Que teatro é coisa séria, a gente já sabe. Basta olhar para o lado e ver, especialmente em Belo Horizonte, o número de grupos, diretores, atores, técnicos que lutam para manter viva a arte teatral. O curioso é que há 70 anos, longe das escolas de arte dramática ou dos espaços de ensaios, mas dentro da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o teatro se mantém vivo através do “Show medicina”. Toda a equipe – direção, produção, elenco e técnicos – é formada por alunos da escola. Não há profissionais de teatro envolvidos. E funciona muito bem. A temporada de 2024, “De enchente a queimada, o mundo acaba em piada”, lotou o teatro Sesiminas, de quinta-feira (7/11) a sábado (9/11), em pouco mais de duas horas divididas em prelúdio e dois atos, algumas vezes com aplausos em cena aberta.

 


 




DANGELO E MACHADO

O teatro chegou à medicina por obra do destino e pelas boas mãos de Jota Dangelo. Em meados dos anos 1950, ele, que estava no quinto ano do curso, foi convidado pelo Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG para participar de uma semana cultural. Topou a empreitada, mas foi graças ao professor Liberato Di Dio que ficou sabendo que na Faculdade de Medicina de São Paulo os alunos brincavam com as matérias do curso com humor e cenas absurdas em um espetáculo chamado “Show medicina”. A ideia casou com um dos desejos de Dangelo, que lutava com Carlos Kroeber, João Marschner, Neuza Rocha e Firmino de Almeida pela criação de um Teatro Universitário. Em entrevista à coluna, em meados deste ano, Dangelo lembrou a importância do professor Angelo Machado. “No ano seguinte à estreia do ‘Show medicina’, ele, com seu talento teatral inusitado, juntou-se a mim e por mais de 10 anos ficamos à frente do empreendimento, produzindo os textos, dirigindo-os e, mais, interpretando-os com a turma, como nós dois, de atores improvisados. Bom, muito bom que o ‘Show’ tenha continuado por todo este tempo, graças ao talento natural, vontade, disposição e entusiasmo dos alunos da Faculdade de Medicina da UFMG.”

 

 

VALEU TUDO

O texto do show tem, óbvio, brincadeiras diretas ao universo do curso de medicina, que são piadas de fácil tradução para os estudantes. Mas quem não está familiarizado ao mundo dos médicos não fica perdido. Com boas referências ao cinema e ao cotidiano de todos nós, a montagem diverte a plateia, iniciados ou não na medicina. Claro que a cereja do bolo, as cenas de luz negra, é o que mais diverte e emociona a plateia. A técnica começou a ser usada bem depois de Jota Dangelo para marcar o intervalo entre as cenas. O efeito da iluminação, que faz brilhar determinados objetos, cria cenas originais. O destaque de 2024 foi a homenagem a Ziraldo, que morreu em abril deste ano. Em “Força do hábito”, cena que flerta com alguns filmes e peças de teatro, destaque para o elenco – Ana Lobo, Marcella Tavares, Maria Clara Fernandes, Sarah Esther e Nathália Estanislau –, que garantiram alguns dos melhores momentos da esquete.

 

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