
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

O pesquisador Petr Polakovic, da República Tcheca, não sossega enquanto não descobrir as origens de seu conterrâneo Jan Nepomuk Kubícek, bisavô materno do ex-presidente do Brasil, ex-governador de Minas e ex-prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek (1902-1976), o mineiro JK de Diamantina. Há 15 anos, Petr, de 62, formado em economia, vasculha arquivos, cruza o Atlântico, conversa com historiadores, mantém contato com descendentes, incluindo a filha de JK, Maria Estela Kubitschek Lopes, lê documento e aprimora o português para ficar mais seguro nas investigações. Em passagem por BH, Polakovic fez palestra na sede do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), falou sobre o que já encontrou nas suas andanças e lançou o livro “A emigração das terras tchecas para o Brasil no século XIX”.

Apelidado João Alemão no período de residência no Serro, no Vale do Jequitinhonha, Jan Nepomuk Kubícek (no país de origem) ou João Nepomuceno Kubitschek (no Brasil) era um carpinteiro habilidoso, nascido possivelmente em 1803 ou 1804, teve três filhos e não se casou com a mãe das crianças. “Até hoje, não encontrei a certidão de nascimento de Jan nem a de casamento”, diz o pesquisador. Em 2016, localizou a certidão de óbito, com o ano do falecimento do tcheco (1854), em Diamantina. “Até certo ponto, fiquei surpreendido por Jan ter construído bens sólidos que haviam deixado seus descendentes em boa situação financeira até para o bisneto, o futuro presidente do Brasil”, escreveu Petr no livro resultante da tese de doutorado na Universidade Karlova, em Praga.
No caminho, há muitos desafios e perguntas sem respostas, afinal, para começo de conversa, encontrar informações específicas na República Tcheca soa como achar agulha no palheiro. “Temos lá cerca de 4 mil famílias com o sobrenome Kubícek (Kubitschek), que é muito comum no país. A direção então é o Brasil. Por que Jan veio para cá?” O pesquisador não tem dúvidas de que foi em busca de melhores condições de vida. E chegou sozinho.
Na época, início do século 19, a Europa estava destroçada após as guerras napoleônicas lideradas pelo francês Napoleão Bonaparte (1769-1821). “Certamente, Jan, natural da região da Boêmia, falava alemão, francês e outras línguas”, conta Petr, que buscou, sem sucesso, informações sobre registro de embarque dele nos portos de Hamburgo (Alemanha) e Antuérpia (Bélgica).
PERGUNTAS SEM RESPOSTAS
Ciente da necessidade de localizar documentos para dar sustentação à história, Petr acredita que Jan – sobre quem já especularam ser de origem cigana ou judaica, sem comprovação – chegou ao Brasil ainda jovem, na casa dos 20 anos. Na palestra, listou algumas perguntas ainda sem respostas. Como se deu a chegada de Jan Nepomuk Kubícek ao Brasil? Teria sido recrutado no exterior, como mercenário, para integrar um exército de estrangeiros no Brasil, independente de Portugal em 1822? Ou embarcara rumo aos trópicos em busca de emprego melhor como artesão? Tinha um passaporte? Como veio parar no Serro, no interior do Brasil?
Todas as questões estimulam Petr Polakovic, que encontrou terreno fértil no IHGMG para relatar a respeito da sua busca incessante pelas origens de JK. Na apresentação sobre o palestrante, o associado efetivo do instituto, Moisés Mota, destacou uma questão pessoal. Numa viagem, em 1998, a Santa Catarina e São Paulo, Petr encontrou mais do que documentos, “mas descendentes de seus bisavós e de centenas de famílias tchecas que ajudaram a tecer o desenvolvimento do Brasil dos tempos coloniais à era republicana”.
E mais disse Moisés Mota: “A dedicação de Petr Polakovic transcendeu a academia. Em Nárlov, região de Ralsko, ele fundou o Museu da Emigração Tcheca para o Brasil, com exposição de cartas, fotografias e objetos enfocando coragem, saudade e esperança. No papel de curador da mostra ‘Pegadas Tchecas no Brasil’, no Castelo de Praga, o pesquisador levou ao coração do governo tcheco a história desses emigrantes que, a exemplo de seus ancestrais, desbravaram sertões e contribuíram para a agricultura, a indústria e a cultura brasileira”.
ROMARIA DE CONGONHAS PODERÁ ABRIGAR...

Contemplado pelo PAC Cidades Históricas com obra de requalificação concluída em 2020, o Centro Cultural da Romaria, em Congonhas, recebe intervenções complementares para receber melhor moradores e visitantes. Segundo a prefeitura local, o espaço, que já tem um cine clube, contará com um café. A atual administração municipal avalia a possibilidade de instalar ali o Museu da História da Mineração, a ser criado em substituição ao Museu da Mineralogia.
...O MUSEU DA HISTÓRIA DA MINERAÇÃO
O Centro Cultural da Romaria abriga o Teatro Dom Silvério Gomes Pimenta, oferecido, a Congonhas, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, também no âmbito do PAC Cidades Históricas. O equipamento cultural também recebe readequações. O nome do teatro homenageia o primeiro bispo negro do Brasil e ocupante de uma cadeira da Academia Brasileira de Letras. Dom Silvério (1840-1922) nasceu em Congonhas.
PAREDE DA MEMÓRIA

O presidente Getúlio Vargas veio a Belo Horizonte, em 17 de outubro de 1937, para a inauguração do Matadouro Modelo, localizado no Bairro São Paulo, perto do atual Parque Guilherme Lage, na Regional Nordeste. De tão importante para o abastecimento de carnes bovina e suína em BH e cidades vizinhas – Santa Luzia, Sabará, Nova Lima, Betim, Lagoa Santa e Sete Lagoas e mais distantes, como Sete Lagoas –, mereceu uma semana de festas. Na época, conforme registrou o EM, trabalhavam ali 97 pessoas, ficando estabelecido que a população não receberia carne sem inspeção dos veterinários. A decadência do matadouro está relacionada, de acordo com informações da PBH, ao processo de expansão urbana nas décadas de 1960 e 1970. Com o florescimento do comércio, novos bairros surgindo e muitos serviços chegando, a questão sanitária foi decisiva para o fim do prédio que exalava mau cheiro e atraía urubus. Vieram outros tempos, principalmente com a instalação do frigorífico da Frimisa, em Santa Luzia, o que deixou o matadouro sem movimento. Funcionou até 1968 e foi demolido na década de 1970. É de se pensar, hoje, como tal construção monumental poderia ser bem aproveitada para fins culturais, educativos ou comerciais.
PATRIMÔNIO EM DESTAQUE

Na quinta-feira (10), a partir das 14h, a sede do Iepha-MG, na Praça da Liberdade, em BH, tem programação especial sobre o diversificado patrimônio cultural mineiro. Haverá o encerramento do ciclo comemorativo dos 200 anos da Expedição Langsdorff em Minas, oficina sobre o acervo documental da instituição e as atividades da Noite Mineira de Museus e Bibliotecas, com temática sobre a Semana Santa mineira. A expedição Langsdorff, chefiada pelo médico e diplomata Georg Heinrich von Langsdorff, o Barão de Langsdorff (1774-1852), alemão a serviço do império russo, merece atenção. O europeu (no retrato) esteve aqui durante nove meses, entre 1824 e 1825, à frente de um grupo de pesquisadores nas áreas de botânica, zoologia, etnografia e linguística, do qual também fazia parte o pintor alemão Rugendas, então com 22 anos. Mais informações no site www.iepha.mg.gov.br.
TURISMO DA FÉ

A Fundação de Arte de Ouro Preto, vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, promove, quarta (9) e quinta-feiras (10), o seminário Bens Culturais e Turismo da Fé. Presença de especialistas, pesquisadores e representantes religiosos, com o foco na discussão sobre impactos da fé na arquitetura, nas artes e nas tradições locais. Na programação, conferências, mesas temáticas e atividades artísticas e culturais e um olhar especial sobre o turismo religioso como ferramenta de desenvolvimento. Será na Cúria Metropolitana de Mariana, que fica na Rua Cônego Amando, 161, São José (Chácara), em Mariana. Transmissão no Youtube. Informações @bensculturaisdafe
REFLEXÕES
Grande defensor do patrimônio cultural e ex-titular da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, joia barroca de Ouro Preto, o bispo auxiliar da Arquidiocese de BH, dom Edmar José da Silva, lança hoje (7), às 19h30, no salão da Igreja Boa Viagem (Rua Sergipe, 175, Bairro Funcionários, na capital), o livro “Provocações existenciais – A vida tem sentido?”. A obra traz reflexões sobre a condição humana, aprofunda questionamentos e leva o leitor a refletir sobre sua existência. Para futuro, padre Edmar planeja um livro sobre a Matriz Nossa Senhora da Conceição, que foi toda restaurada e teve uma bem-sucedida campanha popular para restauração das imagens. No templo, está sepultado Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.