Descontraída, simpática e bem-humorada, Fafá de Belém já estava com a plateia nas mãos quando, anteontem (21/12), no Sesc Palladium, disse ao público, em tom confessional, que o que mais a comovia, o que é a sua guia desde sempre, é o fato de ser uma cantora popular. "Não estou ligada a isso ou àquilo. Dos compositores mais sofisticados aos mais simples, a caminhada é sempre feita no meu coração", disse, emocionada, lembrando que no palco comemora 49 anos de carreira e 67 de vida.
• AMOR À TV
Conversando com a plateia, Fafá lembrou a repercussão que teve em uma de suas primeiras aparições na televisão, quando Artur da Távola – "Um grande crítico, um cronista maravilhoso" – escreveu que, diante dos olhos dele, de dentro da televisão, explodiu uma mulher brasileira "com cara de Brasil, cheiro de Brasil, um sorriso largo, um decote amplo (a plateia riu), trazendo junto de si uma brasilidade que ele não via há muito tempo". Fafá tinha 18 anos e Artur a apresentou como uma menina chamada Fafá de Belém. Ela disse que o início da carreira, logo que chegou ao Rio de Janeiro, não foi fácil. "Tudo foi assustador. A caminhada foi difícil."
• CRISTAL NA GARGANTA
No repertório do show, além de lembrar canções que fizeram sucesso nas trilhas de novelas, Fafá também prestou homenagens aos seus ídolos. Afirmou que foi na televisão que ouviu pela primeira vez um homem com um cristal na garganta cantando uma canção de Marcos e Paulo Sérgio Valle. "Esse homem que foi durante muitos anos um grande amigo meu é Milton Nascimento", disse, para, em seguida, emocionar o público com a interpretação de "Viola enluarada".
• SUCESSÃO DE HITS
Os anúncios do show estão focados nos sucessos que ficaram marcados na voz de Fafá nas trilhas de novela. Ela cantou "Filho da Bahia", que fez parte de “Gabriela”, folhetim exibido em meados dos anos 1970, na Globo. Mas não deixou de homenagear seus compositores favoritos, como Fernando Brant, que compôs "Bicho homem" com Milton Nascimento, nos anos 1980. De Chico Buarque, interpretou “Sob medida”, um dos destaques da noite. Mas foi com "Bilhete", de Ivan Lins, que a cantora mostrou toda a carga dramática que só as grandes intérpretes têm.
• ESPETÁCULO À PARTE
Sempre que perguntam a Fafá quem é sua turma, ela diz que são os músicos. "Fui criada por eles, penso parecido com eles. Vamos aplaudi-los", pediu, considerando o músico brasileiro como um espetáculo à parte. Durante a apresentação, ela defendeu que o Brasil é um só país e um só povo. "Não somos homofóbicos, não somos racistas, não somos nazistas. Somos um povo democrático, que ama seu irmão, o respeita e não vamos aceitar provocações", afirmou, antes dos primeiros versos de “Raça”, outra canção de Milton Nascimento. Momento que ela enalteceu Fernando Brant, Lô Borges, Gil, Caetano, Ivete e Luisa Sonza. "Viva a música brasileira."