçado pelo treinador em 2002. Ficou apenas dois anos, mas o suficiente para ser o guarda-metas da Tríplice Coroa e conquistar o coração da torcida.
Daí em diante, aconteceu o reinado de Fábio: 16 anos e 976 jogos. Sua traumática saída deixou sequelas. Rafael Cabral foi a primeira vítima. Anderson se equilibra na corda bamba e agora está prestes a fazer suas últimas partidas como titular do Cruzeiro.
Cássio, aos 36 anos, não terá tempo suficiente para se prolongar como titular da “camisa 1” celeste, como tiveram os goleiros-ídolos de nossa história. Mas seu desafio é mesmo de curto prazo. Ser o ponto de segurança para um time que ainda demorará algumas temporadas para devolver ao Cruzeiro a competitividade que sua história exige.