Chico Buarque beija fã durante sua visita a BH, em dezembro de 1966 -  (crédito: Reprodução Gedoc/Leandro Couri/EM/D.A Press)

Chico Buarque beija fã durante sua visita a BH, em dezembro de 1966

crédito: Reprodução Gedoc/Leandro Couri/EM/D.A Press

 

 

Belo Horizonte parou para ver Chico Buarque numa manhã de quinta-feira, no final de 1966. Anúncio da loja Pep's, publicado no Estado de Minas, anunciava desfile de bandas da capital, Ouro Preto e de Mariana, “espalhando marcha alegre pela Avenida Afonso Pena, comandada por Chico Buarque de Holanda”. O compositor chegou à cidade 38 dias depois de vencer com a canção “A banda” o 2º Festival da Música Popular Brasileira, o Festival da Record, em 10 de outubro de 1966.

 

 

 


• DISCO AUTOGRAFADO


No meio da tarde, Chico daria autógrafos na sede da loja, na Rua da Bahia, o mesmo endereço onde mais tarde funcionariam a Sears e o Shopping Bahia. Hoje é um estacionamento. Foi uma loucura. Reportagem do EM informou que 30 mil pessoas lotaram o trecho da Bahia, entre as avenidas Augusto de Lima e Afonso Pena, desde as onze da manhã, quatro horas e meia antes do horário marcado. Na Pep's, que trouxe o artista como atração de sua promoção Natal, mais de 2 mil pessoas levaram o disco autografado para casa, de acordo com a reportagem.

 

 

Multidão se reuniu na Rua da Bahia para ver Chico na loja Pep's

Multidão se reuniu na Rua da Bahia para ver Chico na loja Pep's

Oldack Esteves/EM/D.A Press

 


• COM O GOVERNADOR


Chico teve um encontro oficial. Acompanhado pelos diretores da Pep's, Geraldo Gonçalves e Vicente França, o cantor entregou ao governador Israel Pinheiro um disco autografado. A primeira-dama, dona Coraci Pinheiro, recebeu um talismã: o bonequinho Mug que dava sorte ao dono, segundo o músico. O bisavô mineiro da canção de Chico, José Cesário de Faria Alvim, governou o estado no final do século 19.

 

Chico Buarque com o governador de Minas, Israel Pinheiro, e a primeira-dama, dona Coracy, em dezembro de 1966

Chico Buarque com o governador de Minas, Israel Pinheiro, e a primeira-dama, dona Coracy, em dezembro de 1966

Reprodução Gedoc/Leandro Couri/EM/D.A Press

 


• “SANDUICHIZADO”


“Quando Chico Buarque de Holanda apareceu, feito ilha cercada de braços e gritos por todos os lados, a Banda do 5º Batalhão da PM atacou, frenética, a música que todos estão cantando no momento. Desde o Oiapoque ao Xingu”, descreveu o repórter Jésus Rocha, na matéria de página inteira do EM. “O moço entrou, sanduichizado pelos guardas-costas, guardas civis e o povo, enquanto cá fora os homens da PM continuavam 'cantando' a banda e outras coisas de amor. A fila foi longa. Descia a Bahia, subia a Goitacazes até a esquina da Espírito Santo. O compositor, camisa esporte, discreto, sentou-se num tamborete no palanque especialmente armado, no segundo andar da loja”, contou Jésus.

 

Fãs lotaram o segundo andar da loja Pep's, na Rua da Bahia, para ver Chico Buarque, em 1966

Fãs lotaram o segundo andar da loja Pep's, na Rua da Bahia, para ver Chico Buarque

Oldack Esteves/EM/D.A Press

 


• RABISCO


Chico Buarque declarou que por causa dos compromissos, quase não dormia. “Nos primeiros autógrafos (dados em discos, cadernos..), saía o nome todo. Mais para o fim, só 'Chico', rabiscado. Outra prova de cansaço: quando recebia beijos na face (oferenda das fãs mais exaltadas), ele conservava o mesmo ar: um começo de sorriso”, anotou o repórter.

 


• CANSAÇO


Quando deixou o Palácio da Liberdade, Chico avisou que se não dormisse um pouco, não teria corpo e garganta para aparecer no Minas Tênis Clube. “Ao que parece, dormiu bastante. Pois no Minas, a partir das 21 horas, ele se mostrou perfeito, nas dimensões tranquilas de sua arte e personalidade”, descreveu o EM. Oito mil pessoas lotaram o ginásio para ver o show do autor de “A banda”, mas cerca de 4 mil fãs não conseguiram entrar.