“Você lembra de quando gravitávamos no Z-4 da Série B e, mesmo assim, fazíamos contas mirabolantes, totalmente iludidos de que “ainda dava tempo” de chegar ao G-4 para retornarmos à Série A?” Perguntei para o meu velho pai, quando o convidei para assistirmos à partida de ontem, contra o Fortaleza.
O jogo, para nós, estava mesmo carregado de nostalgia, pois, ao ser disputado no Espírito Santo, trouxe lembranças de quando eu e minhas irmãs éramos crianças, e ele nos levava para ver o mar e comer peroá em Guarapari.
Quando fecho os olhos e volto ao tempo sombrio de 2020/2021, em consequência da tragédia provocada pela organização criminosa instalada no Cruzeiro durante a gestão de Wagner Nonato Pires Machado de Sá, sinto um misto de pavor e alívio.
Na véspera do Dia dos Pais de 2020, por exemplo, 8 de agosto, o Cruzeiro jogava a primeira partida de sua história centenária em uma divisão de acesso. A vitória por 2 a 1 contra o Botafogo/SP nos deixava com “menos 3 pontos”. Afinal, começamos aquele pesadelo devendo 6 pontos de punição.
Já em 7 de agosto de 2021, também véspera do Dia dos Pais, nós urramos para conseguir uma virada milagrosa nos minutos finais da peleja contra o fraquíssimo Brusque; e pasme com o nível de penúria: o resultado apenas nos deixava, temporariamente, fora do Z-4 da Série B.
Ontem, pela atual realidade desportiva do Cruzeiro, o sentimento de pavor jamais me dominaria. Fosse antes, durante ou depois da peleja contra o Fortaleza. Entramos em campo para vencer a equipe cearense e conquistar o terceiro lugar na competição, com um jogo a menos que o líder. Se a vitória não viesse? Nível zero de preocupação.
“Não sei o seu sentimento, mas o meu é de ter novamente a segurança do chão para pisar.” Ao voltar para casa, após o embate contra o Fortaleza, de toda forma, esse seria o meu comentário com meu velho pai, sabedor do quanto ele é um corneteiro contumaz e encontraria motivos para criticar; ganhando, empatando ou perdendo.
Porém, até ele, ao assistir ao escrete treinado por Fernando Seabra e montado por Pedrinho do SuperPovão BH, não consegue negar o sentimento de confiança que lhe invade o peito estrelado. O Cruzeiro dá ao meu pai coragem para arriscar passos mais longos, sem medo de perder o fôlego no meio do longo caminho.
As pedreiras daqui por diante, certamente, nos lembrarão – rodada a rodada – sobre as muitas dificuldades que ainda teremos para nos mantermos no pelotão de frente, com chances reais de brigar pelo pentacampeonato.
Sábado, quando entrarmos no Mineirão, o estádio construído para ser a casa do Time do Povo Mineiro, onde a voz das arquibancadas vem da Nação Azul, uma torcida apaixonada e unplugged, não nos faltará coragem e confiança para continuarmos seguindo o enredo da nossa retomada.
Até hoje, não houve nenhum instante da história do Cruzeiro em que o nosso braço e a nossa garganta não estivessem prontos. Que venha o time da Turma do Sapatênis, dos Bilionários do Brasil Miséria e da “aldeia”. Nós, da Nação Azul, estaremos onde nunca deixamos de estar.
“Confia! Coragem!” Lembro do meu velho, dentro do mar, gritando, me incentivado quando eu sentia medo de lançar meu corpo magrelo na prancha de isopor para furar uma onda na Praia do Morro. Hoje, sou eu quem digo para ele: “Confia! Coragem, pai! O Cabuloso voltou para ficar.” O céu estrelado não é o limite. Ele é a varanda de nossa casa, onde nós gostamos de sentar para lembrarmos de nossa linda história de amor eterno pelo Cruzeiro.