No primeiro jogo da semifinal da Sul-Americana, no Mineirão, a torcida do Cruzeiro compareceu em massa para empurrar o time contra o Lanús -  (crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

No primeiro jogo da semifinal da Sul-Americana, no Mineirão, a torcida do Cruzeiro compareceu em massa para empurrar o time contra o Lanús

crédito: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

O Palestra/Cruzeiro não foi criado em coreto de praça chique para ser colônia de férias de meia dúzia de filhinhos das famílias abastadas da elite de Belo Horizonte. Ele surgiu porque existia uma torcida ungida no seio da classe operária de trabalhadores migrantes e imigrantes, jogada – pelas mesmas oligarquias – na periferia da recém-criada capital mineira.

Torcedores e jogadores que, há 103 anos, cansados de preconceitos e injustiças, criaram um time para chamar de seu. É esse clube, fundado por sua própria torcida, que entrará no gramado do estádio La Nueva Olla, em Assunção, no Paraguai, no próximo sábado, para tentar coroar todas as gerações de torcedores que escreveram a história do Cruzeiro Esporte Clube.

“O verde da grama me chama / O azul da camisa me inflama / E eu vou aonde manda o coração...” Quando o roqueiro celeste Maurinho Berrodagua soltar a voz alegre e emoldurada por seu sorriso (como é típico do rosto e da alma de qualquer cruzeirense), poucos minutos antes do início da grande final continental, certamente, seremos 10 milhões de cruzeirenses, espalhados pelo mundo, a derramarmos lágrimas.

Orgulho, alívio, recompensa, retomada, esperança ou amor eterno. Cada um terá um nome para batizar esse seu instante íntimo. Mas todos eles se abraçarão para dar forma à Nação Azul, aquela torcida que, em 1921, criou um time para chamar de seu.

“O céu ilumina o caminho / As estrelas não me deixam sozinho / E eu vou aonde manda o coração...”, cantará forte, Berrodagua, no pré-jogo.

Se cá estaremos em milhares presentes no estádio e outros milhões grudados na TV e nos rádios, teremos ainda outros tantos, que já viraram estrelas, olhando pelo time que também ajudaram a criar.

Que Ninão Fantoni, nosso primeiro grande ídolo e goleador dos tempos de Palestra, mande toda a sua força para rompermos retrancas, defesas bem postadas e tentativas violentas de nos derrubarem.

Que Plínio Barreto, o maior cronista e pesquisador do Palestra/Cruzeiro, com suas lindas histórias contadas, inspire a criatividade do nosso meio de campo para termos desfechos rimados em gols.

Que Felício Brandi, o “presidente eterno”, com suas estratégias de raposa, esteja lado a lado com o comandante Fernando Diniz para dominarmos taticamente a peleja.

Que Roberto Batata, com sua ousadia em correr pelas pontas, provoque nossos velocistas a encontrarem espaços deixados e dispararem em direção ao gol.

Que Vágner, o lendário integrante da Torcida Jovem que enfrentou literalmente no braço a soberba e a homofobia da Turma do Sapatênis nas décadas de 1970/1980, esteja postado à frente de nossa defesa para que ela se transforme em um muro de concreto ruim de derrubar.

“Eu vou pro campo, eu vou / De sangue azul, eu sou Cruzeiro...”, Maurinho cantará ainda mais alto.

Que a maior torcedora do mundo, Maria Salomé, esteja presente na voz, no peito, no coração e no sorriso de cada cruzeirense que estiver na final continental, empurrando o nosso escrete para a conquista que coroará todas e todos que, em 103 anos, escreveram os capítulos da história mais linda do futebol mundial, a do nosso Palestra/Cruzeiro.

Parafraseando o amigo Maurinho Berrodagua: Será no verde da grama que o Cruzeiro buscará mais essa copa que nos chama!