Depois da difícil classificação para as quartas de final da Sul-Americana contra o Boca Juniors, Cruzeiro perde para o Internacional, no Beira-Rio, pelo Brasileiro -  (crédito: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Depois da difícil classificação para as quartas de final da Sul-Americana contra o Boca Juniors, Cruzeiro perde para o Internacional, no Beira-Rio, pelo Brasileiro

crédito: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

 

 

Como todos os 11 milhões de cruzeirenses pelo mundo, após a lastimável apresentação de nosso escrete contra o Internacional, no Beira-Rio, o sociólogo (de diploma e da vida) Marcelo Bernardes, o querido Marceleza, acordou com a cabeça inchada. Sábio, se deu o direito de beber uma dose de ternura antes de encarar as críticas ferozes das resenhas matutinas. Só depois partiu para sua análise, quase sociológica, já que o mundo em questão é o da boleiragem.

Marceleza sabe o quanto Fernando Seabra e seus comandados estão devendo à Nação Azul. Verdade seja dita, apesar da emocionante classificação frente ao Boca Juniors, não há como negar, demos foi uma sorte do tamanho da América Latina. Não jogamos absolutamente nada depois de marcarmos dois gols e jogando 90 minutos com um jogador a mais.

“Entendo as críticas de todos. Minha indignação é a mesma. No entanto, ainda acho que precisamos ter mais paciência. Não com o treinador. Mas com a fase de reconstrução de um time e de um clube. No começo do ano, se alguém dissesse que seríamos o sétimo lugar no Brasileirão ou que estaríamos nas quartas de final da Sul-Americana (Copa do Brasil foi péssimo o desempenho), aceitaríamos de bom grado, correto?”, provocou um pouco de calma.

Marceleza prosseguiu. “Mudamos a gestão de Ronaldo (financista) para Pedrinho (torcedor). Voltamos a almejar títulos a partir do meio do ano. Contratamos 7 jogadores, dois dos quais ainda nem estrearam. Dos 5 que já jogaram, até Cássio (veio da reserva do Corinthians) fez apenas um jogo de Cássio (contra o Botafogo). Kaio Jorge, bom jogador, ainda distante de seu melhor. Wallace, mesma situação. Lautaro, convenhamos, não é um craque. Matheus Henrique, o melhor em termos de forma física, ainda evoluindo. E o treinador? Também em fase de evolução.”

Bolão da Máfia Azul tendeu a concordar com o amigo. “Não é terra arrasada. Mas esse elenco pode render mais.”

Com ternura, Marceleza colocou um porém: “Não tenho dúvidas, caro amigo. Mas vai precisar de tempo e paciência para evoluir. Sabe quanto tempo Vojvoda está a frente do Fortaleza? 3 anos e 3 meses. Já pediram sua cabeça algumas vezes por lá. Já foi consultado para assumir outros times uma dezena de vezes. Mas sempre disse que era fiel ao projeto.”

O companheiro Vinagre não se convenceu e se manteve indignado. “Mas não dá para esperar o Seabra evoluir. Não dá sinais disso. Falta uma qualidade para ele como técnico que é leitura de jogo. Ele poderia ter usado o Peralta, mas insiste num esquema de jogo torto, com jogadores fora de posição.” Bolão ainda completou: “Uma coisa é certa, a torcida está perdendo a paciência e a confiança no Seabra. Vários grupos que participo estão pedindo a cabeça dele.”

Marceleza se manteve firme na missão de não perder a ternura jamais. “Caro amigo, com o time do primeiro turno, fizemos 32 pontos. Seabra tirou água de pedra. O jogo contra o Botafogo foi sim um ponto fora da curva. Porém, entendo que demonstrou onde o time pode jogar. Luxemburgo, em 2003, precisou de 2002. O surgimento do time de 2013 necessitou de 2012”, deu sua última cartada.

“Treinador não chuta a gol, não dá passe, não marca. Treinador treina e monta estratégias. Temos de parar de culpar só o treinador. Tem jogador aí que já está merecendo banco! Mas vamos ser positivos”, o Betão do Aflitos do Anchieta tentou por fim à contrarrevolução.

Foi a deixa para Marceleza completar sua análise. “Exato, caro amigo. As bizarrices são fruto de elenco que temos. Vamos respirar e seguir no caminho da reconstrução. Vi o Barcelona dizer adeus a Vitor Roque depois de 13 jogos (incompletos) e dois gols. Isso é bizarrice. Ter tanto jogador ótimo a ponto de mandar o bom embora. O Cruzeiro tem muito jogador mediano e está se qualificando. 2002 e 2012 foram anos de construção. 2024 imagino que será o mesmo.”

Vamos saber esperar? Devemos esperar? Farei isso, pelo menos até o final da peleja de amanhã, novamente contra o Internacional. Só aí vou decidir se sigo concordando com a ternura do meu comandante Marceleza. Espero que sim.