Nas monarquias, ditaduras cívico-militares e teocracias-milicianas (como a que defensores de estupradores tentam implantar no Brasil), a ausência de críticas construtivas é uma questão de sobrevivência, pois, nesses regimes antidemocráticos, qualquer opinião interpretada como rebeldia à submissão pode ser motivo para execução sumária. No futebol, esse silêncio frente aos erros dos soberanos se chama “passar o pano”, e isso, geralmente, termina em desastres para as torcidas, como o vivido pelo Cruzeiro em 2019.
Em um regime democrático, a crítica construtiva é fundamental para se manter o alto nível das administrações. Já a figura do “passador de pano”, no mundo do futebol, representa duas categorias abomináveis: a do “idiota útil” e a do “comunicador-aproveitador”, que bajula soberanos para alcançar benesses pessoais, como likes monetários e patrocínios casados para seus canais de redes sociais. Ambos fazem com que administradores passem a se portarem como “reis” e consequentemente, se desobriguem de assumir culpas e rever erros.
Acendi velas aos santos e orixás para agradecer a saída da Patota de Corintianos e Playboys de Sapatênis da SAF Cruzeiro. Reforcei a mandinga para agradecer a chegada de Pedro Lourenço e sua postura de respeito à torcida. Porém, isso não me tira a obrigação da crítica construtiva: o episódio do anúncio antecipado da contratação de Dudu foi de uma prepotência da Diretoria de Futebol cruzeirense e de uma burrice sem tamanho da Comunicação/Redes Sociais do clube.
Ninguém dentro da instituição foi capaz de fazer a leitura crítica de que publicizar uma novidade dessa magnitude, antes de um documento assinado, poderia provocar uma reviravolta? Ou poderia ser a pega para o contragolpe da imprensa paulista, bairrista e xenófoba? Que a venda de um ídolo para um time rival (Cruzeiro) causaria furor na torcida (Palmeiras) a ponto de uma violenta pressão causar medo no jogador?
Tudo é suposição, mas a impressão deixada por esse episódio (de antecipar o comunicado de uma contratação sem garantias) é a de que ele só serviu para inflar o ego de quem conduzia a negociação e para dar poder de barganha ao empresário do atleta. Lembre-se, cruzeirense, nesse caso, trata-se da figura abjeta denominada André Cury.
Cabendo, então, um adendo. Por respeito à história recente, deveria ser regra dentro do Cruzeiro jamais abrir negociação que envolva esse execrável empresário brasileiro. Com a suposta chegada de Dudu, André Cury voltaria a gravitar pela Toca da Raposa II e pela Toquinha.
Já que estamos falando de “memória curta”, para finalizar, um pouco de história. Em 2003, o Santos anunciou publicamente a contratação do centroavante Márcio Nobre, antes de ele assinar o contrato. Vanderlei Luxemburgo, então técnico do Cruzeiro, sabendo do fato e contando com a “ajuda” do empresário do jogador, melou a negociação. Enquanto os dirigentes santistas aguardavam Márcio Nobre no aeroporto de São Paulo, ele desembarcava em Belo Horizonte.
BOCA ABERTA NÃO COMBINA COM OMISSÃO
Se no episódio de Dudu, a mosca azul encontrou boca aberta para entrar, em outro episódio lastimável deste final de semana, a crítica à comunicação da SAF vai pela omissão e pela boca fechada. Trata-se do vergonhoso silêncio do clube quanto ao sumiço da carga de ingressos destinada aos cruzeirenses para a peleja contra o Vasco, em São Januário.
Quando foi aberta a venda dos ingressos (às 10h da última sexta-feira), eles já estavam “esgotados”. Nenhum torcedor cruzeirense residente no Rio de Janeiro, que passa o ano todo esperando a chance de ver o time em campo, teve acesso ao bilhete. Obviamente, eles foram desviados antes da abertura para venda.
Em 2023, contra o Flamengo, no Maracanã, aconteceu o mesmo. Naquela ocasião, a SAF de Ronaldo, omissa e prepotente por natureza, se negou a dar qualquer explicação ao torcedor cruzeirense. Mas a própria torcida acabou por descobrir que o clube desviou os ingressos para alimentar a venda casada via agência de turismo.
E agora, em São Januário? Quem desviou os ingressos? Para quem?