O dramaturgo Mauro Alvim não sabe com exatidão quanto tempo dedicou ao livro "Justiça seja feita", que acabou de lançar, por conta própria. "Este romance não é de agora", afirma.
"Há muito que eu vinha tentando emplacar uma novela de minha autoria em alguma rede. Cheguei a escrever a sinopse, perfil dos personagens e mais cinco capítulos. Em todas as que procurei, o pessoal da cúpula falava que tinha adorado, mas a promessa de sempre: 'Depois a gente se fala'".
Sem respostas, Mauro Alvim decidiu transformar o material em romance. "Nem sei quanto tempo demorei para escrevê-lo, sempre me surgia uma ideia nova para inserir na história."
UM CURTA, UM LONGA
Nome conhecido no teatro, Alvim também é autor de um livro de contos, “Mineiríssimo”, prefaciado por Lauro César Muniz. "Em termos de comparação com o cinema, o conto é como se fosse um curta-metragem e o romance seria um longa", diz, comparando os gêneros literários.
"Quando me sento ao computador para escrever um conto, a história já está pronta na minha cabeça, ao passo que o romance já é um processo que não é feito da noite para o dia, envolve muita pesquisa, muita concentração", afirma.
DE PAI PARA FILHA
Mauro Alvim reconhece que escrever é seu forte, não apenas para o teatro. Talento que segue passando adiante. "E por este caminho está indo minha filha, Júlia Alvim, sendo que seu forte é a poesia."
A estreia do autor no teatro foi na década de 1980, depois de ter sido convidado pelos produtores Dilson Mayron e Amauri Reis para escrever uma comédia de teatro de revista, "Com jeito vai". "Fui em frente e acabou sendo um estouro de bilheteria. Daí que fiquei entusiasmado com a coisa e, mãos à obra, escrever para o teatro virou uma cachaça."
BOM HUMOR
Entre contos, romance e dramas, Mauro Alvim não pensa duas vezes antes de afirmar que comédias são o seu forte. "Dizem que sou um cara sisudo, mas, quando me proponho a escrever uma comédia, os fatos engraçados fluem naturalmente. Mas tenho dramas escritos também", diz, lembrando que, depois que se casou e passou a conviver com o povo da cidade da esposa, ouvindo os causos sertanejos, a sua dramaturgia mudou.
"Passei a seguir a linha de Ariano Suassuna e Guimarães Rosa e nessa fase de comédia farsesca foram as que eu mais gostei de escrever. Dentre estas, ‘O diabo também faz milagre’, além de ter sido um sucesso estrondoso de público, foi publicada pela revista SBAT e posso dizer que é a minha preferida."
PARA RIR
Mauro diz que poucos são os produtores que querem investir em dramas. "Isto porque o povo gosta mesmo é de comédias, a explicação é que o brasileiro é um povo alegre e gosta de rir", comenta. "Drama pesado só enche teatro em BH quando tem alguma celebridade vinda do Rio ou São Paulo e que põe a cara na telinha.
Não apenas BH, mas no Brasil inteiro têm excelentes autores buscando meios para encenarem seus textos, uma grande maioria acaba por produzir suas obras e sem incentivo algum, é difícil, não apenas para nós mineiros, mas também para os globais".
Alvim e o produtor Vinícius Di Castro estão produzindo uma peça teatral de minha autoria, a comédia "O pacotão dos traídos" com estreia prevista para julho e sem nenhum patrocínio até o momento. "Todo o grupo faz de tudo um pouquinho para ajudar na produção e vamos que vamos sem deixar a peteca cair, confiantes de que vai ser um sucesso pois o pessimismo é a filosofia dos mortos insepultos".