Os atores do grupo  foram a skien, Cidade de Ibsen, receber o prêmio para produzir a peça  -  (crédito: Davds Lacerda/Divulgação)

Os atores do grupo foram a skien, Cidade de Ibsen, receber o prêmio para produzir a peça

crédito: Davds Lacerda/Divulgação

 

O Grupo Teatro da Fumaça, de Belo Horizonte, retornou da Noruega, onde recebeu prêmio para criação de espetáculo no festival Ibsen Scope.

 

A coluna conversou sobre a viagem com João Santos, um dos integrantes do coletivo. "Não fomos ao festival este ano como parte da programação artística. Estávamos ali para receber o prêmio, ao lado de colegas da África do Sul, do Líbano, do Reino Unido e de Cuba. Iríamos apenas apresentar o projeto do espetáculo que iremos desenvolver, com o apoio do Ibsen Scope", conta.

 

 

Mas, dada a paixão do grupo pelo ofício teatral, decidiram apresentar uma cena. "Assim criamos a ‘Grande conferência’ (que batizamos com o mesmo nome do Ato IV de ‘Um inimigo do povo’, de Ibsen). Não se trata de uma cena da peça, mas sim uma apresentação teatralizada do nosso projeto, em que optamos por falar menos de Ibsen do que de Minas Gerais, de Brumadinho, de Bento Rodrigues e de Augusto Boal", diz.


• APLAUSOS CALOROSOS


"Fomos, de fato, os únicos vencedores que encenaram a apresentação do projeto. Cantamos Milton Nascimento, criamos uma iluminação original operada por nós mesmos, elaboramos marcas, movimentações e ainda exibimos um vídeo dentro desta cena, apresentada em português, inglês e, ousadamente, norueguês", acrescenta João, lembrando que ele e os colegas estavam tensos, mas seguros da qualidade do trabalho.

 

Mesmo assim, não esperavam uma recepção tão positiva. "Aplaudidos três, vezes ainda em cena, fomos saudados com muito entusiasmo pelos colegas dos outros países."

 


• “MINERAL IBSEN”


Sobre Skien, ele descreve como pequena e bela cidade, a cerca de 130km de Oslo, a capital norueguesa. Estátuas, pinturas e homenagens ao seu filho mais célebre podem ser observadas em cada esquina da cidade que abriga o Ibsen Scope, fundação que preserva o legado do autor de clássicos do teatro, como “Casa de bonecas”, “Peer Gynt” e “Hedda Gabler”, promovendo também, ali, um festival bianual.

 

"Este mesmo festival premia artistas e coletivos teatrais de todo o mundo, patrocinando abordagens originais da obra de Henrik Ibsen. Neste ano, nós, do Teatro da Fumaça, fomos os
únicos representantes da América do Sul entre os premiados com o Ibsen Scope Grant", conta, com orgulho.

 

 

"Nosso projeto, ‘Mineral Ibsen’, aproxima o conflito entre interesses econômicos e a preservação da vida, presentes em “Um inimigo do povo”, da realidade das cidades mineiras diretamente ameaçadas pelas grandes mineradoras", afirma.


• PARCERIA


Para desenvolver esse trabalho, João diz que o coletivo vai contar com a parceria do grupos teatrais Atrás do Pano, de Nova Lima; Flor de Maio, de Itabirito; e Sobrilá, de Sabará, além de explorar práticas e conceitos de Augusto Boal.


• LOUCURA E PAIXÃO


Além de “Mineral Ibsen”, previsto para 2025, o Teatro da Fumaça prepara para este ano “O mundo está em chamas, o teatro também tem de estar”, com dramaturgia de Jean Gorziza, e iniciará outras duas pesquisas: “Canção de engate”, concebido por Itallo Vieira, e “Restos de Carnaval”, com dramaturgia de Júlia Oliveira.

 

"Muita loucura, muito desejo e muita paixão. Sinto que fundar um grupo de teatro, hoje, é como escrever uma carta de amor ao futuro. E, às vezes, o futuro nos responde com algum carinho, como foi essa nossa inacreditável excursão ao Norte global", comenta.