Quem diria! Chegamos à nona edição da lista com as palavras mais chatas do ano, com saudades de top, aquela que chegou a ocupar o posto de hours concours no certame. Em um ano em que o sentido e a função das palavras foram banalizados, até este que vos escreve ficou surpreso quando o escritor Leo Cunha apresentou o vocábulo “dor” como sua candidata.



Caro leitor, imagino que a sua cara de espanto seja como a minha ao ler o voto. "Os ‘gênios’ da gestão e do marketing se empolgaram agora com a palavra ‘dor’. No sentido de ‘dificuldade’, ‘problema’. Qual é a dor da sua empresa? Qual é a dor do seu cliente? Dói no ouvido!", disse.

Na justificativa do eleitor ouvido pelo Instituto HIT/HC, vi que bons tempos eram aqueles em que o único absurdo era criticar top, palavra que é sinônimo de falta de repertório.O escritor Daniel Cruz não fica apenas com uma palavra. "Neste ano, a locução ‘inteligência artificial’ ficou extremamente comum, graças ao avanço tecnológico. Infelizmente, a Faixa de Gaza nos relembrou algumas palavras terríveis
de tempos sombrios e muitas pessoas devem ter se perguntado o que é Hamas", disse.

"O movimento gerado pelo fenômeno popular do filme ‘Barbie’ foi tão grande que acabei me cansando da palavra Barbie. O estrangeirismo também me irrita, então ‘threads’ poderia ser levada em consideração. Mas acho que, no final, a palavra mais chata pra mim foi ‘calor’, por causa das temperaturas absurdas de 2023. Bem que podíamos substituí-la por ‘sustentabilidade’."


RAIZ


Usam essa palavra para qualquer coisa que queiram taxar como tradicional.

Daniel Crase, músico


INELEGÍVEL


Palavra que carrega duplo sentimento: o da comemoração pela justiça se apresentando, mas, ao mesmo tempo, traz presente gente que já deveria ter ido para o espaço. Para mim, a mais chata é, ao mesmo tempo, a melhor.

Antônio Grassi, ator


JANONISMO


No mundo da política, a palavra mais chata (e pernóstica), disparado, é... janonismo. Fruto da atuação do deputado federal mineiro André Janones nas redes sociais. Virou até nome de livro. Argh!

Afonso Borges, produtor cultural


PATRIOTA


De novo e de novo e de novo. Simplesmente porque quem é, de verdade, não fala que é. Age em prol do outro sem estampar seu nome em lugar nenhum. Sem grito, sem algazarra, sem querer nada em troca. A turma da “patriotagem” se autointitula assim apenas para legitimar benesses que recebem. Ser patriota virou antônimo de solidariedade, generosidade, diversidade, liberdade, essas palavras, sim, tão boas, tão gostosas de se ouvir.

Luiz Arthur, ator e diretor


TODES


É a pior. Não existe em português e é horrível e desnecessária.

Pedro Paulo Cava, diretor

  

PLENA


Acho-a esnobe e irreal. Me dá ideia daquela pessoa que não faz nada, vive de brisa, imagino que nem água beba, só na champa, não faz ideia do que seja o “corre” do dia a dia. Têm sido tempos duros para muitos, chegamos ao final deste ano nos arrastando. Conversando esses dias com uma amiga querida, Dane Luz, falando que estávamos todos mortos de cansaço, ela me disse: “Ainda bem que fui Jesus na infância e sei que posso ressuscitar no terceiro dia”… Tudo ficou rápido demais. Os raros encontros se tornaram virtuais, as conversas são substituídas pelo WhatsApp. Perdemos em abraço, em afeto, tudo que não é rápido ficou pra depois, e depois a gente já sabe que não existe. E achar-se no direito de dizer estou “plena” é pura alienação.

Mary Arantes, empresária


DESCOBRI


Acho que, na minha área, depois do ‘top’ e do ‘gourmetizar’, foi o tal do ‘descobri’. Foi um tal de gente ‘descobrindo’ locais, sabores e pessoas que estão aí há anos. ‘Descobri o melhor boteco de BH! Ele existe desde 1936.’ Canseira total.

Carol Daher, jornalista


POTÊNCIA


Ela foi usada com tanta potência e frequência que, como tantas outras, coitada, ficou fraquinha, fraquinha.

Gustavo Greco, designer


MINIQUERIDA/O


Expressão que viralizou na internet após uma entrevista engraçada em que uma garotinha dizia não estar muito animada para a volta às aulas.

Flávio Carrilho, fotógrafo

 

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