Matheus Pereira treina com a Seleção Brasileira, no Bezerrão, em Gama (DF), para o jogo diante do Peru, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo -  (crédito: Rafael Ribeiro/CBF)

Matheus Pereira treina com a Seleção Brasileira, no Bezerrão, em Gama (DF), para o jogo diante do Peru, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo

crédito: Rafael Ribeiro/CBF

Todo mágico, um dia, foi criança. Inclusive, Matheus Pereira, o “Mágico Azul”.


Toda criança, um dia, sonhou com algo mágico, pois o gostoso dos primeiros anos da infância está exatamente em não impor limites racionais aos sonhos. Isso, quando essa criança não tem arrancado, logo cedo, por diversos tipos de violência, o direito a uma infância saudável, feliz e lúdica.


Matheus Fellipe Costa Pereira, quando criança, talvez tenha vivido diversas situações onde lhe foi negada uma infância na sua plenitude. Mas havia um objeto que acabou por funcionar como a sua varinha de condão: a bola. Com ela nos pés, era capaz de produzir mágica. Onde os campinhos de terra eram o picadeiro do circo e as traves, montadas com pedaços de pau, pedras ou chinelos de dedo, eram sua cartola. Seus gols surgiam com coelhos saindo de dentro da boca do longo chapéu preto.

 


Quando ainda era apenas um garotinho, Matheus assistia pela televisão grandes mágicos brasileiros que, assim como ele, usavam a bola para produzir peripécias inimagináveis para o respeitável público. Os Ronaldos (Gaúcho e Fenômeno), Kaká e Rivaldo eram alguns deles.


No mundo, outros tantos, como o português Luis Figo, o francês Zinédine Zindane, o inglês David Beckham e o espanho Raúl.

 


Mas um desses mágicos da bola, em especial, vestia a camisa 10 do time do coração do menino. Quantas vezes Matheus Pereira não se imaginou no lugar de Alex, o Talento, trajando o manto sagrado das cinco estrelas bordadas na altura do peito?


Aos poucos, o avançar da idade e a dureza da vida foram roubando bons nacos de pureza do olhar do já adolescente Matheus. Era como descobrir que algumas mágicas, no fundo, não passavam de truques, passíveis de serem copiadas.

 


Ali, ele poderia ter desistido da carreira de mágico, mas não foi isso que aconteceu. Matheus continuou completamente apaixonado pela bola e não desistiu de fazer mágicas com ela nos pés. Ainda acreditava no sonho de vestir a “10 de Alex” no seu Cruzeiro.


Observado por “caçadores de meninos mágicos”, os antigos olheiros do futebol, acabou por ter uma chance nas categorias de base dos clubes de Governadores Valadares, cidade conhecida por ter tantas famílias que seguiram para o exterior em busca de realizar seus sonhos.


Não demorou muito para o já jovem Matheus Pereira trilhasse o mesmo destino. Não o dos “Valadólores”, nos Estados Unidos, mas sim o que levava aos campos de futebol da Europa.


Seu rito de passagem de apenas uma promessa dos picadeiros do futebol português para o ser reconhecimento como um grande jogador mundial foi rápida, como um passe de mágica.


Matheus Pereira se consagrou como um jogador diferenciado. Disputou grandes ligas internacionais, até que lhe veio a maturidade. Junto dela, uma sensação de vazio, sem ter mais motivação para continuar produzindo novos números de mágica.

 


Seria o fechar as cortinas e o fim de seus espetáculos? Novamente, para sorte do mundo das artes, não foram. Ao contrário, um de seus maiores sonhos de criança se tornaria realidade em um passe de mágica. Matheus Pereira recebeu o convite para vestir a camisa 10 do seu Cruzeiro, outrora, envergada por Alex.


Na noite de hoje, Matheus Fellipe Costa Pereira vestirá, pela primeira vez, a camisa da Seleção Brasileira de Futebol, graças a alegria de jogar bola, que recuperou sendo o mágico do seu clube do coração.


Quem sabe, hoje, ao longo da peleja entre Brasil e Peru, no estádio que leva o nome de Mané Garrincha, um dos maiores mágicos da história não surja a primeira oportunidade para que ele entre em campo e faça da bola o objeto de produzir magia para o respeitável público.


Seria um sonho para qualquer cruzeirense se hoje o nosso “camisa 10” entrasse em campo pelo escrete comandado por Dorival Júnior e, com a bola nos pés, se consagrasse como o maestro de uma reviravolta. Fazendo com que o tão combalido e questionado escrete nacional voltasse a ser admirado como a Seleção Brasileira de Mágicos.