De um lado, o Galpão, tradição em teatro de rua. Do outro, companhia reunindo atores pela primeira vez na formação de um grupo. Juntos, eles discutiram dúvidas e o papel político do teatro em grupo. O encontro foi realizado no Galpão Cine Horto, um dia antes do encerramento da turnê da peça "Os mambembes", que rodou cidades do Norte, Nordeste e terminou em 8 de dezembro, na Praça JK, em Belo Horizonte.

 


 

Cláudia Abreu, Deborah Evelyn, Julia Lemmertz, Leandro Santanna, Orã Figueiredo, Paulo Betti e o músico Caio Padilha apresentaram “Os mambembes", que contou com a direção de Emílio de Mello e Gustavo Guenzburger.

 

 

• Referência


Emílio, que ao lado de Cláudia Abreu pensou o projeto, considerou o encontro com o Galpão a realização de um desejo acalentado desde quando a ideia começou a ser desenhada. "Pensei em ligar para o pessoal e conversar com eles. Para nós todos, o Galpão é a referência do teatro de rua. O bate-papo coroou a nossa vontade de conversar com vocês", afirmou.

 

Sem a experiência da prática na rua, Emílio de Mello reconhece a importância do teatro para democratizar a cultura, levando produções para lugares sem espaço físico apropriado e para onde não há costume de ter apresentações.

 



 

• Domando um dragão


Julia Lemmertz compara estar na rua fazendo teatro à sensação de estar nua. "Tudo pode acontecer, muita coisa acontece, as pessoas conversando alto e entre si, excitadas com o acontecimento", enumera, para, em seguida, comparar a apresentação como se estivesse montada em um dragão com fogo pelas ventas, tentando domá-lo.

 


• Dor de barriga


A sensação de domar o dragão também é comum no elenco de uma companhia com tanta experiência, como é o Galpão. "É um dragão mesmo", afirmou Inês Peixoto, ao reiterar que na rua tudo pode acontecer. Ela cita o título de um dos livros da própria companhia mineira – "O rito e o risco" – para definir o que é estar em cena, na rua.

 

"Temos o ritual do teatro e o risco de entrar na arena onde pode acontecer muita coisa. Temos desespero, dor de barriga", afirma A atriz concorda com Emílio de Mello, reconhecendo que a grande importância da rua é mostrar que o teatro pode ser feito sem necessariamente que o município tenha uma edificação voltada para as artes cênicas.

 

 

• Para todos


Afinal, qual o caminho do teatro? Para Eduardo Moreira, do Galpão, o importante, neste momento, é fazer teatro para todos. "Explodir a bolha", acrescenta Emílio de Mello. O diretor da trupe carioca revelou que nunca teve afinidade com o teatro político engajado. Também não gosta do teatro didático, que ensina. "Hoje, isso não funciona mais", acredita. "O que ensina é o teatro de verdade, o teatro que leva o público a viajar, a pensar de uma maneira diferente o mundo. Que faz a criança parar de brincar para ver aquela cena; a senhora e o senhor que nunca viram teatro na vida pararem para dizer: 'Nossa, que história!'".

 

 


• Sorriso no rosto


Para Mello, não importa que as pessoas não saibam quem foi Tchecov ou Shakespeare. "O que importa é que ficaram vendo aquilo ali 1 hora e 20 minutos, e saíram com sorriso no rosto, pensando em alguma coisa. Falamos de teatro, não estamos falando de política, não estamos falando de meio ambiente." Ele frisou a importância de levar o teatro para todo mundo. "É preciso furar a bolha", reforça, avisando ser contra brigas ideológicas. "É mais interessante seduzir as pessoas do que chamá-las para a briga. Acredito no sorriso das pessoas encantadas pelo teatro, sejam elas de direita ou de esquerda, seja aquele com camisa do Brasil dizendo 'Bolsonaro eu te amo.' Temos que falar para todo mundo."

 

Os primos Thiaguinho e Cláudia Abreu

Acervo pessoal

 

• Em família


Com parentes em Belo Horizonte, Cláudia Abreu recebeu o primo Thiaguinho, logo após o espetáculo. Eles se conheceram há 10 anos, quando ela veio com a peça "Pluft, o fantasminha" ao Sesiminas. A prima sempre foi extremamente atenciosa e amorosa com o rapaz, que é formado em artes cênicas pela PUC, apresentou algumas peças sob a direção do diretor e professor Davi Lopes. Tecladista e pianista, Thiaguinho já fez apresentações em público.

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