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Gustavo Nolasco
Gustavo Nolasco
DA ARQUIBANCADA

"Fair play financeiro" nos olhos dos outros é refresco

Nação Azul, se prepare: o Cruzeiro será o time mais perseguido pela crônica esportiva do Brasil em 2025

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Em todas as manhãs de janeiro de 1986, eu acordei bem cedo, já com o meu coração de criança cruzeirense disparado. Os colchões espalhados pelo chão abrigavam toda a família na casa alugada para as férias em Guarapari, no Espírito Santo.


Para não despertar minhas irmãs, eu as driblava com passadas largas, imitando Careca, um dos maiores camisas 10 da história do Cruzeiro. Abria o portão do lado direito e corria arisco, como o ídolo Balu.


A missão era chegar rapidamente à única banca da Praia do Morro onde se vendia alguns exemplares do Jornal Estado de Minas. Queria notícias sobre as contratações do Cruzeiro para a temporada que se abria. As rádios e TVs mineiras não alcançavam o Espírito Santo.

 


Sábado passado, de férias na praia, acordei bem cedo, como fiz em 1986. Os jornais já não chegam mais, porém, pela internet, acalmei a ansiedade do meu coração de velho cruzeirense e acompanhei, uma a uma, as contratações anunciadas por Pedrinho do SuperPovão BH.

 

 


Quando chegou a primeira imagem do Mineirão tomado por 40 mil sorrisos cruzeirenses, fui até o alto do Morro da Fumaça, em Cumuruxatiba, e olhei para o mar lá embaixo. Ele estava azul celeste!


Voltei a atenção para a tela e quando centenas de crianças trajadas de azul e branco ergueram os dois bracinhos, com os bicípites flexionados, todas elas, se sentindo um Gabigol, eu chorei. Emocionado, não pelo jogador (que ainda precisará provar a que veio), mas pelo fato da atual diretoria do Cruzeiro ter a coragem de devolver à sua torcida o direito ao sonho, ao lúdico, ao orgulho e ao inimaginável para quem quase foi destruído em 2019.


Mas definitivamente (e infelizmente), a hipocrisia é uma característica inerente a uma grande parcela da sociedade brasileira. Mais especificamente, das camadas mais abastadas. Essa gente “limpinha” que tem ódio de dividir privilégios que, muitas vezes, conquistaram de forma imoral ou ilegal.

 

 


Como era de se esperar, a alegria da torcida do Time do Povo Mineiro rapidamente causou uma enxurrada de críticas e julgamentos. Um espetáculo macabro de hipocrisia vinda de uma gente que, até então, vivia em silêncio em relação aos mecenas, aos privilégios e às imoralidades praticadas em favor de outros clubes brasileiros.


É muito irônico assistir a crônica esportiva de São Paulo “preocupada” com a forma como o Cruzeiro está investindo em grandes reforços, quando ela mesma assistiu calada (e aplaudindo) um determinado clube paulista se transformar em uma potência continental por meio da injeção de bilhões de reais vindos de uma empresa que empresta dinheiro a elevados juros para famílias pobres endividadas.


Por que os “Vampetas da Vida” não acharam “divertido” não ter ido para as páginas policiais o caso da entrega de um estádio construído com dinheiro do povo brasileiro para outro clube de São Paulo?
Onde estavam os “Mauros Cezares da Vida” falando em “doping financeiro” no futebol brasileiro quando, nas décadas de 1980 e 1990, um único clube carioca tinha o privilégio de receber o patrocínio de uma empresa estatal federal?

 

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O que dizem os boleiros garotos-propaganda das bets (que estão destruído financeiramente famílias inteiras no Brasil), do fato de uma emissora de TV, por quase 50 anos, deliberadamente seguir privilegiando a exibição de jogos de um determinado clube carioca em detrimento a todos os outros? Contribuindo diretamente para que esse clube se beneficie da formação de público (leia-se torcida/clientes).


Fazendo coro com Samuel Rosa, “El Loco Azul”: que papo é esse de fair play financeiro logo agora? “Isso já estava aí e não se façam de rogados, vocês sabem bem”.


Nação Azul, se prepare: o Cruzeiro será o time mais perseguido pela crônica esportiva do Brasil em 2025. Será o mais odiado pelas torcidas dos clubes que já se aproveitaram do suposto “doping financeiro” e dos privilégios (imorais) de seus respectivos mecenas.


Jamais nos esqueçamos: a pimenta de 2019 nos olhos do Cruzeiro foi refresco para essa gentinha hipócrita.

 

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