A paciência chegou ao fim. Não tem como dar mais tempo ao tempo para que as oscilações e a falta de ousadia do escrete estrelado cheguem se encerrem apenas por intervenção divina, osmose ou a partir de ajustes internos entre jogadores, comissão técnica e diretoria. Claramente, o Cruzeiro não conseguirá atingir os dois grandes objetivos da atual temporada (classificar para a Copa Libertadores e ser campeão da Copa Sul-Americana) se uma sacolejada geral não for dada.
Nas últimas sete pelejas (cinco em casa) e 21 pontos disputados pelo Brasileirão (18 deles pelo segundo turno e três, adiados do primeiro, contra o Internacional), só vencemos contra o lanterna, Atlético Goianiense, e somamos apenas seis pontos.
Como diria Caetano Veloso, “alguma coisa está fora da ordem”. Como explicar esse desempenho pífio, de uma hora para outra, do mesmo time que somou 32 pontos nas suas 19 primeiras partidas disputadas no Brasileirão?
Se analisarmos a caminhada até aqui, três acontecimentos merecem destaque. O primeiro deles foi a troca de treinadores: saiu Nicolás Lacarmón e entrou Fernando Seabra. O Cruzeiro melhorou substancialmente nos resultados e principalmente na existência de um padrão tático, seguido à risca pelos jogadores.
O segundo acontecimento foi a tão esperada saída de Ronaldo Nazário e sua Patota de Corintianos e Playboys de Sapatênis da SAF Cruzeiro. Pedrinho do SuperPovão BH assumiu e os resultados positivos em campo continuaram vindo.
Por último, a baciada de grandes e milionárias contratações, encabeçadas pelo goleiro Cássio. Um total de R$ 138,7 milhões para a chegada de cinco medalhões (Cássio, Wallace, Matheus Henrique, Kaio Jorge e Lautaro Diaz) e duas grandes promessas (Jonathan Jesus e Fabrizio Peralta). O time piorou...
Não foram só as oscilações, como ganhar de 3 a 0 do líder, Botafogo, no Rio de Janeiro, e depois perder para o Fortaleza, em casa, e empatar com o Vitória, jogando com um jogador a mais durante todo o segundo tempo. A grande questão foi a clara perda do padrão tático definido e eficiente. Como em anos anteriores (ou mesmo na era Lacarmón), agora, o Cruzeiro já inicia as pelejas completamente perdido em campo.
Nós, boleiros brasileiros, dificilmente perderemos o vício de nos enxergarmos como treinadores de futebol. Sabemos o quanto isso é uma piada, mas vício é vício. Sendo assim, vamos um exemplo: até quando Seabra vai insistir em ter no mesmo time titular Lucas Romero (capitão e unanimidade celeste) e Wallace, bagunçando, inclusive, o posicionamento do Matheus Pereira?
É bom lembrar que a vinda de Wallace tem dois fatores que não podem passar despercebidos nessa análise. O primeiro deles é o fato de sua contratação (R$ 37 milhões, a mais cara das sete) vir no calor da trapalhada da diretoria de futebol na (absurda) tentativa de trazer Dudu do Palmeiras.
A segunda é um questionamento: até que ponto Seabra teve autonomia para optar por não colocar Wallace como titular, sendo que isso poderia ser um sinal subliminar para a torcida e para a crônica esportiva de que não há sintonia entre ele e a direção do clube?
“Quer dizer que era melhor não ter reforçado o elenco ou voltar a ser destino de refugos, como nas eras Ronaldo Nazário e Sérgio Santos Rodrigues?” Óbvio que não! A questão não é essa. Ela passa pelo fato de jogadores, treinador e diretoria, de forma conjunta, não estarem conseguindo encontrar um equilíbrio após a chegada dos reforços. O desempenho que deveria ter melhorado ainda mais, ao contrário, caiu. Essa é a realidade. A causa? Alguém precisa encontrar rapidamente uma resposta.
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Uma derrota para o Libertad, na próxima quinta-feira, pelas quartas de final da Copa Sul-americana, pode até ser a justificativa final para a troca de treinador, como a maioria da Nação Azul parece desejar, porém, também pode ser o primeiro passo para, definitivamente, não atingirmos os nossos objetivos para essa e para a próxima temporada do Cruzeiro. Uma verdadeira sinuca de bico.