Agnes Farkasvolgyi tem muita história para contar. Com quase 40 anos de cozinha, ela conhece temperos e sabores tão bem quanto os nomes e a importância das mulheres que são pilares da gastronomia em Belo Horizonte. Durante o encontro que marcou o lançamento do novo cardápio da Casa da Agnes, no Santo Antônio, a anfitriã se mostrou preocupada com o que considera esquecimento das grandes banqueteiras da capital mineira.
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“Ninguém fala de dona Catarina (do Buffet Catarina), de dona Maria José (mãe de Túlio Pires, que está à frente do Rullus), de dona Célia (do Buffet Célia Soutto Mayor), de dona Ângela (do Angela Buffet, mãe da Mariangela, do Mariangela Buffet), de dona Pichita (mãe de Cantídio Lanna), de Dadette (dona do bufê que levou seu nome)”, enumera. A chef destacou que elas foram “as primeiras cozinheiras poderosas desta cidade, que alimentaram gerações de festas e criaram impérios”. Para Agnes, não é justo não valorizar essas mulheres e o que elas fizeram.
• EAT ART
Antes da década de 1980, Belo Horizonte não tinha restaurante de gastronomia, lembra a chef. “Não existia isso. Quem é que fazia comida de luxo em Belo Horizonte? Eram as banqueteiras. Por que essas mulheres foram apagadas da história? Só porque nós, que somos chefs, aparecemos? Não é justo”, reforça, antecipando que pretende fazer uma coletânea das receitas mais amadas de cada uma delas. Será um e-book, com a possibilidade de virar livro. A pauta da homenagem corre junto ao projeto do livro comemorativo aos 20 anos dos jantares Eat Art assinados por Agnes, que é graduada em física e belas-artes pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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• TELAS COMESTÍVEIS
O primeiro jantar Eat Art foi realizado em 2005, na galeria de Celma Albuquerque. “Eram telas comestíveis. Frida Kahlo, Beatriz Milhazes, tudo para comer. Foi muito bacana”, relembra Agnes Farkasvolgyi. Durante o almoço com a imprensa e influenciadores, a chef revelou que faz um curso espanhol, online, de food design. Está encantada com o que está vendo e por encontrar pares, “o que aqui no Brasil não tem”. A mineira lembra que há interesse de empresas por artistas e chefs que trabalham com a interface de cozinha e arte. “Existe uma coisa que se chama educação corporativa, você pode inserir a cozinha dentro disso para obter uma série de resultados”, explica.
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• NAS REDES
Agnes, que durante a pandemia transmitiu lives diretamente de sua cozinha, voltou a gravar vídeos, postados em sua página no Instagram. “Fiquei tão exausta (durante a pandemia) que não consegui fazer mais. Mas existia uma demanda e resolvi voltar”. Ela reconhece que o trabalho para as redes sociais exige tempo e disposição. “Na semana de gravação, fico tão envolvida que não faço mais nada. Isso é uma coisa que me diverte”, afirma. Uma vez por mês, ela grava quatro dias seguidos de material com receitas e dicas, que vão ao ar por 20 dias. “Estou pegando minhas receitas antigas, os pratos que faço, uma imagem que me chama a atenção, e falo a respeito disso”, conta.
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• CEVICHE VEGANO
Entre as novidades do cardápio apresentado no almoço na Casa Agnes, ganhou destaque o ceviche de frutas verdes, lichia e coco. “Ele é vegano”, anunciou a chef. “As pessoas às vezes pegam o coco e perguntam: que peixe é este?”, disse, bem-humorada, explicando que manga, banana e “o maravilhoso caju” funcionam muito bem no ceviche. No meio da conversa, Agnes revelou uma de suas preferências: melancia. “Já comeram carpaccio de melancia com flor sal e azeite? Não precisa de mais nada. Pode colocar um queijinho Feta e fica muito, muito bom. De melão também. Gosto de azeite com picância”, ensinou.
• BOUQUET GARNI
Agnes Farkasvolgyi foi sócia de Karen Piroli no Bouquet Garni. Karen deixou a sociedade em 2016, e a saída dela levou à redução significativa do bufê, que na época tinha 110 funcionários. “Em 2019, cheguei a uns 30 funcionários, tamanho que para mim estava legal. No mesmo ano, achei a casa para onde me mudei em 2020, com 22 funcionários. Já vim com a intenção de trabalhar uma festa por dia, no máximo. Festas grandes, tipo casamento, só duas por mês. Antes, eu fazia seis, sete, oito, 10 por mês”. A Casa de Agnes funciona de terça-feira a sábado para almoço. À noite, só para eventos. Aliás, o fim de ano por lá está agitado, com uma festa atrás da outra.