Reconhecer o esforço, a luta e a entrega total de um escrete, mesmo que o resultado final da peleja tenha sido um revés, foi uma atitude linda da Nação Azul. Por outro lado, não cabe a nós, cruzeirenses, comemorarmos derrotas. Dito isso, diante desse sentimento ambíguo, o que fica do embate contra o Flamengo, no Maracanã, no último domingo, foi a ânsia de vômito pelo teatro asqueroso protagonizado por atletas do clube carioca – como o meio-campista Gérson – e por alguns comentaristas esportivos, que, inclusive, se prestaram ao papel canalha de exaltar a falta de ética de alguns jogadores flamenguistas como uma “saudável malandragem”.

 

Choramingar sobre a inquebrável proteção da mídia ao Flamengo é chover no molhado, e não é o foco dessa análise. Até porque, sejamos claros, os privilégios imorais no futebol não são uma vantagem exclusiva do Flamengo. Em Minas Gerais, por exemplo, o clube nascido da elite econômica, das oligarquias políticas e dos clãs familiares da Zona Sul de Belo Horizonte (onde estão também os donos da panfletária “aldeia”) também se arvora nesses mesmos privilégios há décadas.

 



 

O fato lamentável do último domingo, motivador dessa resenha, não está nos repetitivos “erros” da arbitragem. O episódio indignante foi testemunhar “comunicadores”, no pós-jogo, fazendo apologia ao crime, à trapaça, ao que chamaram de “malandragem”, no lance que originou o segundo tento do Flamengo.

 

Exemplo foi um artigo publicado pelo Portal da Assessoria Rede Globo de Comunicação do Flamengo e assinado por um representante dessa espécie abjeta chamada de “influencers”, que se travestem de jornalistas. Vamos a um dos trechos do citado texto defecado pelo autor:

 

“O zagueiro Neris se atirou ao chão. Os rubro-negros, que construíam na fase ofensiva, não se sensibilizaram, continuaram a jogada e se negaram a jogar a bola para a lateral.Ao ver que o Flamengo seguia com a bola, Neris levantou e foi disputar a bola. Não conseguiu retomá-la e desabou novamente. Os rubro-negros, inteligentemente, continuaram a buscar o ataque”.

 

Recheado de mau-caratismo, o texto publicado pela Assessoria Rede Globo de Comunicação do Flamengo omite o fato de que Neris, imediatamente ao sentir a dor no músculo da coxa, levanta o braço, mostrando claramente aos supostos colegas de trabalho do clube carioca (ou bandidos?), que tinha se contundido seriamente.

 

Bastou o tempo de Villalba assinar a súmula para que Neris fosse substituído. Comprovando que não se tratou, em momento algum, de uma “cera” ou algo “malandro”, como insinuou o imbecil “setorista/influencer” pró-Flamengo do Portal da Rede Globo.

 

E o excremento com completa falta de ética foi além:

 

“Um gol de malandragem. E malandragem no melhor sentido da palavra. O Flamengo não foi ‘juvenil’ e negou-se a se curvar às quedas de um Neris que via seu time ser empurrado ao campo de defesa. Gerson mostrou ser jogador experimentado ao peitar inúmeros adversários e tirar a concentração deles.”

 

Voltamos a assistir a exaltação a uma das mais abomináveis manchas culturais atribuídas ao povo brasileiro: a Lei de Gérson. Termo criado na década de 1980 pelo jornalista Maurício Dias para sintetizar a vergonhosa atitude de uma pessoa ou empresa (ou clube) de querer levar vantagem em tudo, de forma indiscriminada, passando por cima de qualquer questão ética ou moral.

 

Assim como Gérson, o “Canhotinha de Ouro”, que deu origem ao termo “Lei de Gérson”, o atual meio-campista do Flamengo também é um baita jogador. Porém, no episódio da falta de fair play (da dita “malandragem”) do último domingo, o que ele fez, na verdade, foi seguir a cartilha do tradicional cheirinho de mau-caratismo inerente à história de privilégios do Clube de Regatas Flamengo.

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