
Cruzeiro, esse meu amor bandido
É tempo de fim de espera. As traições já se foram, perdoadas. O frio na barriga voltou, em ansiedade
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Acabou a espera, Nação Azul. Aos trancos e barrancos. Vivenciada como paixões avassaladoras ou amores feridos. Sentindo frio na barriga ou arrepio na espinha. Conduzida por carícias lentas ou beijos quentes. Por orações de súplica travadas nos dentes ou por gritos de euforia rasgando a garganta. Fazendo promessas a si mesmo de nunca mais aceitar decepções ou concedendo perdões pelos deslizes traidores. Todos os extremos juntos, separados ou misturados. Assim chegamos ao instante do reencontro com o nosso grande amor, o Cruzeirão – quiçá – campeão.
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Aos de corações salafrários, como os poetas, boêmios e torcedores “raiz”, basta o copiar de uma receita de amor escrita em papel de enrolar pão ou um bilhete apaixonado rabiscado em um guardanapo impregnado de gotas respingadas do copo bebido. Basta, pois já soa como música de amor bandido aos ouvidos.
Trilha sonora essa para as arquibancadas, que voltarão a ficar lotadas de azul e branco. Regida e executada pela Torcida Fanáti-Cruz (TFC), pela Máfia Azul e por tantas outras, que usarão da criatividade para nos fazer entoar novos cânticos apaixonados, preparados para esse (re)início de uma temporada inteira de juras de amor.
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“Falar em início de temporada em pleno fim de março, depois das águas já terem fechado o verão, a chorar as goiabas – e pitangas – de São José?” Perguntarão os que ainda não conheceram o amor ou os cartesianos e pudicos.
Mas por que não? Para quem tem o coração preparado para perdoar as pisadas na bola, chegou o momento de esquecermos os fracassos e decepções de janeiro e fevereiro. Se até a Folhinha de Mariana tem a licença poética para errar em alguma previsão, por que o Cruzeiro não teria?
Por isso, cá estamos. Com o (re)início da temporada 2025. De roupa nova (mesmo ela sendo sem estrelas soltas e com um design tosco de painel de publicidade) ou com o manto sagrado surrado mesmo, todos nós temos um encontro marcado com o Cruzeirão. No pôr do sol do próximo sábado, às 18h30, no Mineirão, estádio construído para ser nossa Toca do Amor.
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“Mas você não vai, de jeito nenhum, com essa camisa do Cruzeiro toda furada por ponta de cigarro e com o nome da Salomé quase apagado nas costas de tão gasta que ela está.” A patroa já foi ralhando. Mal sabe ela que todo o roteiro está previamente pronto, como quem prepara flores para a surpresa.
Subiremos as escadas de acesso das arquibancadas juntos. De mãos dadas. Nós dois cantando pelo nosso Cruzeiro. E quando o gramado se abrir à nossa frente, no rosto dela surgirá o sorriso mais lindo do mundo. Eu a admirá-la, vestido com meu manto sagrado. Surrado, furado por pontas de cigarro e com o nome da maior torcedora do mundo – Salomé – nas costas, com estampado bem gasto pelo tempo.
Porque toda forma de amor vale a pena, ainda mais se for pelo Time do Povo Mineiro.
Se do lero-lero de Alexandre Mattos e das gestões passadas nos entupimos de promessas vãs, cá estamos prontos para perdoar. Dos gols perdidos e das derrotas de janeiro e fevereiro, guardamos as palmas não batidas – que não mereceram ser acionadas.
Mas se os gols, as vitórias e os títulos vierem como esperamos, serão sabores deliciosos degustados, mesmo tardiamente, como o de um tropeiro com seu zoiudo repousado.
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É tempo de fim de espera. As traições já se foram, perdoadas. O frio na barriga voltou, em ansiedade. Chegou a hora de mirar o sol a cair por detrás das montanhas, e iniciar a caminhada para reencontrar os títulos, como beijos – por anos – sonhados.
Se bandido ou não, o amor pelo Cruzeiro sempre será fim, meio, começo e (re)início.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.