Bia Lessa guarda dos tempos de menina lembranças pouco agradáveis das cidades históricas para onde era levada pelo pai em passeios de família. Tiradentes fez parte desses roteiros. “Aqueles santos feridos ficaram como um pesadelo na minha infância. Sonhei muito com as imagens com roupas roxas, do tamanho natural. Engraçado como criança é, né?! De fato, tem uma coisa no catolicismo que é muito opressora”, diz a diretora. Mas ao voltar agora a Tiradentes, o sentimento é de alegria, afirma. “A cidade está muito viva”, elogiou Bia, que apresentou “O diabo na rua no meio do redemunho” na mostra de cinema em cartaz lá.
A sessão do filme baseado em “Grande sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, foi uma das mais disputadas da mostra de Tiradentes, que termina sábado. Os 600 lugares do Cine Tenda esgotaram. A diretora contou para a coluna que não conseguiu acompanhar a sessão enquanto o filme passava. “Uma hora, pedia para aumentar o som, no outro momento, eu ficava lá atrás. Fico em ação”, diz, comovida com a qualidade da projeção. “Isso é fundamental e mostra respeito pela obra”, elogiou.
• MOMENTOS TENSOS
Bia Lessa voltou para o Rio de Janeiro com boas lembranças. “Foi uma coisa muito linda estar em Minas Gerais e ver aquele teatro lotado”. Mas teve medo quando soube que seu filme seria exibido às 22h. “Esta obra precisa de introspecção”, matutou. Quando chegou ao Cine Tenda e viu que o longa anterior – “Terror Mandelão”, de Felipe Larozza e GG Albuquerque – era sobre funk, pensou: “Dá vontade de sair para a festa e será exibido antes do nosso...” Para complicar, houve atraso. Mas na sessão lotada de “O diabo...”, ela estava visivelmente emocionada.
• ESTRELA DA RUA DIREITA
O astro de Tiradentes, apesar das estrelas do cinema que circulam por lá, tem quatro patas, 6 anos e atende pelo nome de Dom – o golden retriever que joga charme para todos que passam pela Rua Direita. Da janela da casa de sua tutora, Maria Aparecida Nascimento, ele pede carinho a adultos e crianças. “Sempre foi um lord”, elogia Cidinha. Presente do primo, Francisco, e batizado pela filha dela, Júlia, Dom foi companheiro fiel de Maria José, mãe de Cidinha, que morreu há quatro meses.
• CÃOPANHEIRO
Dom não largava dona Maria José. O hábito de ficar na janela começou há seis anos. Desde então, ele assiste de lá ao movimento da rua, ao cortejo da mostra, a procissões religiosas e, claro, ao carnaval. No último sábado, até Bia Lessa passou por lá e se encantou com Dom.