“Grupo PNFC”. Apitou a notificação do Whatsapp. “Matheus Henrique contratado pelo Cruzeiro”, avisou o Mestre Leozinho das excursões celestes. Coloquei o aparelho no bolso e entrei no carro do meu compadre Tonho. Cumprimentei meu afilhado, Zé Pedro. Seguimos rumo ao torneio de futsal que ele iria disputar.

No primeiro semáforo, outra mensagem, desta vez no Grupo Cruzeirenses de Mariana. “Cruzeiro surpreende e fecha com Wallace”. Antes de chegar ao destino, ainda passei pelo portal do Estado de Minas e lá estava a foto da recepção ao goleador Lautaro Díaz, no Aeroporto de Confins.

 



 

Entramos no ginásio para as três pelejas daquele sábado. Zé Pedro, com a pureza de seus quase dez anos de idade, correu e se juntou aos companheiros de time. “Boa sorte, jogador!”, lhe dei um abraço de torcedor fanático. Olhei para as arquibancadas. Escolhi o canto onde ficaria longe dos pais histéricos das equipes adversárias.

Apesar de titular, Zé Pedro começou a primeira peleja entre os reservas. No seu lugar, como pivô do time, Pedro, seu grande amigo de escola. Jogo duríssimo. Empate até quase o final, quando levamos 2 a 1. Tanto ZP quanto Pedrão passaram em branco.

À espera da segunda peleja, voltei a pensar no elenco que está sendo formado pela nova SAF Cruzeiro. Cássio, Jonathan Jesus, Matheus Henrique, Wallace, Matheus Pereira, Kaio Jorge, Lautaro Díaz... Comecei a me permitir recordar das Academias Celestes.

Despertei do sonho gostoso e fixei meu olhar em um senhor sentado nas arquibancadas. Baixo; bermuda a cobrir parte das pernas grossas; boné nas mãos enrugadas pelo tempo; cabeça calva, ladeada por madeixas longas e brancas. Era o vovô do Pedrão. Seu nome: Eduardo Gonçalves de Andrade. Tostão, o maioral. “Tá vendo esse senhor aqui na torcida? Foi o maior jogador da história do Cruzeiro.” Escutei de um pai, cochichando no ouvido do filho.

Durante a segunda peleja, ZP e Pedrão se alternaram no time titular. Ambos não conseguiram furar o ferrolho da defesa adversária. A segunda derrota foi ainda mais dolorosa. De goleada.

Enquanto o derradeiro embate não se iniciava, peguei o celular. Diversos palpites sobre qual esquema tático o novo escrete do Cruzeiro deveria adotar após a janela de 10 de julho.

Olhei para Tostão, que descoberto, era solicitado para fotografias. Sabedor de como ele adora debater esquemas táticos, me lembrei do dia em que fomos até sua casa, gravar para o documentário “Em busca da história do Cruzeiro”, filme oficial do centenário do Palestra/Cruzeiro. “Quando o Zagallo me escalou como centroavante, fora da minha posição na Copa de 70, perguntei a ele como eu faria para jogar e ele disse: é só você jogar como o Evaldo joga no Cruzeiro”, ele nos contou, dando uma sonora risada de euforia com a lembrança dessa surpresa tática da Seleção Brasileira.

Veio a derradeira peleja da tarde. O adversário, impiedoso, empilhava gols e consolidava outra goleada. Tostão se mantinha impávido no cimento duro da arquibancada. Seu neto Pedrão entrou na reta final, substituindo meu Zé Pedro.

Falta para nós! Pedrão se posicionou e soltou a bomba. A bola explodiu na barreira, mas voltou em sua direção. Ele ajeitou o corpo e disparou. Gol!!!

O tento não impediu a terceira derrota dos meninos, mas me fez chorar de alegria por dentro ao olhar para o lado e ver Tostão aos pulos, braços erguidos, como após seu gol de falta no Pacaembu, em 1966. O maioral vibrava como um torcedor apaixonado. Olhos brilhando e a boca escancarada em um lindo e grandioso sorriso, como se fosse a arquibancada do Mineirão lotada pela Nação Azul.

O amor de Tostão pelo neto Pedro, em meio àquela tarde em que fomos torcedores em uma tarde de derrotas, me fez lembrar o quanto nós, cruzeirenses, nunca abandonamos nossa eterna paixão, mesmo durante os piores momentos de nossa história.

Agora, com o esforço da nova SAF para montar um escrete digno da grandiosidade da torcida cruzeirense, chegou a nossa hora de sermos como Tostão nas arquibancadas: resilientes, apaixonados e maiorais. Que venham outros gols do Pedrão!

 

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