Como diria a dona de casa que entra ano e sai ano tem de rebolar com a lista da feira, o preço da romã está pela hora da morte. A fruta – uma beleza na forma e nas cores – pode atingir estratosféricos R$ 20. Preço altíssimo, considerando que ela será aberta apenas para fornecer um punhado de sementes e depois ficará largada pelos cantos. Tema das conversas deste sábado, Dia de Reis, a romã é disputada para os pedidos de saúde, amor e prosperidade dirigidos aos Reis Magos, que levaram incenso, mirra e ouro de presente para o recém-nascido Jesus, em Belém.
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Simpatia, claro, é sempre bem-vinda, tradição antiga. Considerando as definições desta palavra – “estado sentimental que se assemelha ao amor”; “capacidade de dar atenção aos sentimentos de outra pessoa” –, não dá para não ter simpatia pela simpatia. Mas muita calma nesta hora. O que adianta correr às bancas em busca da romã mais robusta, cujas sementes parecem pequenos rubis, escarlates e brilhantes, se não damos a mínima para quem nem consegue frequentar feiras, vivendo à espera de doações de legumes e verduras para matar a fome?
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É até cara de pau pedir bênção aos Reis Magos se nos esquecemos de que, mesmo com nossas dificuldades, estamos dentro de uma bolha, de onde raras vezes saímos na tentativa de construir um mundo melhor, sobretudo para quem nada tem.
Na manhã da última segunda-feira, 1º de janeiro, uma estrutura de tamanho considerável, o famoso “burro sem rabo”, que provavelmente pertence a um catador de lixo, estava abandonada na Avenida Afonso Pena entre ruas Guajajaras e Pernambuco. Era uma visão triste nas primeiras horas do ano que acabara de nascer. Ressaqueada pelas infinitas doses de espumantes, a cidade parecia não se dar conta dos dilemas que desafiam 2024, como a pobreza e a fome.
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Haja romã para garantir os desejos de um mundo maravilhoso, se não abrirmos os olhos e buscarmos coletivamente forças para, junto dos poderes públicos municipais, estaduais e federais, transformarmos para melhor o que está fora da bolha. Se para a dona de casa o preço da romã está pela hora da morte, o que dirão os puxadores de “burros sem rabo” que se matam para tirar a sobrevivência do lixo nas ruas? Não é fácil. Para eles, o preço de uma romã equivale a almoçar, jantar e tomar café da manhã cinco vezes por semana no Restaurante Popular de Belo Horizonte.
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Se não fizermos a nossa parte, nada, absolutamente nada, nem mesmo as romãs, terão o poder de nos dar o mundo que desejamos. Com a “expertise” de cobrir tantas viradas, relaciono os minutos da contagem regressiva com os segundos em que o mergulhador sai do fundo mar, vai à tona, enche os pulmões, vê a beleza das estrelas e volta para o oceano em busca de descobertas. São essas pequenas delicadezas que nos movem. No réveillon, por exemplo, quem foi à Praça da Liberdade ficou com a imagem encantadora dos copos lagoinha, formados por drones, brindando o novo ano. Foi lindo.
Que não nos esqueçamos de que o bem coletivo é o que fortalece a sociedade e garante dias melhores para todos. Como simpatia não faz mal a ninguém, segue a que faço há muitos anos: retire nove sementes da romã, pedindo aos Reis Magos – Baltasar, Belchior e Gaspar – saúde, amor, paz e dinheiro no ano que se inicia. Separe três sementes, coloque-as em um papel (uma nota de real novinha, de preferência), dobre e guarde na carteira. Isso garante que não falte dinheiro. Três sementes você engole. E jogue para trás as outras três que sobraram.
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Que 2024 seja um bom ano, marcado pelo compromisso de todos nós com o coletivo.