Quinta-feira não será apenas uma peleja para marcar a nossa volta aos clássicos sul-americanos. O confronto contra o Boca Juniors, em La Bombonera, se trata de um retorno à história do Palestra/Cruzeiro, onde longos períodos de crise financeira e/ou desportiva são superados, mesmo quando todos os inimigos desejaram que o clube fosse definitivamente destruído.

Em 14 de setembro de 1977, no estádio Centenário, em Montevidéu, o Cruzeiro enfrentou exatamente o Boca Juniors. Era a terceira partida da decisão da Copa Libertadores da América. Nas duas primeiras, uma vitória por 1 a 0 para cada lado.

Apesar de manter a base do time campeão de 1976, nos bastidores, já se sentia que algo de muito temeroso estava por vir. O esforço financeiro para montar aquela máquina já gerava efeito colateral nas finanças. No elenco, muitos jogadores já se estranhavam com o treinador Yustrich. Nelinho, o craque daquele escrete, por exemplo, foi sacado do time em um momento para lá de decisivo.

 



 

No tempo normal, um empate por 0 a 0. Pela primeira vez na história, a Libertadores seria decidida na disputa de pênaltis. E os argentinos venceram. Não só impediram o nosso bicampeonato, mas também se tornaram personagens do início de um longo período de crise do Cruzeiro que, inclusive, nos deixaria longe das competições internacionais por 11 anos.

O fim da década de 1970 e a primeira metade dos anos de 1980 foram marcados por uma das maiores crises financeiras e desportivas da história do Palestra/Cruzeiro. Endividado, o clube não conseguia montar times competitivos. Fora da briga pelos títulos nacionais, em uma época onde apenas o campeão e o vice do Brasileirão se classificavam para a Libertadores, o time estrelado desapareceu do cenário sul-americano.

A superação da crise começou em 1987, quando o Cruzeiro voltou a vencer o Campeonato Mineiro e chegou à semifinal da Copa União (torneio correspondente ao Brasileirão daquele ano). Voltávamos a sonhar!

O coroamento simbólico dessa retomada veio no ano seguinte, mais precisamente, no dia 10 de fevereiro, no estádio La Doble Visera, em Avellaneda, na Argentina. O Cruzeiro fazia sua estreia na recém-criada Supercopa dos Campeões da Libertadores.

Gomes, Balu, Vilmar, Heraldo e Wladimir; Ademir, Heriberto e Careca; Robson, Hamilton e Edson. Esse foi o time que o treinador Chico Formiga mandou a campo contra o Independiente.

Aos 14 minutos do primeiro tempo, Careca, um dos maiores “camisas 10” da nossa história, arrancou e foi derrubado na entrada da área. Em jogada ensaiada, o zagueiro Vilmar marcou um golaço. Dois minutos depois, Careca enfileirou a defesa argentina e tocou para Hamilton fazer o segundo. Nem o gol de honra do Indepiendente, aos 38 minutos da etapa final, conseguiu tirar a nossa alegria de retomar ao cenário sul-americano com uma vitória.

A sequência das páginas heroicas e imortais, conhecemos. O Cruzeiro estava de volta às disputas internacionais! Se os inimigos queriam a nossa morte, sobrevivemos e nos tornamos “La Bestia Negra”.

Esse ciclo se encerrou no dia 30 de julho de 2019, quando fomos desclassificados da Copa Libertadores, em pleno Mineirão, pelo River Plate. Assim como em 1977, saímos da competição na disputa por pênaltis. Ali já se avizinhava a tragédia que viria a acontecer no final do ano.

Desde então, uma nova crise financeira e desportiva. A América do Sul era algo distante, inalcançável. Ficou assim até 2023, quando a Nação Azul mudou o rumo da história. Pressionou a antiga e incompetente SAF Cruzeiro a uma reação e, na reta final, conquistamos uma vaga para a Copa Sul-americana.

Assim voltamos às competições internacionais. E após uma sofrível primeira fase, nos classificamos para as oitavas de final da competição. Eis que o destino nos coloca o Boca Juniors no caminho.

Quinta-feira, La Bombonera receberá esse grande clássico continental. Não vale título. Não somos os favoritos. Mas uma coisa é certa, a América do Sul começa a retomada para ser mais azul e branca.

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