Você pode não conhecer o som dos Residents e nunca ter ouvido falar dos caras da banda. Curioso, o estudante mineiro Eduardo Laucas, admirador do trabalho do grupo, fez um documentário sobre ele. “Desde o início, os Residents tentaram ostensivamente esconder suas reais identidades. Isso vem pelo fato de seguirem uma teoria, conhecida como 'Teoria da Obscuridade', que, resumidamente, defende que o reconhecimento do artista deve vir totalmente de seu trabalho e não de sua aparência. Por esse motivo, ninguém sabe ao certo quem são os membros da banda, apesar de algumas suspeitas”, conta Laucas, de 16 anos.
Sem limites
O som do The Residents é algo “totalmente sem limites”, diz o jovem fã. “Durantes 50 anos, eles não
tiveram nenhum medo de experimentar todos os gêneros, métricas e organizações fonéticas.
São músicos de muita competência, mas decidiram produzir só aquilo que têm vontade, sem nenhum objetivo comercial. Isso faz com que o som seja extremamente cacofônico, experimental e muitas vezes até assustador para alguns, trazendo métodos originais e incomuns de composição”, explica.
Recomendação
Eduardo Laucas decidiu produzir o documentário depois do impacto que sentiu ao ouvir o álbum de estreia, “Meet The Residents”, recomendação de seu amigo Paulo. “Não senti nada além de fascínio. Não foi um choque tão grande, pois estou acostumado com música ultraexperimental. Me surpreendi com a quantidade absurda de elementos inusitados”, diz o fã de carteirinha, que escutou – sem parar – mais outros quatro discos da banda.
A partir disso, pesquisou durante meses e investigou a história do grupo. “Pelo fato de não terem nenhum tipo de fama, é extremamente difícil garimpar informações”, revela. Foram quatro meses de batente até decidir filmar. “Não há, ou melhor, não havia, até o dia da publicação do documentário, nenhum vídeo ou filme contando a história completa deles, dos anos 1950 até 2024”, informa o mineiro.
Intercâmbio
Durante oito dias de janeiro, com ajuda da Meet The Residents Wiki, Laucas escreveu o roteiro de 17 páginas sobre a banda americana. Porém, o que exigiu mais paciência ainda foi a gravação dos áudios. Como Eduardo fazia intercâmbio no Canadá e morava na casa de uma professora particular de francês, ele não poderia fazer muito barulho lá. “Todos os dias em que queria gravar, eu pegava um ônibus à noite para a área menos movimentada da cidade, o que levava muito tempo”, relembra.
Em português
Mas difícil, mesmo, foi a edição. “Sempre soube editar, já tinha experiência, mas queria fazer algo de primeira qualidade. E mais importante: que durasse pelo menos 40 minutos, pois os arquivos de áudio bruto acumulavam uma hora e 17minutos.” Após duas semanas de muito trabalho, Eduardo postou o vídeo em seu canal no YouTube. A ideia inicial era gravá-lo em inglês, língua que Eduardo domina. Desistiu, pelo desejo de fazer algo para os amigos, a família e para os fãs do grupo.
"Verdadeiro de amor"
Tanto esforço valeu a pena. Recentemente, Eduardo recebeu e-mail da Cryptic Corporation, administradora da banda, informando ter mostrado o vídeo para os próprios Residents. “Eles gostaram bastante, elogiaram dizendo que é 'um trabalho verdadeiro de amor' e que 'a fluidez das imagens é simplesmente perfeita', o que me deixou profundamente feliz”, comemora. “Disseram também que iriam divulgar meu doc nas redes sociais. Não postaram nada ainda, mas creio que uma hora vai acontecer.”