"Sou um vendedor de alegria", diz Paco Pigalle sobre o bar que manteve por 33 anos em diversos endereços de BH

crédito: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press

Depois de pouco mais de três décadas na noite de Belo Horizonte, Paco Pigalle jogou a toalha. No sábado (16/12), o bar que funcionou na Floresta por 20 anos fechou as portas. A decisão foi tomada há mais de dois meses e, desde então, as sextas e os sábados funcionaram como pré-despedida. "Fechei por esgotamento", conta Paco, apontando fatores como o pós-COVID, que provocou mudança nos hábitos, e a queda do movimento. "Quando o movimento de uma casa noturna cai, é preciso muita energia e criatividade, levando ao esgotamento. Eu não tinha mais tempo para mim mesmo", reconhece. Desde 1990, o bar manteve o espírito nômade como característica. Até 2003, foram 13 endereços, um por ano. Houve uma única edição em Porto Seguro, na Bahia, e depois Paco se fixou na Avenida do Contorno.

 

• FORTES EMOÇÕES


Ao fazer o balanço dos 33 anos na noite, Paco diz que viveu emoções fortes nos dois sentidos. "Sou um vendedor de alegria", define-se, reconhecendo que o público procurava seu bar para comemorações sempre num astral bom. "Claro que apareciam fios desencapados, que viram lobisomens. Tem a magia da noite e a realidade administrativa do dia, com as encrencas com a prefeitura, Bombeiros...", cita. Nos próximos meses, a alegria de Paco segue para o outro lado do Atlântico, onde vai fechar negócios com vista aos Jogos Olímpicos de Paris e agenda por Mallorca, Barcelona, Málaga, Casablanca e Marrakech, onde fará a sonoplastia do Agafay Full Moon Run. "O fechamento do Pigalle não é permanente", avisa ele, que no segundo semestre de 2024 estará de volta.

 

 

• LÁGRIMAS NO SORRISO


Sábado passado foi a noite derradeira no espaço da Contorno. Paco sabe que como muitos outros empreendimentos, o dele também ficará na história da noite de Belo Horizonte. Como termômetro do sucesso do bar, ele cita a reação das pessoas quando informa o e-mail na compra de passagem aérea e consultas médicas, por exemplo. "Quando digo paco@pacopogalle.com.br, as pessoas sempre dizem que têm uma boa história de lá." Nos últimos dois meses, Paco diz, com bom humor, que conseguiu levar muitos “pigallosauros” para curtir a noite. Os que não têm mais idade nem força para virar a madrugada curtiram até a meia-noite. Claro que quem esteve na última balada ali não escondeu a tristeza, que só não dominou devido à resistência da tribo pigalliana. "Foram muitas lágrimas no sorriso”, diz ele.

 

• REFERÊNCIA


Paco Pigalle, de 59 anos, é cidadão francês nascido em Casablanca. O pai é marroquino, a mãe, espanhola. Ele desembarcou no Brasil nos anos 1980 e chegou à capital mineira em 1989. DJ e produtor cultural, é referência. Apaixonado por música, ele comandou o programa de rádio “Nômade”.

 

• TORRE DE BABEL


Em entrevista ao Estado de Minas, dois anos atrás, Paco revelou de onde veio sua influência musical. “Cresci na periferia de Paris, morava em um prédio de 12 andares, com 10 apartamentos por andar. Nesses prédios da periferia, nem sempre o elevador funciona. Pela escada, quando passava no sétimo andar, eram só moradores dos Andes; no sexto, da antiga Iugoslávia; no quinto, só africanos. No meu prédio, havia umas 20 nacionalidades. Quando saía do meu apartamento, no 11º andar, eu passava pelos quatro continentes.”