No ano de 1990, Minas Gerais foi cenário de uma marcha popular que culminou com uma ocupação generalizada de prédios públicos. Mais especificamente das agências dos Correios, em 853 municípios mineiros. Tudo por conta de um homem negro, de estatura mediana, sotaque paulistano, chamado Luís Carlos Carvalho dos Reis.

 

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Milhares de pessoas, vestidas de azul e branco, carregando notas, moedas e bilhetes escritos a mão, congestionavam os guichês. Do outro lado do balcão, funcionários ofegantes se desdobravam para atender àquele clamor das ruas. Era véspera do anúncio dos jogadores convocados para representarem o Brasil na Copa do Mundo, que seria disputada na Itália.

 



 

Com 13 anos de idade, eu estava na fila formada na porta dos Correios, no centro histórico de Mariana. Atendendo à campanha lançada pela torcida Máfia Azul para sensibilizar o técnico Sebastião Lazaroni a convocar o então lateral direito do Cruzeiro, Balu, o tal Luís Carlos Carvalho dos Reis.

Balu está entre os meus grandes ídolos na história do Palestra/Cruzeiro. Em uma galeria onde figuram também Salomé (a maior torcedora do mundo), Alberto Rodrigues “O Vibrante”, Careca, Ninão Fantoni, Geraldo II, Tostão e o Mestre da Gentileza, Dirceu Lopes.

Ele sempre esteve escalado no meu time de jogo de botão nos torneios da Rua Santana e do Beco da Banqueta. Também vestia a camisa 2 celeste quando fui pela primeira vez ao Mineirão. Fez parte do escrete que me transformou em um apaixonado pela instituição Cruzeiro Esporte Clube.

 

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Apesar das centenas de milhares de cartas e telegramas enviados para a sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro, o treinador carioca não convocou Balu para a Copa do Mundo. Meses depois, indignado, eu vibrei quando a Argentina de Caniggia e Maradona humilhou Lazaroni e seus escolhidos, eliminando o Brasil nas oitavas de final.

 

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Ao contrário de muitos países, em terras tupiniquins, de cada 10 apaixonados por futebol, 11 preferem seus clubes do coração à Seleção Brasileira. Conosco, cruzeirenses, não é diferente (Balu não me deixa mentir).

A peleja da Seleção Brasileira, na noite desta terça-feira, contra o Paraguai, pelas Eliminatórias da Copa, certamente, não empolgará muita gente a acompanhá-la. Afinal de contas, nas últimas décadas, a mercantilização do futebol vem gangrenando a paixão do brasileiro pela “amarelinha”, inclusive, por impedir que os clubes nacionais consigam segurar seus jogadores ao ponto deles terem tempo para se tornarem ídolos de suas torcidas, e essas clamarem por suas presenças entre os convocados.

Por outro lado, talvez por isso mesmo, a partida dessa noite, contra o Paraguai, possa fazer com que aquele menino de Mariana, que mandou o telegrama para CBF por Balu, volte a torcer fervorosamente pela Seleção Brasileira. Afinal de contas, no banco de reservas dos selecionados por Dorival Júnior, está William, o atual ocupante da lateral direito cruzeirense.

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Ontem, também foi dia de convocação. Não na CBF, mas em Brasília, no Palácio do Planalto. Uma mulher negra e de estatura mediana (como Balu), de sotaque mineiro das bandas de São Gonçalo do Pará, chamada Macaé Maria Evaristo dos Santos, foi a escolhida para assumir a titularidade do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.

Macaé Evaristo carrega as cinco estrelas azuis. Não na lateral direita (mesmo porque, não cabe “lado direito” para quem realmente conhece a história do Palestra/Cruzeiro e a honra), mas no lado esquerdo do peito, onde está o coração. A nova ministra é uma cruzeirense das brutas!

Nada mais simbólico do que o ministério dedicado a defender os Direitos Humanos e a Cidadania das pessoas ter como titular alguém que torce pelo Time do Povo Mineiro, nascido exatamente da luta de imigrantes e operários contra uma elite preconceituosa.

Bom trabalho, Macaé! Boa sorte, William!

 

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