O Racing queria o Cruzeiro. O Cruzeiro queria o Racing. Deuses, entidades e orixás do futebol atenderam o desejo mútuo e agora estamos a poucos dias de mais um capítulo dessa épica história de glórias, quase mortes, renascimentos e coincidências que unem esses dois gigantes azuis celestes.
O primeiro encontro entre os dois personagens poderia ter ocorrido ainda na Taça Libertadores de 1967. Um ano antes, Tostão, Dirceu Lopes e Companhia haviam levado a “Academia Celeste” à sua primeira competição continental, ao conquistar a Taça Brasil de 1966.
Na primeira fase da Libertadores, tanto “La Academia”, como é chamado o Racing, quanto o Cruzeiro terminaram na liderança de seus grupos. Na seguinte, também em chaves distintas, se desenhavam como favoritos para chegarem à final.
La Academia confirmou o favoritismo ao vencer o Universitário, do Peru, em uma partida de desempate. Estava, pela primeira vez em sua história, em uma final da Taça Libertadores da América.
Técnico do Liverpool relembra tempo com Cássio, do Cruzeiro, e manda recado
Já o Cruzeiro caiu em um grupo com os uruguaios Nacional e Peñarol. Em Belo Horizonte, venceu os dois. Precisaria apenas de um empate nos jogos de volta, em Montevidéu. Porém, ainda inexperientes frente as batalhas sangrentas da “Libertadores raiz”, a Academia Celeste perdeu ambas as pelejas e não chegou à final pela diferença de um ponto.
Se ali o Racing chegava à glória, inclusive também sendo campeão do Mundial de Clubes de 1967, o Cruzeiro demoraria mais uma década para tal. Só em 1976 foi o maioral da Libertadores pela primeira vez. No ano seguinte, chegamos novamente à grande final, mas fomos superados pelo Boca Juniors em uma controversa disputa por pênaltis.
Depois disso, Cruzeiro e Racing, mesmo ainda sem nunca se encontrarem nos gramados, passaram a lutar pelo mesmo objetivo: sobreviver. Entre o final da década de 1970 e a primeira metade dos anos de 1980, os dois clubes vivenciaram uma das piores crises de suas histórias. Os argentinos, inclusive, com o doloroso rebaixamento no Campeonato Argentino em 1983.
Casa de astro do Barcelona é atingida por enchente; veja vídeo
Em 1988, quando já não se via mais luz no fim dos túneis de Avellaneda e Belo Horizonte, a Conmebol anunciou a criação da Supercopa dos Campeões da Libertadores. Finalmente, para o bem da poesia, estava aberto o caminho para a primeira peleja entre as academias celestiais da América do Sul. E foi em uma épica finalíssima!
Após vencer a primeira partida na Argentina e empatar a segunda, no Mineirão, o Racing sagrou-se campeão da Supercopa. Já o Cruzeiro, mesmo derrotado, devolvia à sua gigantesca torcida um dos mais importantes troféus de sua história: a autoestima.
Três anos depois, com a Academia Celeste também já supercampeã, veio a revanche! Sob um temporal no Mineirão, o Cruzeiro goleava o Racing na final da Supercopa de 1992. Uma semana depois, na Argentina, confirmaria o bicampeonato de 91/92.
Se nas glórias estávamos empatados, nas dores, ainda havia espaço para novas coincidências entre Racing e Cruzeiro. Então, se abriu o capítulo das “quase mortes”.
Kaká fala sobre derrota de Vini Jr. na Bola de Ouro
Em 1999, uma cena rodou o mundo. Um bumbo é lançado contra o presidente do Racing, Daniel Lalín. Logo após anunciar a inevitável falência do clube (que acabou não ocorrendo), o sangue jorrou em seu rosto, enquanto as lágrimas molhavam a face da torcida.
Exatamente dez anos depois, Maria Salomé confidenciava que “se o Cruzeiro cair para a segunda divisão, eu morro”. Era 2019. O Time do Povo Mineiro estava rebaixado, e não suportando o desgosto, a maior torcedora do mundo estava morta.
Seja qual for o vencedor da finalíssima da Copa Sul-americana, entre Cruzeiro e Racing, ao final da tarde de 23 de novembro de 2024, no estádio La Nueva Olla, em Assunção, no Paraguai, os deuses, as entidades e os orixás do futebol cumprirão uma das mais lindas missões já postas. Terão dado às duas gigantescas academias celestes da América do Sul o diploma de renascimento continental.