Pergunta que nos últimos dias deixou muita gente de cabelo em pé: afinal, quanto vale o show de Madonna? Ou melhor: será que valeria mesmo tanto dinheiro para trazer a rainha da música pop ao Brasil? Deixem as perguntas, por enquanto sem respostas, no metaverso de quem não entende nada de entretenimento, música pop, economia e está atrelado a uma cartilha de costumes retrógrados e hipócritas. Façamos uma viagem curta ao tempo e mergulhemos novamente em Copacabana, que sábado (4/5) ferveu com 1,6 milhão de fãs, em busca de emoções de quem viveu um momento histórico.
• COM A CARA NA GRADE
Começando pelo autor desta coluna, que desde 1993 viu, no Brasil, as quatro turnês da cantora. Desta vez, com detalhe considerável: a idade não é a mesma de tempos atrás e, óbvio, o cansaço consome o corpo mais rápido. Sempre observei com certo pavor quem chega cedo para garantir a primeira fila dos shows e ficar literalmente com a cara colada na grade. Mas, como na vida, tudo que vai, vem. Sábado, eu era essa pessoa grudada na grade. Show marcado para 21h45, considerei que chegar duas horas e alguma coisa antes seria bom. Bingo, acertei. Toda a extensão do cercado em frente ao palco estava livre. Minha muleta e eu não tivemos problema a não ser o exercício de paciência, afinal dali só sairia cinco horas mais tarde. Madonna é Madonna, a chance irrecusável. Não passou muito tempo, o espaço ficou entupido.
• OLHA A ÁGUA MINERAL
Na primeira hora, foi difícil. Pé e pernas deram biziu. Além do desgaste na cabeça do fêmur, há meses sofro com as sequelas da chikungunya. Do nível do chão, era tenso ver o volume de pernas e pé aumentando e cobrindo a vista "livre" que eu tinha. Água era oferecida com fartura, mas, na dúvida, melhor não. Sair para o banheiro poderia ser o fim de um sonho. Poucos minutos antes do horário marcado, o frenesi: afinal ela vem ou não vem. Àquela altura, pés e pernas anestesiados, mas o humor ia bem até os primeiros acordes de "Nothing really matters", que começa no fundo do palco, posição que não favorecia minha localização. Até a encenação engrenar e vir para frente, demorou um pouquinho, mas daí em diante a certeza que tudo valeu a pena. Antes do fim, saí em direção ao apartamento onde eu estava, logo ali, do outro lado da Atlântica. Saí sem atropelar dedões, sem pegar aquele mar de gente e com uma vontade danada de ver o show em looping.
• QUE SORTE
Leo Assumpção é a prova de que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar. Ele que havia sido convidado pelo banco patrocinador do evento para área vip, ganhou direito de upgrade para o pit, área dentro do palco, quando atendeu a um pedido da produção do evento e postou em uma rede social as tatuagens feitas em homenagem à Madonna. Ele tem sete, mandou duas fotos. "O mais legal é que eram só fãs. Não havia celebridades", conta. "Foi arrebatador", disse ele sobre o show e o fato de ter feito fotos de Madonna sem zoom de tão perto que estava. "Ontem (domingo) voltei para a realidade", brinca. Mas é inegável que a sorte sorriu pra ele, que viu Madonna como poucos consegue vê-la, diva, de pertinho.
• VIAGEM NO TEMPO
Carina Woldaynsky, que é secretária executiva, em entrevista ao Divirta-se, caderno de fim de semana do Estado de Minas, relatou a este repórter por que seguiria sem o marido e de excursão bate-volta à Copacabana. Aventura que ela não se arrependeu. “Finalizei o dia emocionada e feliz!” Quando o DJ Diplo estava tocando, Carina chegou e foi se espremendo na multidão, próximo à primeira torre de projeção. Conseguiu ficar próxima a um dos pontos da polícia que estavam espalhados pela areia. "Claro que eu sabia que um show para mais de 1 milhão de pessoas, o palco seria enorme e não conseguiria vê-la a 'olho nu''', comenta entre risos. "Mas as projeções, escolha do repertório, bailarinos, homenagem aos que já se foram e aos nossos artistas, tudo foi mil. Viajei no tempo. As músicas do início da carreira remeteram ao 'The virgin tour', quando vi muitas vezes o show que gravei em VHS. E ela fez referências às performances e turnês antigas." O ônibus de Carina chegou cedo, parou na Cinelândia e seguiu para Ipanema para evitar "o vuco vuco da Madonna por lá". Ela levou uma mochila, que a acompanharia por todo o dia, inclusive no show. "Após a praia, tomei banho no Posto 8, fiz um lanche e depois segui a pé para Copacabana. O resto é história." E para quem quer saber quanto valeu o show de Madonna no Rio, o balanço do governo do estado aponta algo em torno de R$ 300 milhões em retorno financeiro.