Para materializar o significado subjetivo da palavra “sonho”, basta apontar para uma criança. Ter afeto por esses pequeninos é ter a certeza absoluta de que, por mais dura que seja a nossa realidade, ainda existe dentro de nós o desejo de continuar sonhando. Ainda nos resta um tiquinho que seja de inocência para encarar a vida como sendo o campo do possível.

 

Na manhã do último domingo, no Mineirão, nós não formávamos somente uma multidão celeste assistindo o Cruzeiro voltar a vencer. Éramos milhares de mães, padrastos, tios, pais, avós e irmãos mais velhos levando ao estádio sonhos em forma de crianças.




 

Geisa, a moça do sorriso lindo e do pé quente, embalava Tina e Telê. Pedro, o Vaz, se derretia por seus pequenos Vicente e Violeta. Bruno Taitson, abraçava Dieguito. Estávamos todos felizes (e sonhadores)!

 

Coube ao fotógrafo e designer estrelado Mário Fabiano a façanha de imortalizar esse sentimento coletivo, produzindo uma das imagens mais icônicas dos quase 60 anos de história das arquibancadas do Mineirão. Entre as comemorações dos três gols, junto aos sobrinhos e à filha, ele clicou, à sua frente, um pai em êxtase, lançando uma criança para cima, como quem pede que seus sonhos voassem até se tornarem realidade (quem sabe, o Cruzeirão voltando a ser campeão?).

 

 

Já Welington, o querido Pedrinha, não pode ir ao Mineirão com os filhos Wilgner, Gabrielly e Anna Clara; tampouco com as netinhas Cecília e Laura. Mas ele próprio, um dia, foi sonho no bairro de Nova Contagem. Criança em um lugar onde a realidade quase nos faz acreditar que eles – os sonhos – não existem. Seja pela violência, pela discriminação, pela pobreza ou pela falta de oportunidades (inclusive a de sonhar).

 

Mas sob a proteção de sua saudosa mãe, Dona Maria Gonçalves, Pedrinha se equilibrou no fio da navalha. Foi encontrar no seio das torcidas organizadas do Cruzeiro aquilo que os preconceituosos negam existir nelas: a possibilidade de formar uma família capaz de praticar o bem para quem a vida só ofereceu o mal.

 

Foi a torcida do Cruzeiro quem possibilitou ao jovem Pedrinha realizar os sonhos que a criança Welington sempre viu negado o direito de tê-los. O primeiro mergulho no mar. Viajar de avião. Conhecer outro país. Dizer para o mundo sobre o amor por sua quebrada.

 

La Bombonera é um dos templos do futebol mundial. Fica em La Boca, bairro portuário de Buenos Aires. Nas pelejas do Boca Juniors, milhares de torcedores o transformam em um temido caldeirão de sons e cores. Ali, em 2018, espremido em um canto alto das íngremes arquibancadas, estava Pedrinha.

 

Apesar da partida ser transmitida para Minas Gerais, era impossível identificá-lo em meio a tanta gente. Quase impossível... Porque, exatamente no momento em que a TV mostrou um close na torcida do Cruzeiro, eis que surge os braços magros de Pedrinha estendidos no ar. Nas mãos, uma faixa azul e branca com os dizeres “Nova Contagem”.

 

A imagem na tela da TV fez o bairro periférico da cidade de Contagem explodir em festa. Fossem cruzeirenses, atleticanos ou mesmo os não adeptos ao futebol. O sentimento de orgulho era geral por ver estampado, tão longe, o nome de Nova Contagem.

 

Essa é só uma das histórias de dedicação, entrega e paixão que Pedrinha tem pelo seu território. Seja promovendo festas beneficentes no Dia das Crianças, campeonatos de carrinho de rolimã nas ladeiras da comunidade do Estaleiro ou juntando todo mundo em campanhas de doações de alimentos e serviços para as famílias mais necessitadas.

 

De todo jeito, ele gosta mesmo é de fazer pelos outros, sem pedir nada em troca. Pedrinha é um gigante como o Cruzeiro. Ambos são capazes de mostrar para os adultos que ainda existe dentro deles um pouco das crianças cruzeirenses, do sonhar, do ser possível.

 

*** Fica o agradecimento ao fotógrafo Mário Fabiano pela cessão da fotografia que acompanha essa crônica. Para conhecer um pouco mais da história do Pedrinha, fica a dica desse filme do Projeto Moradores: https://www.instagram.com/reel/C_Qmu2Suw_F/igsh?=MW9pOGh0d3N4ZjVxMg==

 

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