Que o nosso escrete azul estrelado se transforme em 11 torcedores cruzeirenses na próxima quinta-feira. A peleja contra o Boca Juniors será muito mais que apenas uma partida decisiva de uma competição continental de futebol. Será uma batalha desportiva digna dos idos tempos da Copa Libertadores raiz, onde suor se misturava a sangue; aplicação tática se permutava com amor à camiseta; vibração combinava com entrega em campo, mesmo que as dores mais insuportáveis dominassem o corpo.


Que o recado chegue ao vestiário: o Mineirão precisará se transformar em um verdadeiro caldeirão, mas não só do calor das arquibancadas para o campo de jogo, mas também, e principalmente, a partir dos jogadores no gramado. A faísca, o detonador da bomba celeste cabe ao nosso escrete.


Com todo o respeito que a história, a camisa e a instituição Boca Juniors merecem, pois estamos falando de um dos maiores clubes de futebol do planeta, o atual elenco xeneize é inferior tecnicamente ao time do Cruzeiro. Possui jogadores experientes e um craque, Cavani, mas na partida de ida, em Buenos Aires, ficou clara sua falta de volume de jogo, de variações táticas e de poderio. Venceram, até com facilidade, mas muito mais por conta da inércia e da falta de personalidade demonstrada pelo nosso time.


Ou seja, temos a obrigação de sufocar o Boca Juniors, nesta partida de volta, do primeiro ao último minuto, para reverter a vantagem conquistada por eles em La Bombonera. Para isso, os jogadores precisam se inspirar na Nação Azul. Se nós somos loucos, eles também precisam transcender a frieza da razão.

 




Não será segredo para o nosso comandante, Fernando Seabra, e para nenhum atleta ou torcedor que o Boca Juniors virá praticando, de forma brilhante, a mais antiga arma do futebol sul-americana: a catimba. A bola não pode ficar nos pés deles. É preciso tomá-la no campo de ataque e ali permanecer. Sem chance para cavarem faltas e jogarem com o cronômetro.


Se na Argentina assistimos uma verdadeira aula de “futebol sul-americano raiz”, com o Boca dando tapas na cara de nossos jogadores e inflamando a torcida para pressionar o árbitro a amarelar nosso elenco, que o nosso escrete, agora donos da casa, saiba jogar com o mesmo espírito. A cada falta, 11 jogadores em cima do apitador, cobrando a advertência. A cada tentativa de catimba, um grito no ouvido do argentino falsário no gramado. A cada ataque, um chute ao gol. E a cada gol, uma explosão para incendiar o Mineirão.


Se cabe uma dica à comissão técnica, fica a sugestão para colocar o nosso elenco para assistir duas pelejas memoráveis. A primeira, de 1992, quando fomos para a final da Supercopa dos Campeões da Libertadores, contra o Racing, com esse espírito de não dar ao adversário nem chance de tentar catimbar. Fizemos 4 a 0, com um show de futebol.

 


O segundo videotape deveria ser o da decisão da mesma competição, um ano antes, contra o River Plate. Viemos para o Mineirão com a missão quase impossível de reverter um resultado adverso de 2 a 0, conquistados pelos argentinos, em Buenos Aires, após promoverem uma verdadeira batalha sangrenta nas arquibancadas, nos arredores do estádio Monumental de Núñez e dentro do gramado.


Naquela noite, o escrete comandando pelo maior treinador de nossa história, Ênio Andrade, entrou em campo como se cada um de nossos jogadores estivesse com uma bandeira do Cruzeiro nas mãos. Cada passe era um balançar de panos no ar. Cada ataque era o refrão de um cântico. Cada chute a gol era uma explosão de vozes. E a cada gol, eram os jogadores quem gritavam para si próprios: “mais um!”

 


Fizemos o quase impossível 3 a 0. Voltávamos a conquistar a América do Sul. Ao final do jogo, os papéis se inverteram. Nós, torcedores, invadimos o gramado e ajoelhados; o cruzamos de ponta a ponta. Agradecendo pelo empenho de nosso escrete. É esse Cruzeiro que queremos ver em campo na próxima quinta-feira.

 

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