Sem o Mineirão, ocupado por apresentação de tenor italiano, Cruzeiro venceu o Unión La Calera no estádio Independência -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

Sem o Mineirão, ocupado por apresentação de tenor italiano, Cruzeiro venceu o Unión La Calera no estádio Independência

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press

O pão do Cruzeiro voltou a cair com a manteiga para cima. No inesgotável dicionário brasileiro de ditos, ditados e jargões populares, esse seria o perfeito para contar como o Cabuloso chega para a disputa da decisão internacional em que se transformou a última rodada da primeira fase da Copa Sul-americana, nesta semana.

O roteiro perfeito começou contra o Unión La Calera, no Independência, quando o time jogou a peleja de vida ou morte como se esperava dele: sufocando o adversário; garantindo o gol da vitória com Matheus Pereira logo no início e conquistando os três pontos necessários para respirar.

Na sequência, o tropeço quase impossível do líder, Universidad Católica de Quito, aconteceu. Os equatorianos não venceram o semiamador Alianza Petrolero e, dessa forma, não sacramentaram a classificação antecipada.

Sendo assim, a combinação perfeita para o Cruzeiro veio: chegamos à última rodada dependendo só de nós mesmos para garantirmos a vaga de forma direta para a fase seguinte da Sul-americana.

Agora, a bola está 50% conosco, nas arquibancadas e 50% com o escrete de Fernando Seabra. Nesta quinta-feira, no Mineirão, vamos para cima do Universidad Católica! Vencer ou vencer para sairmos do Gigante da Pampulha como líderes do grupo B e classificados para as oitavas de final do torneio continental.

A vitória e a classificação renderão alguns milhares de dólares para os cofres da SAF Cruzeiro. Mas não só isso. A conquista, se vier, trará consigo outros simbolismos importantíssimos para a nossa história recente. O primeiro deles, o de que montar elencos competitivos é a estratégia certeira para se recuperar esses mesmos investimentos em contratações, pois são times vitoriosos e com jogadores com potencial de idolatria que geram arquibancadas cheias e premiações por êxitos nas competições.

O segundo simbolismo se assemelha a um coroamento. A classificação à segunda fase da Sul-Americana, além de evitar o terceiro vexame desportivo do ano (a desclassificação para o Sousa-PB e a perda do Campeonato Mineiro foram os dois primeiros), pode ser vista como uma virada de página na filosofia de administração e gestão de um clube gigantesco como é o Cruzeiro Esporte Clube.

Se fecharmos essa semana classificados para as oitavas de final, vai ficar até um gostinho de sonho por voos mais altos, ou mesmo volta a um passado onde as copas internacionais, invariavelmente, faziam parte da agenda desportiva do Cruzeiro em todas as temporadas.

Como um bom nostálgico e torcedor forjado nos anos difíceis da década de 1980, gosto sempre de recordar como foi um torneio internacional, até então tido como inexpressivo, que coroou uma caminhada de renascimento para o Cruzeiro. Foi exatamente a conquista da Supercopa dos Campeões da Libertadores de 1991 que fez o torcedor cruzeirense recuperar definitivamente a estima. Ela virou a página da penúria financeira e títulos e abriu um novo capítulo da história de um multicampeão.

Que saiamos do Mineirão, quinta-feira, cantando pelos portões; ganhando a esplanada e distribuindo o buzinaço da felicidade pela cidade. Que seja o início do fim da amargura. Que nos permitamos dar o primeiro passo para matarmos a saudade de um Cruzeiro copeiro.