Daniel Moreira e Eder Chiodetto no Centro Cultural Unimed-BH Minas, em Lourdes

 -  (crédito: Orlando Bento/Divulgação)

Daniel Moreira e Eder Chiodetto no Centro Cultural Unimed-BH Minas, em Lourdes

crédito: Orlando Bento/Divulgação

Em todas as aberturas de suas exposições, o fotógrafo Daniel Moreira tem o hábito, que adora, de se fazer desconhecido e ouvir os comentários do público.

“O que me instiga é escutar e discutir com pessoas que têm visões diferentes da mesma obra”, comenta. Na quarta-feira (1/5) passada, ele repetiu o ato na mostra “Bordas não brotam do nada” e ficou satisfeito com o que observou.

 

“Percebi uma curva de satisfação do público acima do normal, não só em relação às obras expostas. Ouvi muitos elogios ao projeto expográfico e ao recorte curatorial também”, afirma.

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Daniel se diz honrado por ter sido convidado a abrir a programação de exposições do Centro Cultural Unimed-BH Minas de 2024, com a volta da galeria que estava fechada para reforma.

 

“Foi realmente emocionante ver a galeria cheia de artistas de diversas áreas e gestores de diversos equipamentos da cidade, como Fundação Municipal de Cultura, Secretaria de Cultura de BH, Casa Fiat, CCBB BH e Museu de Arte da Pampulha”, conta.


• RESPEITO AO PRÓXIMO
“Bordas não brotam do nada” reúne 44 imagens produzidas a partir de 2009 na região do Barreiro e na BR-381, com indivíduos que vivem à margem. Quando a montagem da exposição foi concluída, Daniel caminhou sozinho pela galeria, em silêncio.

 

Percebeu que, apesar de apresentar diversas séries e obras de épocas diferentes, tudo estava alinhado. “Imagens que não eram da mesma série ou da mesma década conversavam entre si. Isso é difícil alcançar, criar a linguagem própria”, diz ele, observando que a exposição mostra o amadurecimento de seu trabalho ao longo de duas décadas.

“Por mais que tente produzir algo diferente, meu interesse sempre volta para questões sociais. Em 'Bordas não brotam do nada', tento reunir duas realidades distantes: o público que frequenta o Minas Tênis Clube e os moradores das periferias das cidades.”

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Daniel Moreira cita o curador Éder Chiodetto, que definiu a mostra como a exposição da troca de olhares. “Os retratos, quase em sua totalidade com expressões fortes e olhar fixo, como se negassem o ato de submissão às classes mais favorecidas financeiramente.

 

Os retratos posicionados à altura dos olhos do espectador criam um diálogo silencioso entre a obra e o público. É uma exposição que fala da vida, da humanidade e de respeito pelo próximo.”


• ACOLHIMENTO
Escolher a foto preferida é difícil para Daniel. Mas ele tem carinho especial pela imagem que abre a exposição: a garota Caroline, deitada numa piscina de plástico, relaxa na laje de sua casa, entre o céu e a Terra.

 

Na série “Sob o mesmo céu’’, Daniel fotografou moradores e interiores de casas do Vale das Ocupações, conjunto de ocupações urbanas na região do Barreiro. A primeira pessoa que o acolheu foi Janaína, mãe de Carol. “Acabei me tornando amigo de toda a família. Criei um carinho especial por eles, que foram à abertura da exposição.”


• RECORTE
O curador Eder Chiodetto foi fundamental para a construção deste projeto. “'Bordas não brotam do nada' é um recorte de imagens retiradas do livro homônimo que lancei em 2023. Após reorganizar as fotos do livro, Eder me instigou a selecionar aquelas que nunca havia exposto. Construindo conjuntos de imagens que conversam entre si, durante o processo de curadoria resolvemos apresentar imagens em suportes diferentes”, explica.

 

O processo está visível, aponta Daniel, na série “Paisagem Ambulante 381’’: “As fotografias dos andarilhos, com 170 centímetros de altura, estão apoiadas no chão da galeria, ganhando status que mais se assemelha à escultura, lembrando os profetas do mestre Aleijadinho.”


• PAUSA
Desde o final de 2022, Daniel Moreira fez individuais no CCBB brasiliense, Tribunal de Contas da União, galeria Index, em Brasília, e galeria Lemos de Sá, em BH, além de participar de coletivas e lançar dois livros: “O livro das ocupações” e “Bordas não brotam do nada”.

 

O artista pretende parar de expor por um ano para renovar sua produção, abordando novos temas que deseja explorar. Conta que ainda não teve tempo de se aprofundar na pesquisa sobre eles por causa da agenda.