Começo a escrever esta coluna na madrugada de quinta-feira (2/5), dentro de um ônibus, a caminho do Rio de Janeiro, em meio a uma insônia que me persegue desde o embarque na rodoviária de BH. Mesmo com o desconforto, vale o esforço para fazer coro com os esperados 2 milhões de apaixonados por Madonna em Copacabana, no show que fecha com chave de ouro a "Celebration tour", giro vitorioso de uma artista que, aos 65 anos, mostra pique de adolescente. O sono não vem sem motivo. Afinal, rever a trajetória de Madonna, para qualquer fã, é revisitar a própria história.


• MICHAEL, MADONNA E BIA
Voltar ao passado com Madonna não é melancólico. Como ícone pop de gerações, ela colocou muita gente de cara com o fascínio dos grandes shows. Em novembro de 1993, em excursão, entrei pela primeira vez no Maracanã e, também pela primeira vez, senti a emoção inigualável de um show internacional. Ficamos no fundo do estádio, onde, com sorte, via-se a silhueta de quem estava em cena. Para quem tinha pouco mais de 25 anos, tudo era festa. "The girlie show", turnê do disco "Erotica", foi apresentada meses antes de Michael Jackson passar por São Paulo. Aí, sim, uma grande saudade. Recém-chegado a este jornal como repórter, bati longos pagos com Beatriz Salles, que, com o tempo, se transformou em grande amiga. Ela viu Michael, mas não Madonna. O papo, como sempre foi com Bia, era uma delícia, mesmo com cada um tentando vencer no quesito "o meu show foi melhor". Fico pensando como seria a minha conversa com Maria Beatriz, hoje, às vésperas do que pode ser um show histórico.


• STRIKE A POSE
Quem viveu a efervescência do fim dos anos 1980 curtia os videoclipes na TV. Mas, naquela época, os vídeos de Madonna, como "Everybody", eram bem cafonas. E as dancinhas? Não dava para chamar aquilo de coreografia. Mas amávamos, afinal, Madonna nasceu com a coroa da nobreza pop e, por isso, tinha direito a tudo. O tempo passou, Madonna virou a grande artista que é, com obras que se tornaram referência também no audiovisual. As dancinhas? Depois de "Vogue", ninguém tem o direito de abrir a boca para falar mal dela.


• GOLPE
Quinze anos depois, ela voltou ao país com "Sticky and sweet tour". A agenda de shows internacionais no Brasil ia na melhor fase, mas registrava tumultos como o do primeiro show do U2, no Rio, em 1998. Eu estava lá e não esqueço o caos que foi a volta para casa. Pegamos um táxi, literalmente, no laço, quando alguém bateu na janela, implorando carona e dizendo que dividiria a corrida, quando chegasse à Zona Sul. Na entrada de Copacabana, o golpista pulou fora do táxi.


• EM SAMPA
“Sticky and sweet tour” é um dos melhores shows de Madonna. Vi o show de pertinho, em São Paulo, em 2008. Madonna era, com louvor, a dona de seu reino pop. Graças a um convite de amigo (eles sempre imortalizam os melhores momentos de alegria da minha vida), no carnaval de 2010, vi Madonna no meu nariz. Foi fazer presença VIP no camarote da Brahma. Pois é. Ela nunca foi ex-BBB, tinha uma carreira a zelar, mas já faturou como presença VIP. E, sem celular e suas câmeras poderosas, não tenho uma selfie com a diva. Dois anos depois, ela voltou com “MDNA tour” e, de novo, o Rio era uma festa.


• DO LADO DELA
Para provar que o destino é sempre nosso amigo, termino a coluna literalmente na cara do gol. Da mesa onde estou, consigo ver a movimentação em torno dos últimos ensaios de Madonna, antes do show deste sábado (4/5), assim como o vai e vem na porta do hotel onde ela está. Mais divertido, impossível. A Rainha do Pop deu sentido às nossas trilhas sonoras. Mais que isso, ela é artista de grande força política, especialmente nas lutas LGTBQIA+ e feminista, causas que, inacreditavelmente, mais do que nunca precisam de vozes como a da Material girl.

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